Guia Litúrgico Pastoral II A Celebração Eucarística

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II - CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

“A celebração da missa, como ação de Cristo e do povo de Deus hierarquicamente ordenado, é o centro de toda a vida cristã tanto para a Igreja universal como local e também para a vida dos fiéis” (IGMR 16).
“É por isso de máxima conveniência dispor a celebração da Missa ou Ceia do Senhor de tal forma que os ministros e os fiéis, participando cada um conforme sua condição, recebam mais plenamente aqueles frutos que o Cristo Senhor quis prodigalizar, ao instituir o sacrifício eucarístico de seu corpo e sangue, confiando-o à sua dileta esposa, a Igreja, como memorial de sua paixão e ressurreição” (IGMR 17).
“Isto se conseguirá de modo adequado se, levando em conta a natureza e as circunstâncias de cada assembléia, toda a celebração for disposta de tal modo que leve os fiéis à participação consciente, ativa e plena do corpo e do espírito, animada pelo fervor da fé, da esperança e da caridade. Esta é a participação ardentemente desejada pela Igreja e exigida pela própria natureza da celebração. Ela constitui um direito e um dever do povo cristão em virtude do seu batismo” (IGMR 18).

1. A estrutura da missa

A natureza da eucaristia como Ceia do Senhor e o direito e dever de a assembléia nela participar ativa, consciente e plenamente exigem, antes de mais nada, que na missa se faça aquilo que Jesus fez na última ceia e que ele mandou fazer em sua memória - tomou o pão, deu graças, partiu o pão e o deu a seus discípulos, depois tomou o cálice, deu graças e o deu a seus discípulos - para assim celebrar sua entrega total ao Pai para a salvação do mundo.
Deve-se, portanto, respeitar a estrutura fundamental da celebração eucarística, conforme o exemplo e o mandato do Senhor. Ela nos é dada no rito da missa. Este, ao longo da história foi enriquecido e, em certas épocas, deturpado. O Concílio Vaticano II restaurou sua forma clássica. De fato, nós fazemos na missa o que Jesus fez na última ceia: Ele tomou o pão, na preparação das oferendas o pão e o vinho são levados ao altar; Jesus deu graças, nós rezamos a oração eucarística; Jesus partiu o pão, nós o fazemos também antes da comunhão e acompanhamos esta fração do pão com o canto do “Cordeiro de Deus”; ele deu o pão, os ministros dão o corpo e o sangue de Cristo na comunhão.
A preparação das oferendas não deve dar a impressão de já ser o oferecimento do sacrifício eucarístico ou de ser a parte mais importante da missa. A oração eucarística é o ponto culminante da missa e, pela dignidade e solenidade de sua realização, assim precisa aparecer. A fração do pão deve ser um gesto visível e significativo. Na comunhão, se dá o corpo de Cristo , se possível, se dê também o sangue do Senhor.
Não se saliente indevidamente os elementos que não pertencem à estrutura fundamental da missa, como adoração prolongada no centro da oração eucarística, depois das palavras de Jesus sobre o pão e o vinho; oração pela paz recitada por toda a assembléia; saudação da paz como confraternização geral de todos. Não se enfraqueça a força do Amém final da oração eucarística pela recitação em comum da doxologia, pois este Amém é a ratificação pela assembléia de toda a ação de graças e súplica que o sacerdote dirige a Deus, em nome de todos, na oração eucarística.
Evidentemente, a eucaristia não é uma refeição qualquer, mas a Ceia do Senhor, na qual fazemos memória do seu sacrifício da cruz, de sua morte e ressurreição. Como diz o nome “eucaristia”, ela é ação de graças e louvor. Anunciando a morte do Senhor, proclamando a sua ressurreição, celebramos a páscoa do Senhor, do Cristo todo, da cabeça e dos membros do corpo místico. Celebramos a nova e eterna aliança e a antecipação do banquete eterno do reino definitivo. Na celebração, Jesus está realmente presente não apenas nas espécies do pão e do vinho, mas também na assembléia, nos ministros, na Palavra proclamada, na oração e no canto, já que a eucaristia, como toda celebração litúrgica, é exercício do sacerdócio de Jesus Cristo, dele e de todos que pelo batismo participam do seu sacerdócio. E, como também o Concílio Vaticano II diz: tudo isso “pela força do Espírito Santo” (SC 6).
No Novo Testamento, encontramos vestígios de uma Liturgia da Palavra, que precede a própria ceia eucarística, sobretudo no caminho dos dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35) e em Trôade (cf. At 20, 7-12). Desde o segundo século, estas duas partes da missa – Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística -, que formam um único ato de culto, são claramente documentadas.
Os Ritos Iniciais e Finais da missa completam a estrutura da celebração eucarística. Eles não devem, no entanto, receber um peso indevido. Deve se ter cuidado também com silêncio ou canto ou oração meditativos depois da comunhão: eles não deveriam ser chamados de momento de “ação de graças”, porque ação de graças é a missa toda, mais explicitamente a oração eucarística.
O culto eucarístico, a oração individual ou comunitária diante do sacrário, a bênção do Santíssimo Sacramento, procissões, como a de Corpus Christi, são desdobramentos da celebração do mistério da eucaristia, que não devem ofuscar a natureza da eucaristia como celebração da memória do sacrifício de Jesus Cristo em forma de ceia. Por isso, tais devoções não devem ser inseridas na missa.

2. O centro da missa: memorial da Páscoa de Cristo

A aclamação memorial que segue à narrativa da instituição da eucaristia, também chamada aclamação anamnética, (“Anunciamos, Senhor, a vossa morte...”), juntamente com a anamnese que se lhe segue, expressa que na eucaristia se realiza o que Cristo ordenou na última ceia: o memorial de seu mistério pascal. A eucaristia é, em primeiro lugar, memorial da morte e ressurreição do Senhor sob o sinal do pão e do vinho dados em refeição, em ação de graças e súplica.
É preciso criar consciência da eucaristia como memorial do mistério pascal. Valorizar a teologia do mistério pascal, estudá-la melhor partindo dos ritos e mergulhar em sua mística e espiritualidade.
Quem preside, bem como as equipes de liturgia, deve ter claro todo o conteúdo teológico e espiritual dos ritos.
Nossa preocupação não deve ser somente intelectual para que o povo entenda, mas levar o povo a experimentar o mistério pascal, mostrando a ligação entre a fé e a vida (“Páscoa de Cristo na páscoa da gente, páscoa da gente na páscoa de Cristo” ) para que a eucaristia nos impulsione a dar a vida pelos irmãos e irmãs, como fez Cristo em sua morte e ressurreição.

