ANIMAÇÃO DA VIDA LITÚRGICA NO BRASIL
(ELEMENTOS DE PASTORAL LITÚRGICA)
27ª Assembléia Geral
Itaici-SP, OS a 14 de abril de 1989
INTRODUÇÃO
l. Este texto é
conseqüência da pesquisa feita pela Linha 4, Dimensão Litúrgica da CNBB, quando
se completaram 20 anos da promulgação da Sacrosanctum Concilium em 1983.
O resultado colhido sobre a caminhada da reforma e renovação litúrgicas
pós-concíliares, foi devolvido às bases através do livro Estudos da CNBB, n°
42: Liturgia, 20 anos de caminhada pós-conciliar.
2. Tendo a CNBB
dedicado esforços especiais às diversas dimensões da vida da Igreja, urge
refletir, agora e de modo bem abrangente, sobre a dimensão celebrativa, que tem
aspecto profético e transformador e é a alma de todas as outras.
Para unir a dimensão celebrativa à dimensão profética e
transformadora, o fundamental é prover de modo positivo e permanente, a
formação de todos os agentes de pastoral, começando pelos mais responsáveis
pela vida litúrgica nas diversas igrejas.
3. Não pretendemos aqui
apresentar um Manual de liturgia nem um Diretório dos Sacramentos, mas
Elementos de Pastoral Litúrgica. Desejamos contribuir para promover e animar a
Pastoral Litúrgica na formação dos agentes de Pastoral, para dinamizar as
celebrações, para a constituição de suas equipes e para impulsionar a adaptação
litúrgica conforme os apelos do Espírito na Igreja.
4. Este
trabalho contém duas partes:
Na lá parte refletimos sobre a caminhada litúrgica pósconciliar,
a natureza da liturgia, sua linguagem e suas múltiplas expressões, a
importância da espiritualidade litúrgica e a urgência, tanto da aculturação e
inculturação como da formação para a necessária adaptação e criatividade. Esta
parte termina com algumas orientações pastorais sobre a liturgia em geral.
Já na 2á, mais prática, são apresentadas orientações pastorais
sobre a Celebração Eucarística.
I PARTE
A VIDA LITÚRGICA
I. A CAMINHADA LITÚRGICA PÓS-CONCILIAR E SEUS ATUAIS DESAFIOS
5. Apresentamos inicialmente uma visão geral da caminhada litúrgica no
Brasil a partir do Concílio Vaticano II, realçando dois aspectos: uma visão de
conjunto das três décadas e os desafios atuais.
I. Visão de
conjunto das três décadas
6. Quem lembra
como era celebrar a Liturgia há 25 anos e pensa como se apresenta hoje, percebe
uma transformação imensa, realizada gradativamente. Há, nesse processo, características
significativas em cada uma das três décadas passadas. 1.1 Os anos 60
7. Um grande
entusìasmo marcou a acolhida da Sacrosanctum Concilium. O uso do
vernáculo modifícou profundamente o estilo das celebrações. No altar, o
sacerdote voltado para o povo, pôs a presidência face. a face com o povo,
criando novo espaço e nova comunicação na assembléia litúrgica. Aboliu-se de
imediato a duplicação que se havia introduzido na celebração da Missa, com
textos proclamados em latim e repetidos em vernáculo. Os ritos
foram simplificados e tornados mais claros para facilitar a compreensão e a
participação do povo. O canto das partes do Comum da Missa,
em vernáculo, e
sobretudo a possibilidade de cantar os textos da Missa em ritmo popular, também
deram nova vida à celebração.
8.
Multiplicaram-se os cursos de Litürgia, onde se insistiu na necessidade da
participação ativa dos fiéis e do exercício das diversas funções, como o
comentarista, os leitores, o animador e os grupos de canto. Aos poucos foram
sendo introduzidos, também, novos instrumentos musicais.
