DEPARTAMENTO DAS CELEBRAÇÕES
LITÚRGICAS
DO SUMO PONTÍFICE
O sacerdote na “praeparatio” e na
Ação de Graças da Santa Missa
Para o sacerdote, frutificar na
vida e no ministério depende da união com Deus, união que está na base também
do fato de que os fiéis se dirijam a ele para que reze por eles. Jesus Cristo
confiou àqueles que o seguiam mais de perto uma palavra que esclarece o sentido
de todo o bem que fariam: "Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que
permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis
fazer". O próprio Senhor Jesus, no contexto dos muitos milagres
realizados, estabeleceu um tempo para estar só, para dedicar à oração a seu Pai
celestial. Para Jesus, a oração oficial da liturgia era sustentada por uma vida
interior na qual a reserva apoiava essa intimidade que nutre a oração pessoal.
As dimensões eclesial e comunitária se reforçam por uma relação pessoal similar
com Deus, que cada fiel espera poder aprofundar.
A busca de Deus, que dá
significado à vida dos que o amam, serve de recordação quotidiana do fato de
que toda bênção provém e ao mesmo tempo se dirige para o Deus onipotente. A
Sagrada Escritura descreve de forma vívida o alimento que Jesus tomava de sua
vida de oração escondida: "ele se retirava a lugares desertos para
orar" (Lc 5, 16). Do mesmo modo, notamos a importância dos diferentes
momentos do dia, pelo fato de que Jesus se mostra particularmente atento ao
silêncio da oração, em que busca a vontade do Pai. Momentos similares animam um
especial recolhimento e uma proximidade ininterrupta: "De madrugada,
quando ainda estava bem escuro, Jesus se levantou e saiu rumo a um lugar
deserto. Lá, ele orava" (Mc 1, 35); "Depois de despedi-las, subiu à
montanha, a sós, para orar. Anoiteceu, e Jesus continuava lá, sozinho" (Mt
14,23).
O sacerdote, consciente de
participar na obra de Cristo, esforça-se por seguir seu exemplo, por guiar o
santo povo de Deus ao Pai, através de Cristo no Espírito Santo. Ele sabe muito
bem que, dado que seus defeitos danificam a credibilidade de seu testemunho,
deve pedir com não menor urgência a Deus que infunda nele as virtudes próprias
de seu estado. Parte da homilia proposta no rito de ordenação do presbítero
instrui aquele que vai ser ordenado desta forma: "Assim continuarás a obra
de santificação de Cristo. Através de teu ministério, o sacrifício espiritual
dos fiéis se faz perfeito, porque está unido ao sacrifício de Cristo, é
oferecido através de tuas mãos em nome da Igreja de forma incruenta sobre
altar, na celebração dos sagrados mistérios. Reconhece o que fazes, imita
aquele que tocas, para que, celebrando o mistério da morte e ressurreição do
Senhor, possas mortificar em ti mesmo todos os vícios e preparar-te para
caminhar em uma vida nova" [1].
Vê-se, por isso, que o motivo de
uma particular preparação do sacerdote antes da Missa e o agradecimento depois
dela reside no benefício para a Igreja inteira, porque o sacerdote que
santifica o povo cristão necessita em primeiro lugar de ser moldado pelo
espírito de santidade. Sempre é de ajuda para o sacerdote tomar um momento para
considerar os textos que rezará durante a Missa, seja no dia em que a
assembleia participará, ou não. Oportunas reflexões prévias sobre os textos
podem estimular um desejo mais profundo de Deus. A preparação textual constitui
uma preparação litúrgica coerente para a Santa Missa. Um sacerdote que cultiva
o silêncio pessoal no tempo que precede e que segue à Santa Missa, com sua
própria disposição animará o espírito de meditação.
Um sacerdote em atenção pastoral
poderia ter de lutar para estabelecer o silêncio desejável em toda sacristia,
especialmente se se apresenta a necessidade de ter de receber nela os fiéis.
Mas precisamente para ele em particular, os textos de preparação antes da Missa
e de agradecimento depois desta podem ser rezados em qualquer momento. Estes
reconhecem também as limitações de tempo e por isso se apresentam como um apoio
espiritual mais que como uma imposição de obrigação sobre o sacerdote que tenta
celebrar a Missa de modo mais reverente possível. Deve-se assinalar que a
rubrica que se encontra sob os títulos da Praeparatio ad Missam e da Gratiarum
Actio no Missal de 1962 reconhece estas exigências concretas do sacerdote [2].
Nenhum ato de amor, por definição, é apressado. Tendo oferecido o supremo
sacrifício do amor de Cristo, é de esperar que um sacerdote seja movido a fazer
o que seja possível para encontrar um tempo, ainda que seja breve, para uma
ação de graças depois da Missa. E se sentirá reforçado por tê-lo feito.