3. A liturgia eucarística

O memorial do mistério pascal de Cristo, segundo a ordem do Senhor, se realiza “fazendo o que ele fez naquela ceia derradeira”: “Tomou o pão” (preparação dos dons), “pronunciou a bênção de ação de graças” (oração eucarística ou anáfora), “partiu o pão” (fração do pão) “e o deu a seus discípulos” (comunhão).

3.1. A oração eucarística

No centro desses gestos rituais, encontra-se a oração eucarística ou anáfora, a grande e solene prece de aliança, na qual recordamos celebrativamente a ação salvífica de Deus, por Cristo, no Espírito Santo e, confiados em tais maravilhas do Senhor, suplicamos que o Pai envie seu Espírito para que transforme o pão e o vinho no corpo sacramental de Cristo e transforme a nós, comungantes, no corpo eclesial do Ressuscitado.
A oração eucarística é oração do povo sacerdotal chamado a celebrar a aliança que Deus, seu parceiro, estabeleceu por meio da Páscoa de seu Filho. Faz-se necessário o conhecimento e o aprofundamento de seu sentido e de sua estrutura literárioteológica como confissão da fidelidade de Deus e da fragilidade humana. A oração eucarística é um todo, cuja unidade de estrutura e estilo próprio devem ser respeitados. Vale lembrar que apenas a oração eucarística I e III não têm prefácio próprio. A oração II admite troca de prefácio e, em certas circunstâncias (por exemplo, Quaresma e ocasiões penitenciais), também as orações sobre a reconciliação. Nas demais, prefácio e oração eucarística formam uma unidade inseparável.
A participação da assembléia é fundamental e é facilitada pelo canto da aclamação memorial (“Anunciamos, Senhor...” ), do amém final, do Santo e das outras intervenções. Essa participação não se restringe a essas aclamações, hinos e intervenções. Os fiéis aprendam também “a oferecer-se a si próprios ao oferecer juntamente com o sacerdote, e não só pelas mãos dele, a hóstia imaculada; que, dia após dia, por Cristo mediador, progridam na unidade com Deus e entre si para que, finalmente, Deus seja tudo em todos” (SC 48). l
Ao menos nos domingos e nos dias festivos, cante-se em tom de exultação a aclamação memorial. Evitem-se cantos e expressões devocionais (“Bendito, louvado seja”, “Deus está aqui”, “Eu te adoro, hóstia divina”, “Graças e louvores se dêem a todo momento” etc.).
O amém final, que merece a mesma exultação, é a confirmação solene do povo à prece que o ministro ordenado, em nome da Igreja inteira, elevou a Deus por Cristo, com Cristo, em Cristo, na unidade do Espírito Santo. Pelo menos aos domingos e dias de festa, ela merece ser cantada.
Compete a quem preside, pelo seu tom de voz, pela atitude orante, pelos gestos, pelo semblante e pela autenticidade, elevar ao Pai o louvor e a oferenda pascal de todo o povo sacerdotal, por Cristo, no Espírito.
A sensibilidade, a espiritualidade e a devida preparação de quem preside (evitando-se os subjetivismos) permite escolher o prefácio relacionado com o Evangelho do dia, como expressão da ligação entre as duas mesas, tal como se encontra, por exemplo, nos prefácios do Missal Romano nos domingos da Quaresma, acompanhando os evangelhos do lecionário do ano A.
Nem pelo tom da voz nem de qualquer outra maneira, se isole a narrativa da última ceia do resto da oração eucarística, como se fosse uma peça à parte.
Não convém se deter na elevação do pão e do cálice, já que é próprio da Oração Eucarística a ação de graças dirigida em adoração ao Pai.
A narração da instituição da eucaristia não é uma imitação da última ceia, por isso, não se parte o pão neste momento. A liturgia eucarística é fazer o que Jesus fez: tomou o pão e o vinho, deu graças, partiu o pão e o deu juntamente com o vinho (para comer e beber). O partir o pão, como Jesus fez, corresponde à fração do pão em vista da comunhão.

3.2. Ritos de comunhão

“Sendo a celebração eucarística a ceia pascal, convém que, segundo a ordem do Senhor, o seu Corpo e o seu Sangue sejam recebidos como alimento espiritual pelos fiéis devidamente preparados. Esta é a finalidade da fração e dos outros ritos de comunhão” (IGMR 80).
“Na oração do Senhor pede-se o pão de cada dia, que lembra para os cristãos antes de tudo o pão eucarístico, e pede-se a purificação dos pecados, a fim de que as coisas santas sejam verdadeiramente dadas aos santos” (IGMR 81).
No rito da paz, os fiéis imploram a paz e a unidade para a Igreja e para toda a família humana e exprimem mutuamente a caridade antes de participar do mesmo pão. Cuide-se, no entanto, para que o gesto da paz não obscureça o rito da fração do pão (cf. IGMR 82).
A fração do pão, nome dado à eucaristia, já nos tempos apostólicos, expressava a unidade dos que comungam no único pão e no único cálice. É um gesto profético de compromisso eclesial ético e social: quem come do pão que o Senhor reparte para nós compromete-se a repartir seu pão com os irmãos, sobretudo com os mais necessitados, e a se preocupar com estruturas sociais mais igualitárias entre classes sociais, povos e continentes.
A fração do pão seja uma ação ritual visível, acompanhada meditativamente pela assembléia com o canto do Cordeiro. A comunhão manifesta a unidade de todos, sendo sua fonte o corpo de Cristo “entregue” e o seu sangue “derramado” por nós, “por um Espírito eterno” (Hb 9,14). “Pela fração do pão e pela comunhão os fiéis, embora muitos, recebem o Corpo e o Sangue do Senhor de um só pão e de um só cálice, do mesmo modo como os Apóstolos, das mãos do próprio Cristo” (IGMR 72,3). O canto da comunhão, que pode retomar o evangelho do dia, garante a unidade das duas mesas (palavra e eucaristia). Cantos de adoração ao Santíssimo e cantos de cunho individualista ou temático não expressam a densidade desse momento.
 “Tomai e comei, tomai e bebei” foi o mandamento deixado por Cristo na ceia: tomar o pão e beber do cálice.
A verdade do sinal exige que o pão eucarístico seja reconhecido como alimento, e que, portanto, sempre que possível, o pão, embora ázimo, seja preparado de tal forma que possa ser repartido entre todos (cf. IGMR 320 e 321).
Da mesma forma, valorize-se, na medida do possível, a comunhão do cálice, sob a espécie de vinho, para todos os fiéis, pois assim se “ressalta mais perfeitamente o sinal do banquete eucarístico, e expressa-se com mais clareza a vontade segundo a qual a nova e eterna Aliança foi selada no sangue do Senhor, e, ainda, a relação entre banquete eucarístico e o banquete escatológico no reino do Pai (cf. Mt 27-29)” .
Valem todos os esforços para garantir aos comungantes o santo alimento oferecido na mesma celebração, deixando a reserva eucarística para a finalidade a que se destina, a saber, a comunhão aos enfermos e o culto eucarístico. l Privilegie-se o silêncio como expressão de intimidade pessoal e comunitária com o mistério.