9. Além disso,
forvn-se realizando Encontros Nacionais e Regionais de Liturgia. Surgiram obras
nossas e outras traduzidas. A reflexão e a prática litúrgicas tornaram-se
vivas nos vários cursos do ISPAL (Instituto Superior de Pastoral Litúrgica),
que prestaram inestimável serviço à renovação litúrgica no Brasil.
10. Neste
período aparecem também algumas dificuldades. A lentidão e a demora da reforma
e renovação oficiais ensejou a alguns interpretar e aplicar o documento
conciliar de maneira autônoma e, por vezes, arbitrária. As iniciativas, tomadas
nem sempre de acordo com os critérios emanados do Concílio, exageraram,
sobretudo, o descaso pelo aspecto jurídico do culto que, sendo comunitário,
dele também necessita. Por isso, avançaram o sinal de tal modo que não foi
fácil retroceder quando necessário.
11. Por outro
lado, a descoberta do sentido e do valor da Liturgia como cume e fonte da vida
da Igreja fez. com que se abandonassem com certo desprezo outras formas de
culto como os exercícios de piedade e as devoções populares'. Não se conseguiu
ainda preencher o vazio deixado pelo seu abandono.
1.2. Os anos
70
12. Três
principais aspectos caracterizam este período: A introdução dos novos livros
litúrgicos, os Documentos pasforais e a abertura da Igreja para a dimensão
social de sua vida e, conseqüentemente, de sua Liturgia2.
13. Os livros
foram apenas traduzidos e não adaptados. A Liturgia das Horas teve de se
contentar com a trado ão da "Oração do Tempo Presente", editada na
França. Infelizmente os documentos litúrgico-pastorais da CNBB, bem como as
Introduções teológico-pastorais aos novos Rituais, apesar de seu grande valor,
não tiveaun a esperada influência na caminhada de nossa vida litúrgica.
15. Enquanto as atenções da Igreja
se concentravam nos grupos marginalizados, nas grandes massas empobrecidas e
oprimidas e desejosas de libertação integral, germinavam as sementes de uma
nova expressão litúrgica ligada à vida.
16. Sobretudo nas CEBs, sob a
influência crescente da Teologia da Libertação, a nova reflexão sobre a
Cristologia e
Eclesiologia na
América Latina inova maneiras de celebrar a Fé.
17. Nesse
contexto aparecem elementos positivos e negati- ; vos da caminhada litúrgica.
Foi positivo o novo modo de celebrar os sacramentos. A
Penitência, por exemplo, se enriqueceu com as celebrações comunitárias, segundo
o novo Ritual. E a Unção dos Enfermos tomou outras dimensões, mais na linha da
Pastoral da Saúde.
20. Há, porém,
elementos negativos nessa década. Com a deficiente formação litúrgica nos
seminários e a insuficiente reciclagem oferecida ao clero, os padres, em geral,
ficaram privados da espiritualidade litúrgica, ao mesmo tempo em que, no culto,
infiltrava-se descabido desprezo pelas rubricas indispensáveis e novo
rubricismo, na execução material dos ritos e no uso servil dos folhetos.
Sensível foi nesse período como diminuiu a participação na confissão auricular.
O exercício da celebração penitenciai, com absolvição geral, não bem orientado,
fez diminuir a participação na confissão auricular, privando o povo das riquezas
desta forma de penitência sacramental.
21. Aqui e ali
reduziu-se a celebração a mero meio de mentalização ideológica. E em que pese a
benéfica integração da religiosidade do povo, parece, às vezes, que se alimenta
a possibilidade de outra Liturgia, a "popular", em oposição à
oficial.
1.3. Os anos
80 e a situação atual
22. Três fatos
marcam esta década: a pesquisa sobre a situação da vida litúrgica no Brasil
(1983), a ampla avaliação das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da CNBB (1987)
e o estudo provocado pelo instrumento de trabalho "Por um novo impulso à
vida litúrgica" (1988).
23. Deles se
depreendem certos dados importantes: junto com um certo cansaço no campo da
Liturgia cresce uma busca de soluções em nível mais profundo.