A preparação de um sacerdote para
a Missa será ulteriormente apoiada pelo ciclo da Liturgia das Horas, que
enriquece a vida de todo sacerdote. A antiga sabedoria do Ritus Servandus in
Celebratione Missae, que se encontra ainda na primeira parte do Missal de 1962,
presume a importância intrínseca do Ofício Divino para a vida interior do presbítero.
Esta estabelecia que o Mattutino e as Laudes deveriam estar completos antes da
celebração. Também se deve dizer que o contexto dessa prescrição secular não
podia ter presente a Missa da tarde [3].
Dado que a Missa celebra-se
atualmente em qualquer hora do dia litúrgico, já não se aplica esta norma de
modo restritivo, no entanto, os Princípios e Normas para a Liturgia das Horas
explicam atentamente a conexão entre a celebração da Eucaristia e a Liturgia
das Horas: "Cristo mandou: ‘há que rezar sempre, sem nunca desistir' (Lc
18, 1). Por isso, a Igreja, obedecendo fielmente a este mandato, não cessa
nunca de elevar orações e nos exorta com estas palavras: ‘Por meio de Jesus,
ofereçamos a Deus um perene sacrifício de louvor' (Hb 13, 15). A este preceito,
a Igreja responde não só celebrando a Eucaristia, mas também de outras formas,
e especialmente com a Liturgia das Horas, a qual, entre as demais ações
litúrgicas, tem como característica, por antiga tradição cristã, santificar
todo o transcurso do dia e da noite" [4].
3.2 Amplos textos adornam esse
Missal, a antífona Ne reminiscaris pede a Deus que seja misericordioso apesar
de nossos pecados e dos daqueles que nos precederam. Esta vai seguida dos
salmos 83, 84, 85, 115 e 129. O Kyrie eleison, Christe eleison, Kyrie eleison e
o Pater noster, cujas duas últimas linhas formam o início de uma série de
versículos, são seguidos por um número de orações breves. Em alguns manuais
devocionais, estas sete orações se atribuem a Santo Ambrósio e estão
assinaladas aos diferentes dias da semana. Seja como for, pelo modo como estão
colocadas no Missal, considera-se que se devem dizer sucessivamente sob uma
única conclusão. Todas, exceto a sétima, concentram-se sobre a obra de
santificação do Espírito Santo. A sétima é seguida por uma doxologia mais
longa, que conclui a série. A primeira reza para que o Espírito Santo
resplandeça em nossos corações, para que possamos celebrar dignamente os santos
mistérios. A segunda pede que possamos amar a Deus perfeitamente e louvá-lo
dignamente. A terceira, que possamos servir a Deus na castidade e pureza de
espírito, enquanto que a quarta implora ao Paráclito que ilumine nossas mentes.
A quinta pede a força do Espírito Santo para expulsar as forças do inimigo. A
sexta pede a sabedoria e a consolação, e a última pede a Deus que nos purifique
e que faça de nós o lugar de sua morada.
3.4 O Ad Mensam de Santo Ambrósio
pede que o Corpo e o Sangue possam perdoar ao sacerdote seus pecados e
protegê-lo de seus inimigos. A Oração de São Tomás de Aquino, em contrapartida,
pede que o poder curador do Santíssimo Sacramento possa preparar o sacerdote
para a visão eterna de Deus. Na Oração da Beata Virgem Maria, o sacerdote reza
não só por si mesmo, mas por todos seus irmãos que celebram a Missa nesse dia
em todo o mundo. Seguem orações a São José, a todos os anjos e santos e,
finalmente, uma oração ao santo em honra do qual será celebrada a Missa. A
Fórmula de Intenção recorda ao sacerdote a intenção da Igreja a respeito da
celebração da Missa, assim como seu papel dentro da mesma. O sacerdote não
opera sozinho. O que ele realiza foi entregue por Cristo a sua Igreja,
confirmado pelo Magistério e apoiado pela Tradição. O sacerdote faz presente o
Corpo e o Sangue de Cristo. Ele segue o rito da santa Igreja Católica. Seu
objetivo é louvar a Deus e a Igreja celeste, enquanto reza pela terrena, e em
particular por todos aqueles que se encomendaram a suas orações, como também
pelo bem-estar de toda Igreja Católica. Depois, ao rezar por todos os fiéis, o
sacerdote pede que o Senhor conceda a ele e a todos alegria com paz, mudança de
vida, um espaço de verdadeira penitência, a graça e o consolo do Espírito Santo
e a perseverança nas boas obras.