3.3. Preparação das oferendas

A preparação dos dons tem uma finalidade prática, expressa na procissão do pão e do vinho trazidos ao altar. Segundo o costume das refeições judaicas, se bendiz a Deus pelo alimento básico, o pão, e pela bebida mais significativa, o vinho.

O pão e o vinho são sinais deixados pelo Senhor. Para maior veracidade do sinal, o pão apresentado deveria parecer pão e o vinho deveria ser para todos. A preparação da mesa, feita com simplicidade, deve realçar o essencial: o pão em um único prato (sem patena à parte para o padre), o vinho em um único cálice ou vários cálices (cf. IGMR 207).

Sejam trazidos na procissão apenas pão e vinho, bem como alimentos a serem distribuídos entre os pobres e dinheiro para as necessidades dos pobres e da comunidade. Contudo, em circunstâncias especiais “a procissão tornar-se-á mais expressiva se levar também para junto do altar ofertas simbólicas alusivas à comemoração realizada naquele dia ou a algum aspecto da vida da comunidade. Os cristãos, outrora, para expressar a sua participação no sacrifício eucarístico, eram muito sensíveis à oferta do pão, do vinho e de dádivas para os pobres” .

4. A liturgia da Palavra

Na liturgia da Palavra, Deus chama e propõe as condições da aliança, o povo as ouve e aceita. Na liturgia Eucarística, a aliança é “selada” no sangue do Cordeiro. Agora o Cristo, em seu mistério pascal (Evangelho), é a chave de leitura da revelação bíblica (demais leituras) e dos acontecimentos atuais (a vida que trazemos para a eucaristia).
Quando, na missa, lemos e interpretamos as Sagradas Escrituras, é o próprio Cristo que fala (cf. SC 7). A força sacramental da Palavra na liturgia faz acontecer aquilo que anuncia; realiza nossa transformação pascal. Na liturgia da Palavra, Cristo está realmente presente e atuante no Espírito Santo.
Daí decorre a exigência para os leitores, ainda maior para quem proclama o Evangelho, de ter uma atitude espiritual de quem está sendo porta-voz de Deus que fala ao seu povo.
À preparação espiritual se alia a preparação técnica: postura do corpo, tom de voz, semblante, a maneira de aproximar-se da mesa da palavra, as vestes.
A função do salmista é de suma importância. Sua função ministerial corresponde à função dos leitores e leitoras, pois o salmo é também Palavra de Deus posta em nossa boca para respondermos à sua revelação. Por isso, o salmo deve ser proclamado do ambão e, se possível, cantado.
A homilia (conversa familiar) interpreta as leituras bíblicas dentro da realidade atual, tem o mistério de Cristo como centro do anúncio e faz ligação com a liturgia eucarística (dimensão mistagógica) e com a vida (compromisso e missão).
Em todo o rito, a Palavra é realçada também por momentos de silêncio, por exemplo, após as leituras, o salmo e a homilia, fortalecendo a atitude de acolhida à Palavra. No silêncio, o Espírito torna fecunda a Palavra no coração da comunidade.
A mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia formam um só ato de culto, portanto há de se manter um equilíbrio de tempo entre as duas. Demasiada atenção dada à procissão de entrada e a outras procissões, bem como homilias prolongadas, introduções às leituras parecendo comentários ou pequenas homilias prejudicam o rito eucarístico que, em conseqüência, passa a ser feito de forma apressada.
Priorize-se a entrada solene do Evangeliário na procissão inicial. Na falta deste, embora não mereçam a mesma solenidade, podem ser trazidos o Lecionário ou a Bíblia. A entrada com a Bíblia se faça só em ocasiões bem especiais.
“Na oração universal ou oração dos fiéis, o povo responde de certo modo à palavra de Deus acolhida na fé e exercendo a sua função sacerdotal, eleva preces a Deus pela salvação de todos. Convém que normalmente se faça esta oração nas Missas com o povo, de tal sorte que se reze pela Santa Igreja, pelos governantes, pelos que sofrem necessidades, por todos os seres humanos e pela salvação do mundo inteiro.
No entanto, em alguma celebração especial, tal como Confirmação, Matrimônio, Exéquias, as intenções podem referir-se mais estreitamente àquelas circunstâncias.
“Cabe ao sacerdote celebrante, da cadeira, dirigir a oração. Ele a introduz com breve exortação, convidando os fiéis a rezarem e depois a conclui. As intenções propostas sejam sóbrias, compostas por sábia liberdade e breves palavras e expressem a oração de toda a comunidade. Normalmente as intenções são proferidas, do ambão ou de outro lugar apropriado, pelo diácono, pelo cantor, pelo leitor ou por um fiel leigo. O povo, de pé, exprime a sua súplica, seja por uma invocação comum após as intenções proferidas, seja por uma oração em silêncio”(IGMR 71).