24. Persistem
falhas já apontadas, como deficiente formação litúrgica aos agentes em todos
os níveis, com uma defasagem agravante entre leigos que estudam e um clero
pouco interessado.
25.
Descobriu-se toda a amplidão de um dado relativamente novo: Cerca de 70% das
celebrações, no Dia do Senhor, são realizadas por comunidades que vivem e
celebram sua fé sem a presidência de um ministro ordenado.
26. Nem todas
as deficiências que vêm à tona no culto são falhas da dimensão litúrgica:
muitas devem ser atribuídas à falta de evangelização, à catequese incompleta e
à ausência de vida comunitária.
27. É promissor
o fato de uma pastoral litúrgica mais integrada na pastoral orgânica, como se
verifica na presença, em
cada Regional , de um bispo responsável pela Liturgia, suscitando
equipes animadoras desta pastoral em vários níveis. Abrem-se assim perspectivas
para a difícil tarefa de fazer confluir numa Liturgia viva as riquezas da
tradição romana, da religiosidade popular, da oração comprometida com a
transformação do mundo e a oração de louvor cada vez mais difundida, sobretudo
nas grandes cidades nos grupos de oração4.
2. Desafios
28. Na situação
atual da vida litúrgica surgem alguns desafios mais urgentes:
- Participnção: o
Concílio preconiza a participação ativa, consciente e frutuosas. Como
promovê-1a sempre mais? Até que ponto os meios atuais, como folhetos, cantos,
símbolos, concorrem ou impedem essa participação?
29. -
Criatividade e adaptação: a participação reclama criatividade e adaptação.
Como ampliar as oportunidades existentes na Liturgia, para isso?
30. Civilização
urbano-industrial: a maioria do nosso povo vive na cidade secularizada e
massificada pelos Meios de Comunicação Social. Que símbolos, gestos e sinais
serão realmente significativos dentro deste novo contexto?
32. O Ano
Litúrgico: como superar o paralelismo entre as celebrações do Ano Litúrgico
e os dias, semanas e meses temáticos (Mês da Bíblia, Dia das Missões, Mês
Vocacional)? 33. A
Piedade Popular: como redescobrir a'riqueza da religiosidade popular e
integrá-1a na Liturgia?
35. Todos estes
desafios deixam claro quanto e como é necessário desencadear um processo de
formnção litúrgica sistemática e permanente. Formação que se baseia na
compreensão teológica da Liturgia e faça superar tanto o néo-rubricismo
quanto a improvisação arbitrária.
II. LITURGIA: CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO DA SALVAÇÃO 1. A Celebração
36. Em todos os
tempos e lugares, homens e mulheres de todos os meios e níveis sociais, de
todas as culturas e religiões, costumam realçar, ao longo da existência,
aspectos fundamentais da vida individual, familiar, social e religiosa.
37. Celebrar é
parte integrante da vida humana, que é tecida de trabalhos e de festas, de
horas gastas na construção e espaços destinados a usufruir de seus resultados.
39. Sendo um
momento em que se evoca o fato passado para revivê-1o intensamente no nosso
hoje, a celebração ocupa, na Religião, um lugar privilegiado: porque põe
homens e mulheres em comunhão entre si e com Deus através de símbolos ou
sinais. No cristianismo, a celebração consiste na memória do acontecimento
fundente do Povo de Deus, isto é, a morte e ressurreição do Senhor, que
perpetua na História a salvação que Cristo veio trazer a todos.
40. Em nossas
celebrações religiosas há muitos objetos, gestos e atitudes especiais de
pessoas: altar, cruz, livros, luzes, toalhas, palavras, mãos postas, mãos
estendidas, sinal da cruz, genuflexão, procissões... Eles entram na Liturgia
como símbolos ou sinais significativos.
41. Símbolos
chamamos os objetos ou gestos que contêm e expressam, de forma analógica, a
realidade evocada, que então aparece de outra maneira. Lavar as mãos na missa,
por exemplo, é hoje, símbolo do esforço de purificação interior. Mostra uma
pureza que deve existir, aqui e agora no interior de quem participa de tal
ge.sto. Todos os sinais empregados na liturgia são simbólicos.