4.1 O corpo de textos que forma o
agradecimento após a Missa mostra amor, humildade e fé que se exaltam no dom
sublime da Santíssima Eucaristia. O Missale Romanum de 2002 contém a Oração
Universal atribuída ao Papa Clemente XI e a Ave Maria. Ademais, em comum com o
Missal de 1962, contém a Oração de Santo Tomás de Aquino; as Aspirações ao
Santíssimo Redentor ou Anima Christi; a Oferenda de si, ou Suscipe; a Oração
ante Nosso Senhor Jesus Cristo crucificado, En Ego; e a Oração à Beata Virgem
Maria. A estes textos no Missal de 1962 se anexavam as indulgências dos papas
Pio X, XI e XII, enquanto que alguns textos do Missale Romanum de 2002 foram
incluídos também no Enchiridion das Indulgências.
4.2. No Missal de 1962, uma
antífona precede ao Benedicite (cf. Dn 3,56-58) e ao Salmo 150. Observando a
própria estrutura da Preparação à Missa, o Kyrie eleison e alguns versículos
abrem o caminho para algumas orações. A primeira delas reza para que, como os
três jovens foram tirados ilesos das chamas, assim possam os servos do Senhor
evitar as feridas do pecado. A segunda pede que as obras boas que Deus começou
em seus servos possam chegar a seu cumprimento, enquanto que a terceira, que
tem um tema semelhante à primeira, é uma oração a São Lorenzo, diácono e
mártir, a quem busca vencer o sofrimento. As devoções que o sacerdote pode
recitar pro opportunitate possuem expressões semelhantes aos pedidos de
proteção em nossa viagem para o céu. Após a oração de São Tomás há outra (alia
oratio) e o hino métrico Adoro Te, segue a amada oração do Anima Christi. O
Suscipe e o En Ego precedem outra oração, que pede que a Paixão de Cristo seja
a força do sacerdote, sua defesa e glória eterna. Antes das orações a São José
e ao santo em honra do qual se celebrou a Missa, a Oração à Beata Virgem Maria
oferece a Jesus, que foi recebido na Santíssima Eucaristia, à Virgem Mãe, para
que Ela possa voltar a oferecer-lhe no supremo ato de adoração (latreia), o
culto perfeito, à Santíssima Trindade.
5. Conclusão
O Ordenamento Geral do Missal
Romano estabelece: "É por isso de suma importância que a celebração da
Missa, ou Ceia do Senhor, esteja ordenada de tal forma que os sagrados
ministros e os fiéis, participando nela cada um segundo sua própria ordem e
grau, tragam abundância dos frutos pelos quais Cristo institui o Sacrifício
eucarístico de seu Corpo e de seu Sangue e o confiou, como memorial de sua
Paixão e ressurreição, à Igreja, sua amadíssima Esposa" [7]. A preparação
do sacerdote para a Missa e o ato de ação de graças sucessivo se completam
mutuamente. Estes nutrem a reverência nos corações e nas mentes dos fiéis que
são ajudados a participar com maior intensidade na liturgia celebrada por um
sacerdote que se beneficiou da oportunidade de recolhimento. O que anima a
preparação prévia promove também a ação de graças sucessiva à Missa. Ambas
guiam continuamente a Igreja para e a partir do Sacrifício eucarístico que
celebra e faz presente os frutos do mistério pascal até que Cristo volte no fim
dos tempos.
* * *
Notas originais em italiano:
1) Pontificale Romanum, «De
Ordinatione Episcopi, Presbyterorum et Diaconorum», cap. 2, n. 151: «Munere
item sanctificandi in Christo fungéris. Ministério enim tuo sacrifícium
spirituále fidélium perficiétur, Christi sacrifício coniúnctum, quod una cum
iis per manus tuas super altáre incruénter in celebratióne mysteriórum
offerétur. Agnósce ergo quod agis, imitáre quod tracta, quátenus mortis et
resurrectiónis Dómini mystérium célebrans, membra tua a vítiis ómnibus
mortificáre et in novitáte vitæ ambuláre stúdeas».
2) La dicitura Praeparatio ad
Missam stampata in nero è seguita dall'altra: pro opportunitate sacerdotis
facienda scritta in rosso, il che qualifica i testi come risorse facoltative
che il sacerdote può usare a seconda delle circostanze.
3) «Sacerdos celebraturus Missam
[...] saltem Matutino cum Laudibus absoluto».
4) Institutio Generalis de
Liturgia Horarum, cap. 1, n. 10.
5) Missale Romanum, editio typica
tertia 2002, nn. 1289-1291.
6) Sap 11,24 forma l'introito del
Mercoledì delle Ceneri, sia nella forma ordinaria che straordinaria del Rito
Romano.
7) Institutio Generalis Missalis
Romani, 2002, n. 17.