5. Ritos Iniciais

A eucaristia congrega a comunidade e a envia, renovada, ao mundo, como povo convocado por Deus.
Os ritos iniciais e os ritos finais expressam uma eclesiologia: somos povo convocado por Deus, reunido no amor de Cristo, na força do Espírito Santo para sermos enviados em missão. Podemos assim celebrar a memória do mistério pascal e nos tornar, cada vez mais, o que como batizados nunca deixamos de ser: o corpo eclesial de Cristo, chamado a ser na sociedade o sacramento da unidade de todo o gênero humano (cf. LG 1) .
 Os ritos iniciais fazem com que os fiéis, reunindo-se em assembléia, constituam uma comunhão em Cristo e se disponham a ouvir atentamente a palavra de Deus e a celebrar dignamente o sacramento da unidade (cf. IGMR 46).
Precedida pela procissão de entrada, que é acompanhada do canto de abertura, a saudação inicial ressalta que é Deus que nos convoca. Só depois desta saudação convém situar a celebração, no tempo ou festa litúrgica e na realidade da comunidade com a recordação da vida, especialmente em comunidades menores, na quais os fiéis podem efetivamente recordar em voz alta os acontecimentos.
Evitem-se os costumeiros “comentários iniciais”.
A recordação da vida é o espaço ideal para manifestar os fatos marcantes como aniversários, bodas, momentos de dor e de luto, missas de 7o e 30o dia e, principalmente, os acontecimentos importantes que ocorreram durante a semana que passou, na comunidade, na cidade, na região e no mundo.
O lugar próprio da lembrança dos falecidos é nas intercessões da oração eucarística (memento dos mortos). Não se exclui a possibilidade de rezar pelos defuntos também na oração dos fiéis, especialmente em missas pelos falecidos. Deve-se evitar fazer a leitura de uma lista de intenções antes da missa, menos ainda antes da oração do dia (coleta), após o “oremos”.
O ato penitencial é um apresentar-se pequeno diante da grandeza de Deus, reconhecendo sua misericórdia e nossa indignidade. Não deve ser confundido com o sacramento da penitência. Evitem-se, pois, as descrições de pecados.
A aspersão com água é um rito próprio do domingo, Dia do Senhor, páscoa semanal. Este rito significativo substitui o ato penitencial. Recorda o nosso batismo, que nos inseriu no Mistério Pascal e que nos fez morrer para o pecado e renascer para uma vida nova. Acentua nossa identidade de povo sacerdotal.
O Glória não é um hino trinitário, mas cristológico. Deve-se estar atento a este fato na escolha dos cantos para o momento do Glória. Ideal seria cantar o texto mesmo, tal como nos foi transmitido desde a antiguidade.
A oração do dia (coleta) é a súplica do povo sacerdotal que se abre ao diálogo da aliança e ao rito eucarístico. É uma oração presidencial, precedida de um silêncio significativo, que integra a oração silenciosa da assembléia à do ministro que preside.

6 Ritos Finais

Os ritos finais têm uma estreita relação com os ritos iniciais. Pelos ritos iniciais somos convocados para estar com o Senhor e nos finais somos enviados em missão (cf. Mc 3,14), para sermos, entre todos os povos e culturas, sacramento de unidade e da salvação de todo o gênero humano (cf. LG 1), mensageiros de solidariedade, paz, justiça, transformação pascal, vida, salvação e aliança.
Como membros da comunidade, devemos estar cientes e participar das iniciativas tomadas pelas pastorais e outros grupos da comunidade. Daí a importância das comunicações feitas neste momento. Sejam elas objetivas, claras e devidamente motivadas, para maior envolvimento da comunidade.
Na bênção em nome da Trindade, leve-se em conta as possibilidades que o missal oferece (bênçãos solenes, oração sobre o povo). Ela expressa que o mistério celebrado na ação ritual se prolonga na vida cotidiana do povo em todas as suas dimensões.
Para as palavras finais da despedida o missal apresenta várias alternativas. Ressaltese aí a graça do Senhor que nos acompanha no nosso dia-a-dia e o culto verdadeiro que o cristão exerce por sua própria vida (cf. Rm 12,1-2). Com a devida preparação prévia, a despedida pode ser relacionada com o Evangelho que foi proclamado, desde que isto não se torne mais uma pseudo-homilia. O rito termina com a aclamação “graças a Deus” da assembléia, que significa: exultamos por Ele nos acompanhar com sua graça na missão que nos confiou.

7. A comunidade toda celebra a eucaristia sob a presidência do ministro ordenado

Desde o primeiro momento da celebração (ritos iniciais), a Igreja aparece visivelmente nas suas características essenciais: povo convocado por Deus no Espírito Santo, sob a presidência do ministro ordenado, reunido em torno das duas mesas: a da Palavra, em que se proclama a ação salvífica de Deus, e a da eucaristia, em que se realiza o memorial do mistério pascal de Cristo. O celebrante principal da eucaristia é o próprio Cristo. Ele está presente no ministro ordenado, sacramento do Cristo-cabeça, e na assembléia, seu corpo eclesial. A comunidade toda – povo e ministro ordenado – celebra a eucaristia, cada um na sua função específica que lhe foi conferida pelos sacramentos: batismo, crisma e ordem.
É preciso, por isso, na formação litúrgica realçar que a Igreja procura, solícita e cuidadosa, que os cristãos não entrem neste mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, ativa e piedosamente e, ao oferecer juntamente com o sacerdote a hóstia imaculada, aprendam a oferecer-se a si mesmos como oferta agradável a Deus (cf. SC 48).
Por isso:
há que se despertar a consciência de que a eucaristia é uma ação comunitária e eclesial de caráter vivencial irrenunciável;
há que se descobrir a celebração da eucaristia como fonte de espiritualidade;
enquanto não formamos uma comunidade de fé, não estamos atingindo a finalidade da eucaristia e, portanto, não alcançamos nosso objetivo missionário como corpo de Cristo; todos são “concelebrantes”; os padres podem ser “co-presidentes”.
É preciso ajudar o povo a reivindicar o direito de ter a eucaristia por ser uma comunidade eclesial.

8. Missas e orações para diversas circunstâncias

Como a liturgia dos Sacramentos e Sacramentais obtém para os fiéis, devidamente preparados, que quase todos os acontecimentos da vida sejam santificados pela graça divina que flui do mistério pascal (cf. SC, 61) e como a Eucaristia é o sacramento dos sacramentos, o Missal fornece formulários de Missas e orações que, nas diversas ocasiões da vida cristã, podem ser usados pelas necessidades do mundo inteiro, da Igreja universal e da Igreja local.
Tendo em vista a mais ampla faculdade de escolher leituras e orações, convém que as Missas para as diversas circunstâncias sejam empregadas moderadamente, isto é, quando a oportunidade o exigir. Em todas as Missas para as diversas circunstâncias, a não ser que se disponha de outro modo, é permitido usar as leituras do respectivo dia da semana, bem como seus cânticos interlecionais, se combinarem com a celebração (cf. IGMR 368-370; 376).

As Missas para as diversas circunstâncias são de três tipos.

8.1. Missas rituais
As Missas rituais são proibidas nos domingos do Advento, da Quaresma e da Páscoa, nas solenidades, nos dias da oitava da Páscoa, na Comemoração de todos os Fiéis Defuntos, na Quarta-feira de Cinzas e Semana Santa, observando-se, além disso, as normas dos livros rituais e das próprias Missas (cf. IGMR 372). O matrimônio pode ser celebrado dentro da Missa todos os dias do ano, exceto no Tríduo Pascal, Natal, Epifania, Ascensão, Pentecostes, Corpo e Sangue de Cristo ou outras solenidades de preceito. Nos demais domingos e solenidades, pode haver celebração do matrimônio dentro da Missa, usando-se o formulário da Missa do dia e acrescentando-se a bênção nupcial e, se for oportuno, a fórmula apropriada para a bênção final sobre os noivos. Nessas ocasiões, pode-se proclamar uma das leituras previstas para a celebração do matrimônio. Nos domingos do Tempo do Natal ou durante o ano, se a missa em que o matrimônio é celebrado não coincide com a missa da comunidade paroquial, pode-se usar, na íntegra, o formulário da Missa do matrimônio. Se o matrimônio for celebrado no Tempo do Advento ou no da Quaresma, ou em outros dias de penitência, o pároco previna os noivos acerca do caráter penitencial desses tempos litúrgicos.