43. De modo especial,
nós latino-americanos, preferimos reforçar assim a exuberância de nossos
sentimentos. Por essa razão, nossa Liturgia deve abrir espaços para as
expressões de nosso povo. Assim nossas celebrações conseguem a participação de
todas as pessoas e da pessoa toda, envolvendo também seus corpos e a maneira
característica de alimentar e exprimir seus sentimentos.
2. Celebração do mistério da salvação r
44. O projeto de
comunhão de Deus c_onosco, que chamamos de o_bra dá sglvaçãó, foi
prenunciado pelo próprio Deus no Antigo Testamento e realizado em
Çristo. Hoje a Liturgia o celebra, isto é, o rememora e o torna
presente na Igreja.
45. De fato,
Israel foi o povo convocado pelo Senhor em assembléia para o culto do
"Deus único dos pais", que se revelou como Senhor: um Deus para nós,
e portanto, vivo e atuante na História. Marcou profundamente Israel a
libertação exaltada no Êxodo, que junto com a criação, a eleição e a aliança
são os motivós do culto do Povo ao Senhor.
46. Libertando
Israel da escravidão para ser seu povo, ou seja, povo sacerdotal, real e
profético, o Senhor enseja aos profetas a releitura destes acontecimentos como
encaminhamento da humanidade para a nova Aliança: nesta aliança nova, o culto
crescerá em intensidade, em compromisso e justiça com os irmãos e abertura para
a universalidade, até que um dia Jesus o proclame como adoração em espírito e
verdade (of. Jo 4,23).
47. Em Jesus Cristo , o
projeto de Deus se realiza plenamente, pais nele, se unem o divino e o humano.
Por isso, é no Filho que nos tornamos filhos. Sua humanidade é instrumento de
nossa salvação'. Jesus juntou às palavras ações e atitudes significativas que
mostram que o Reino anunciado por Ele já se tomou presente. Seu agir em favor
dos marginalizados do seu tempo é expressão do plano de Deus: conduzir, a
partir dos pobres, todos os homens e mulheres à comunhão com o Pal.
48. O mistério
pascal de Cristo é o centro da História da salvação e por isso o encontramos na
Liturgia como seu objeto e conteúdo principal. Esse mistério envolve toda a
vida de Cristo e a vida de todos os cristãos. "Por sua obediência perfeita
na cruz e pela glória da sua ressurreição, o Cordeiro de
Deus tirou o
pecado do mundo e abriu-nos o caminho da libertação definitiva. Por nosso
serviço e nosso amor, mas também pelo oferecimento de nossas provações e
sofrimentos, nós participamos do único sacrifício redentor de Cristo, completando
em nós o que falta às tribulações de Cristo pelo Seul corpo que é a
Igreja"2.
49. Assim se
entende como e por que sem a ação do Espírito Santo não pode haver Liturgia. A
Páscoa de Cristo que celebramos é fruto do Espírito Santo que impulsionou o Filho
de Deus a realizar a vontade do Pai até as últimas conseqücncias (of. Hb
9,14). E quem envolve no mistério pascal a vida, as lutas e as esperanças de
todas as-pessoas é o mesmo Espírito, que na Liturgia é
invocado para sánlllicação do pão e do v_inho e a união dos
fiéis. O Espírito continua exortando-nos a que ofereçamos nossa vida e
nosso compromisso de servir aos irmãos na construção do Reino, como hóstias vivas,
santas e agradáveis a Dcus. Aliás, é este o nosso culto espiritual (of. Rm
12,1).