8.2.Missas e orações para diversas necessidades

Ao ocorrer uma necessidade mais grave ou por utilidade pastoral, pode-se celebrar em qualquer dia a Missa conveniente com ordem ou permissão do Ordinário do lugar, exceto nas solenidades, nos domingos do Advento, da Quaresma e da Páscoa, nos dias da oitava da Páscoa, na Comemoração de todos os Fiéis Defuntos, na Quarta-feira de Cinzas e na Semana Santa. Quando ocorre uma memória obrigatória ou nos dias de semana do Advento até dia 16 de dezembro; nos dias do Tempo de Natal desde o dia 02 de janeiro, e nos dias do Tempo pascal depois da oitava da Páscoa, de per si são proibidas as Missas para diversas circunstâncias e votivas.
Se, porém, verdadeira necessidade ou utilidade pastoral o exigirem poderão ser usadas na celebração com povo as Missas que correspondam a tal necessidade ou utilidade, a juízo do reitor da igreja ou do próprio sacerdote celebrante (cf. IGMR 373 e 374).

8.3. Missas votivas

Para favorecer a piedade dos fiéis, pode-se celebrar, durante o ano, nos dias de semana em que ocorra uma memória facultativa ou se celebre o Ofício do dia de semana, as Missas votivas sobre os mistérios do Senhor ou para honrar a Bem-aventurada Virgem Maria ou algum Santo (cf. IGMR 375).

Missa votiva do Sagrado Coração de Jesus, na 1ª sexta-feira do mês.

A Missa votiva do Sagrado Coração de Jesus, na 1ª sexta-feira de cada mês, é regida pelas normas gerais das Missas votivas. Portanto, ela é permitida:
1. durante o Tempo Comum, também quando ocorre uma memória facultativa;
2. se verdadeira necessidade ou utilidade pastoral o exigirem, na celebração com o povo, também quando ocorre uma memória obrigatória e em dia de semana do Advento, do Tempo de Natal, Tempo da Quaresma e do Tempo Pascal depois da oitava da Páscoa.

Missa votiva no aniversário do Papa, do Bispo e da ordenação sacerdotal

É de toda conveniência que, nestes aniversários, se faça uma menção especial a eles, na oração dos fiéis. Para maior utilidade dos fiéis, pode ser celebrada a Missa desses aniversários, observando-se as normas para Missas em diversas circunstâncias.

9. Missas pelos fiéis defuntos

A Igreja celebra o sacrifício eucarístico da Páscoa de Cristo, intercedendo pelos fiéis defuntos, a fim de que, pela comunhão de todos os membros de Cristo entre si, o que obtém para uns o socorro espiritual, traga aos outros a consolação da esperança (cf. IGMR 379).
“Entre as Missas pelos fiéis defuntos, ocupa o primeiro lugar a Missa das exéquias, que pode ser celebrada todos os dias, exceto nas solenidades de preceito, na Quinta-feira Santa, no Tríduo pascal e nos domingos do Advento, da Quaresma e da Páscoa”(IGMR 380).
“As outras Missas pelos fiéis defuntos, ou Missas `cotidianas`, podem ser celebradas nos dias de semana do Tempo comum, quando ocorre uma memória facultativa ou é rezado o Ofício do dia de semana, contanto que realmente sejam celebradas em intenção dos fiéis defuntos”(IGMR 381). À missa das exéquias podemos equiparar a missa de 7º dia.
“A Missa pelos fiéis defuntos, ao receber-se a notícia da morte, ou por ocasião da sepultura definitiva, ou no dia do primeiro aniversário, pode ser celebrada também nos dias dentro da oitava de Natal, nos dias em que ocorrer uma memória obrigatória ou num dia de semana, exceto Quarta-feira de Cinzas e na Semana Santa”(IGMR 382).
“Nas Missas exequiais haja, normalmente, uma breve homilia, excluindo-se, no entanto, qualquer tipo de elogio fúnebre”(IGMR 382). Recomenda-se também a homilia nas demais Missas pelos fiéis defuntos celebradas com o povo.
“Se a Missa exequial é imediatamente seguida pelo rito dos funerais, terminada a oração depois da comunhão e omitidos os ritos finais, realiza-se a última encomendação ou despedida. Esse rito é celebrado apenas quando estiver presente o corpo” (IGMR 384).
“Na organização da escolha das partes da Missa pelos fiéis defuntos, principalmente da Missa exequial, que podem variar (por exemplo, orações, leituras e oração universal), convém levar em conta, por motivos pastorais, as condições do falecido, de sua família e dos presentes”(IGMR 385).
“Além disso, os pastores levem especialmente em conta aqueles que por ocasião das exéquias comparecem às celebrações litúrgicas e escutam o Evangelho, tanto os nãocatólicos, como católicos que nunca ou raramente participam da Eucaristia, ou parecem ter perdido a fé, pois os sacerdotes são ministros do Evangelho de Cristo para todos” (IGM 385).

10. Missas com presença de vários bispos e/ou presbíteros

Na Missa em que vários presbíteros participam, todos agem em virtude do mesmo sacerdócio e na pessoa do mesmo Sumo Sacerdote, com uma única vontade e com uma única voz. Numa única ação sacramental, eles realizam e oferecem o único sacrifício e participam dele. Desta única celebração, participam também os fiéis, consciente e ativamente, cada um da maneira que lhe é própria. Assim se manifesta, de modo vivo, sobretudo quando o Bispo preside, a Igreja em sua unidade, o único altar, com seus ministros e seu povo (Ecclesiae semper, n. 8 e 9). A concelebração manifesta e fortalece os laços fraternos entre os presbíteros, pois em virtude da sua ordenação e Missa comum, eles estão unidos numa fraternidade bem íntima (Eucharisticum Mysterium, n. 47).
Também na Missa concelebrada, cada um faça tudo e somente aquilo que lhe compete pela natureza das coisas e conforme as normas litúrgicas (cf. SC 28). Aqueles que foram ordenados para presidir as celebrações litúrgicas exercem colegialmente o ministério da presidência. Igualmente, os outros participantes da celebração contribuem com os serviços que lhes são próprios. Por isso, devem-se exercer na Missa concelebrada, na medida do possível, os ministérios do diácono, do leitor, do cantor e dos ministrantes. Para que haja verdadeira partilha do pão consagrado, convém preparar partículas grandes de modo a haver verdadeira fração do pão.
Não é licito ao sacerdote celebrar mais de uma vez ao dia, exceto nos casos em que, de acordo com o direito, é lícito celebrar ou concelebrar a Eucaristia mais vezes no mesmo dia.
Se houver falta de sacerdotes, o Ordinário local pode permitir que, por justa causa, os sacerdotes celebrem duas vezes ao dia e até mesmo três vezes nos domingos e festas de preceito, se as necessidades pastorais o exigirem.
O sacerdote que celebra mais Missas no mesmo dia pode aplicar cada uma delas segundo a intenção pela qual foi oferecida a espórtula, mas com a condição de reter para si a espórtula de uma só Missa, excetuando o dia do Natal do Senhor, e entregar as outras para os fins determinados pelo Ordinário, admitindo-se alguma retribuição por título extrínseco.
O sacerdote que concelebrar no mesmo dia uma segunda Missa, por nenhum título, pode receber espórtula por ela (cf. cân. 905 e 951).

11. Orientações litúrgico-pastorais

11.1. Aspersão do povo nos domingos

O rito da bênção e aspersão de água benta pode ser feito, em todas as igrejas e oratórios, em todas as missas de domingo, especialmente dos domingos da Páscoa, mesmo nas que se antecipam em horas vespertinas do sábado. Este rito substitui o ato penitencial que se realiza no início da missa.

11.2. Pão para a celebração da Eucaristia

A verdade do sinal exige que a matéria da celebração eucarística pareça realmente um alimento. Convém, portanto, que, embora ázimo e com a forma tradicional, seja o pão eucarístico de tal modo preparado, que o sacerdote, na Missa com o povo, possa de fato partir a hóstia em diversas partes e distribuí-las ao menos a alguns fiéis. Não se excluem, porém, as hóstias pequenas, quando assim o exigirem o número de comungantes e outras razões pastorais. O gesto, porém, da fração do pão, que por si só designava a Eucaristia nos tempos apostólicos, manifestará mais claramente o valor e a importância do sinal da unidade de todos num só pão e da caridade fraterna pelo fato de um único pão ser repartido entre os irmãos (cf. IGMR 321).

11.3. Comunhão dos fiéis

Quem já recebeu a santíssima Eucaristia pode recebê-la uma segunda vez no mesmo dia, somente dentro da celebração eucarística em que participa (CDC, cân. 917;. Mesmo que já tenham comungado nesse dia, recomenda-se vivamente que comunguem de novo aqueles que vierem a ficar em perigo de morte (CDC, cân 921, 2). Recomenda-se também que os fiéis recebam a sagrada comunhão na própria celebração eucarística; seja-lhes, porém, administrada fora da Missa quando a pedem por justa causa, observando-se os ritos litúrgicos (CDC, cân. 918).
“É muito recomendável que os fiéis recebam o Corpo do Senhor em hóstias consagradas na mesma Missa e participem do cálice nos casos previstos, para que, também através dos sinais, a comunhão se manifeste mais claramente como participação no Sacrifício celebrado” (IGMR 85).

11.4. Comunhão sob as duas espécies

“A Comunhão realiza mais plenamente o seu aspecto de sinal, quando sob as duas espécies. Sob esta forma se manifesta mais perfeitamente o sinal do banquete eucarístico e se exprime, de modo mais claro, a vontade divina de realizar a nova e eterna Aliança no Sangue do Senhor, assim como a relação entre o banquete eucarístico e o banquete escatológico no Reino do Pai” (IGMR 281).
Além dos casos previstos nos livros rituais, a Comunhão sob as duas espécies é permitida nos seguintes casos:
a) aos sacerdotes que não podem celebrar ou concelebrar o santo sacrifício;
b) ao diácono e a todos que exercem algum ofício na Missa;
c) aos membros das comunidades na Missa conventual ou na Missa chamada “da comunidade”, aos alunos dos Seminários, a todos os que fazem exercícios espirituais ou que participam de alguma reunião espiritual ou pastoral.
O Bispo diocesano pode baixar normas a respeito da Comunhão sob as duas espécies para a sua diocese, a serem observadas inclusive nas igrejas dos religiosos e nos pequenos grupos. Ao mesmo Bispo se concede a faculdade de permitir a Comunhão sob as duas espécies, sempre que isso parecer oportuno ao sacerdote a quem, como pastor próprio, a comunidade está confiada, contanto que os fiéis tenham boa formação a respeito e esteja excluído todo perigo de profanação do Sacramento, ou o rito se torne mais difícil, por causa do número de participantes ou por outro motivo.

A Comunhão sob as duas espécies pode ocorrer nos seguintes casos:

1. a todos os membros dos Institutos religiosos e seculares, masculinos e femininos e a todos os membros das casas de formação sacerdotal ou religiosa, quando participarem da Missa da comunidade;
2. a todos os participantes da missa da comunidade por ocasião de um encontro de oração ou de uma reunião pastoral;
3. a todos os participantes em Missas que já comportam para alguns dos presentes a comunhão sob as duas espécies, conforme os Princípios e Normas para uso do Missal Romano:
a. quando há uma Missa de batismo de adulto, crisma ou admissão na comunhão da Igreja;
b. quando há casamento na Missa;
c. na ordenação de diácono;
d. na bênção da Abadessa, na consagração das Virgens, na primeira profissão religiosa, na renovação da mesma, na profissão perpétua, quando feitas durante a Missa;
e. na Missa de instituição de ministérios, de envio de missionários leigos e quando se dá na Missa qualquer missão eclesiástica;
f. na administração do viático, quando a Missa é celebrada em casa;
g. quando o diácono e os ministros comungam na Missa;
h. havendo concelebração;
i. quando um sacerdote presente comunga na Missa;
j. nos exercícios espirituais e nas reuniões pastorais;
l. nas Missas de jubileu de sacerdócio, de casamento ou de profissão religiosa;
m. na primeira Missa de um neo-sacerdote;
n. nas Missas conventuais ou de uma “Comunidade”;

4. Na ocasião de celebrações particularmente expressivas do sentido da comunidade cristã reunida em torno do altar (cf. IGMR, 283).

11.5. Comunhão na mão

No dia 03 de abril de 1985, a Congregação do Culto Divino enviou notificação sobre a Comunhão na mão (Prot. n. 720/85).
1. A comunhão na mão deve manifestar, tanto como a comunhão recebida na boca, o respeito pela presença real de Cristo na Eucaristia.
2. De acordo com os ensinamentos dos Santos Padres, insista-se no “Amém” que o fiel pronuncia como resposta à fórmula do ministro: “O Corpo de Cristo”. O amém deve ser uma afirmação de fé.
3. O fiel que receber a comunhão a leva à boca, ficando com o rosto voltado para o altar, antes de regressar ao seu lugar.
4. É da Igreja que o fiel recebe a Eucaristia, por isso deve recebê-la sempre do ministro que distribui a comunhão e não se servir a si mesmo.
5. Recomenda-se a todos, em particular às crianças, a limpeza das mãos, como sinal de respeito para com a Eucaristia.
6. Recomenda-se vigiar para que pequenos fragmentos do pão eucarístico não se percam.
7. Jamais se obrigará algum fiel a adotar a prática da comunhão na mão. Deixar-seá a liberdade de receber a comunhão na mão ou na boca, em pé ou de joelhos.

11.6. Jejum eucarístico

Quem vai receber a santíssima Eucaristia abstenha-se de ingerir qualquer comida ou bebida, excetuando-se somente água e remédio, no espaço de, ao menos, uma hora antes da sagrada comunhão.
O sacerdote que no mesmo dia celebra duas ou três vezes a santíssima Eucaristia pode tomar alguma coisa antes da segunda ou terceira celebração, mesmo que não haja o espaço de uma hora.
Pessoas idosas e doentes, bem como as que cuidam delas, podem receber a santíssima Eucaristia, mesmo que tenham tomado alguma coisa na hora que a antecede (cân. 919).

11.7. Aplicação da missa pelo povo

Os pastores de almas devem aplicar a missa pelo povo que lhes foi confiado, todos os domingos e nas outras festas de preceito de sua Diocese; mas quem estiver legitimamente impedido de fazê-lo, aplique-a nesses dias por intermédio de outro ou pessoalmente em outros dias. O sacerdote a quem estiverem confiadas várias paróquias, também a título de administração, satisfaz à obrigação aplicando uma só missa por todo o povo que lhe está confiado. Quem não tiver cumprido esta obrigação aplique, quanto antes, tantas missas pelo povo quantas tiver omitido (CDC, cân. 388 a 534; cf. câns. 914, 427 # 1, 540 # 1).

11.8. Adoração eucarística

11.8.1. O culto eucarístico fora da missa nasce da celebração da Eucaristia.

A adoração eucarística, pessoal ou comunitária, deve brotar da celebração do memorial da Páscoa do Senhor e a ele conduzir. Essa prática orante alcança seu maior significado quando está em sintonia com o que a Eucaristia é e realiza: a Aliança de Deus com o seu povo; a construção da Igreja – “escola e casa de comunhão”. No dizer de Paulo VI, essa relação pessoal com o Senhor favorece o contínuo crescimento na fé e prolonga a graça do sacrifício eucarístico. Numa espiritualidade eucarística renovada, a adoração eucarística está em estreita sintonia com o mistério pascal e com a participação na Ceia do Senhor.

11.8.2. “Nós adoramos o que conhecemos” (Jo 14,22)

O mistério eucarístico é o maior e o mais expressivo dos sinais da fé. Guiada pelo Espírito Santo, a Igreja expressa sua fé na presença de Jesus na Eucaristia, conservando o pão eucarístico para ser levado aos doentes, aos moribundos e para receber a adoração que só é devida a Deus . “Ninguém coma dessa carne sem primeiro adorar...; não só não pecamos adorando-a, mas pecaríamos se não a adorássemos!”, já dizia Santo Agostinho . O rito do “fermento” que consistia na prática de levar uma porção do pão consagrado a outra igreja para ser colocado no cálice, antes da comunhão, testemunha a fé da Igreja na presença permanente do Senhor. Os bispos enviavam o “fermento” aos seus presbíteros ou a outros bispos em sinal de unidade.
Usava-se a palavra fermento para indicar que a Eucaristia deve ser o fermento da comunhão e da unidade. Fermento que transforma os cristãos, levando-os a formar o único Corpo de Cristo. Diante da presença do Senhor, podemos pouco a pouco assimilar o que Ele nos mandou celebrar em sua memória: “Isto é meu corpo entregue por vós; isto é meu sangue derramado por vós.” Somente um coração humilde pode beneficiar-se dessa presença de comunhão.

Não podendo vivenciar e assimilar, no contexto da celebração, todos os aspectos da Ceia do Senhor, quem se coloca em oração silenciosa diante da Eucaristia retoma as diversas partes da ação litúrgica, por exemplo o prefácio, a oração eucarística, a oração do dia ou a oração após a comunhão, as leituras proclamadas na liturgia da Palavra. Ou então, repete no silêncio do seu coração: “Eis o mistério da fé”; “Felizes os convidados para a Ceia do Senhor”; “Ele está no meio de nós!”; “Demos graças ao Senhor nosso Deus!” A adoração a Jesus no Santíssimo Sacramento leva “os verdadeiros adoradores” a uma profunda comunhão com o Pai, pelo Filho, no Espírito que ora em seus corações. Ao contemplar o Pão vivo que desceu do céu para a vida do mundo, sentimos toda a força da expressão: por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós Deus Pai todo-poderoso, toda honra e toda glória, agora e para sempre!

11.8.3 A exposição do Santíssimo Sacramento

A exposição do Santíssimo Sacramento tem como finalidade facilitar a contemplação do mistério eucarístico e levar os fiéis a reconhecer na Santíssima Eucaristia “a maravilhosa presença de Cristo, convidando-os à comunhão de coração que atinge o seu ponto alto na comunhão sacramental. Portanto, fomenta de modo excelente o culto em espírito e verdade que lhe é devido .”

A exposição prolongada do Santíssimo Sacramento

Nas igrejas em que se conserva o Santíssimo Sacramento, recomenda-se realizar cada ano uma exposição solene.

Durante a exposição do Santíssimo proíbe-se, no mesmo recinto, a celebração da Eucaristia.
Se a exposição do Santíssimo se prolongar durante um ou vários dias sucessivos, ela será interrompida para a celebração eucarística.
Não havendo número suficiente de adoradores, o Santíssimo Sacramento será recolhido ao tabernáculo. Essa reposição do Santíssimo não deverá ser feita mais de duas vezes. Ela pode ser feita de forma discreta, isto é, sem cantos e preces.

A exposição breve

Proíbe-se a exposição do Santíssimo somente para dar a bênção depois da missa . l As exposições breves do Santíssimo devem organizar-se de tal maneira que haja tempo conveniente para a escuta da Palavra, cânticos, preces e momentos de silêncio .

O ministro da exposição

O padre ou o diácono é o ministro ordinário da exposição do Santíssimo Sacramento. Para esta função deverão estar revestidos de túnica e estola. No final da adoração, são eles que dão a bênção, usando a capa e o véu de ombros de cor branca.
Os acólitos e Ministros extraordinários da Sagrada Comunhão podem expor e repor o Santíssimo, porém não lhes é facultado dar a bênção aos fiéis. O bispo pode conceder a faculdade de expor o Santíssimo a outras pessoas .

Ambiente adequado

A exposição se faz sobre o altar, evitando o uso de tronos. O número de velas não deve ultrapassar o daquelas que se acendem na missa.
É preferível que flores e símbolos que recordam a Eucaristia sejam colocados, discretamente, ao lado do altar.
Para que se perceba uma melhor relação entre a mesa da Palavra e a mesa eucarística, recomenda-se que o Lecionário esteja visível.
Não havendo muitas pessoas para a adoração, é preferível que se faça a exposição na Capela do Santíssimo.
Cuide-se para que haja bíblias disponíveis para os que fizerem a sua adoração individualmente.
À entrada do recinto da adoração, pode haver um quadro no qual estejam afixadas as intenções em favor da comunidade ou recomendadas pelo bispo.
Evite-se, durante a exposição do Santíssimo, abrir e fechar o tabernáculo, para não perturbar os que estão em oração.

Adoração eucarística e a escuta da Palavra

A adoração eucarística é alimentada pela leitura orante da Palavra de Deus. Recomenda-se que sempre seja proclamada na adoração comunitária.

12. Missas de Rádio de Televisão

No Brasil, há muitos anos, temos missas transmitidas pela rádio e pela televisão. Em encontros nacionais, promovidos pelos bispos, têm-se dado orientações pastorais sobre o modo de realizá-las e sobre o significado delas na vida dos cristãos.
Muitos católicos por motivos diversos assistem a essas transmissões. O que dizer sobre isso? No Concílio Vaticano II, encontramos uma declaração significativa: "As transmissões por rádio e televisão das funções sagradas, particularmente em se tratando da Santa Missa, façam-se com discrição e decoro, sob a direção e responsabilidade de pessoa idônea, escolhida para tal ofício pelos bispos" (SC 20).
Esta recomendação encontra uma orientação prática na palavra da Comissão Pontifícia para as Comunicações Sociais na Instrução Pastoral Communio et Progressio, publicada em 27 de maio de 1971: "A Missa e outros ofícios litúrgicos devem ser incluídos no número das transmissões religiosas. É necessário, porém, que tais programas sejam devidamente preparados, do ponto de vista técnico e litúrgico. Tenha-se em conta a grande diversidade de público e, se os programas se destinam também a outros países, deve-se respeitar a sua religião e costumes" (CP 151).
O Magistério da Igreja vê na transmissão de celebrações eucarísticas, como também de outras celebrações, um meio de informar as pessoas sobre a liturgia e sua celebração.
A Instrução da Sagrada Congregação dos Ritos e Consilium, Eucharisticum Mysterium, vai além e diz que as transmissões televisivas de Liturgias, especialmente da Missa, devem ajudar o telespectador a associar-se à Páscoa de Cristo e que a missa transmitida pela rádio e pela televisão deve ser um modelo da celebração do sagrado mistério, conforme as leis da reforma litúrgica (cf. EM, 22).
No encontro com produtores de missas transmitidas pela televisão, em setembro de 1998, a CNBB expressou que as transmissões devem ajudar os telespectadores a se associarem à Páscoa de Cristo.
"Seria de máxima conveniência que, em relação a estas questões, fosse recordado que na liturgia celebramos o Mistério Pascal. Que haja, por parte de todos, respeito e fidelidade naquilo que estabelece o Magistério da Igreja com relação à celebração da Santa Missa e do Culto Eucarístico para que se evitem desvios e abusos, sobretudo nas transmissões televisivas. Aqueles que assistem à Missa pela TV sejam estimulados a participar da celebração na assembléia litúrgica. Cada celebração tenha sempre um tom orante para que transpareça a dimensão de sacralidade do mistério celebrado. Seja dado o devido valor aos símbolos litúrgicos, cuide-se das expressões artísticas do espaço celebrativo, dos objetos, das vestes litúrgicas. O canto e a música estejam de acordo com a índole própria da celebração, do tempo litúrgico e dos momentos celebrativos ".
A assistência à missa pela rádio e pela televisão não justifica a ausência na celebração para quem tem condições de participar dela fisicamente.
As declarações do Magistério da Igreja não deixam dúvida que as celebrações litúrgicas transmitidas pelos meios de comunicação social, especialmente pela televisão, se assistidas com fé, têm valor salvífico para os que não podem participar da missa em sua comunidade, por exemplo, por doença ou velhice. Toda a nossa vida em conformidade com Jesus Cristo é um levar a efeito a obra da salvação, isso vale mais ainda para quem se une espiritual e realmente à Páscoa de Cristo, assistindo a uma missa transmitida por rádio ou pela televisão.
Podemos entrar em comunhão com o Senhor Ressuscitado não só pela comunhão eucarística, mas também de outras maneiras. Por isso, quem não tem possibilidade de participar fisicamente da assembléia eucarística, tem através da rádio e mais ainda da televisão uma ótima possibilidade de entrar em comunhão com o Senhor. .
O assistir a uma celebração pelos meios de comunicação é uma resposta ao Senhor que bate à nossa porta, pedindo entrada. Aberta a porta, o Senhor entra para realizar o encontro através da Palavra proclamada para todos e realiza-se um encontro pessoal, particular e salvífico (cf. Ap 3,20).Na comunhão eucarística, este encontro é mais profundo e também pessoal no sentido de individual
Certamente as equipes, que preparam e animam as celebrações transmitidas pela rádio e pela televisão, devem ter muita consciência do significado e do alcance dessas celebrações para as pessoas impedidas de se reunirem com a comunidade, como: doentes, idosos, presos, viajantes, os que moram longe do local das celebrações comunitárias. Nunca se devem transmitir missas gravadas.
Toda celebração deve se realizar com unção e ter um tom orante. As celebrações litúrgicas são celebrações da Igreja e fundadas na longa tradição litúrgica; por isso, não cabe nelas inventar coisas e nem o cultivo de subjetividades. Muito menos devem ser palco de ‘shows’ e esnobismos de grupos ou pessoas.
As missas transmitidas pelos meios de comunicação social se justificam também como espaço de iniciação dos fiéis e de formação litúrgica do povo.