50. Nesta
perspectiva, acolhemos com alegria o atual anseio de, nas ações litúrgicas,
celebrar os acontecimentos da vida inseridos no Mistério Pascal de Cristo. De
fato, na Liturgia sempre se celebra a totalidade do Mist_é_rio de
Cristo e da Igreja, com todas as suas dimensões. A vida se manifesta
n_ão penas_nos mom_ cotos fortes do culto, mas também no esforço
por crescente comunhão participativa; na consciência de sua vocação
missionária; no empenho pela acolhida e animarão
i catequétic_ a da Palavra; no espírito de amplo diálogo_ecumêni_co
e na séria, corajosa e proféticá Adão transformadora do I mundo.
51. Quando os
Bispos explicitaram estas seis dimensões na Diretrizes Gerais da Ação
Pastoral da Igreja no Brasil, tiveram em mente o fato de que a Liturgia é
o cume e a fonte de toda a ação pastoral3. Estas dimensões não existem isoladamente
e, ao mesmo tempo, tem cada qual sua identidade: Liturgia não se confunde com
Catequese, nem com ação transformadora do mundo, embora deva estar presente e
penetrar todas as ações da pastoral.
52. Mas em
cada um_a _dessas dimensões todas as ações verdadeiramente
pasto_rais têm um_ cárát_er pascal, pois são vivências da P_áscoa
da Irejá, à imagem e pela força da Páscoa de Cristo. E por isso a
Liturgia as celebra.
III. O POVO DE
DEUS CELEBRA A SALVAÇÃO
53. As
maravilhas operadas por Deus no Êxodo visavam reunir o povo no Sinai para constituí-Io
povo sacerdotal.
Jesus Cr_isto, o sumo
sacerdote da fé que professamos (of. Hb 3,1) também reúne seu povo, a
quem, pelo Batismo, _ deu pa_rOcyar do seu sacerdócio. Assim o novo
povo de Deus, que está no mundo vivenciando as alegrias e as esperanças, as
tristezas e as angústias com todos os homens e mulheres de hoje, sobretudo com
os pobres, é convocado para assembléias, a fim de e_xercer de
modo eminente o seu sacèrdócio com Cristo, por Cristo e em
Cristo.
54. O Povo de
Deus, sobretudo na Assembléia litúrgica se expressa como um povo sacerdotal e
organizado, no qual a diversidade de ministérios e serviços concorrem para o
enriquecimento de todos. Sua unidade e harmonia é um serviço do ministério da
presidência. Convocada por Dcus, a assembléia litúrgica, expressão sacramental
da Igreja, unida a Jesus Cristo, é o sujeito da celebração.
55. O Povo de
Deus convocado para o culto é o mesmo povo que trabalha, faz festa, sofre,
espera e luta na História. Por isso, as nossas assembléias são diversificadas.
É mister abrir espaços de esperança à manifestação das ricas expressões
religiosas das comunidades, dos grupos étnicos e das grandes massas
empobrecidas. Porque não é possível celebrar
um ato
litúrgico alheio ao contexto dá vida real do povo, em sua dimensão pascal.
56. É essa
diversificada assembléia, que é servida por ministér_ios e serviços
multiformes,'que o Espírito suscita em sua Igreja. Entre
os ministérios distinguem-se os ordenados, do bispo, do presbítero e do
diácono, participàção especíFca no múnus dos ápóstolos, múnus este, instituído
por Jesus Cristo. Hoje temos os m_in_istérios instituídos do, acólito e do
leitor; e chamamos "dc credenciados" os serviços que o cristão
leigo exerce em virtude de seu batismo sob a coordenação de seu bispo: são
assim, o ministério extraordinário do Balismo, da Comunhão Eucarística
e da assistência ao Matrimônio. Há também determinados seíviós
litúrgicos que, de modo stável, desempenham leitores, comentaristas,
recepcionistas, componentes do coral e, sobretudo, as Equipes de Pastoral
Litúrgica. Esta diversidade de ministérios fortalece a Igreja como comunidade
e realça a dimensão comunitária da ação litúrgica. 57. Nessa exuberante
manifestação do Espírito, que são os ministérios, há que se destacar alguns
aspectos mais significativos.
58. O serviço
da presidência, como sinal visível de CristoCabeça, implica para bispos,
presbíteros e diáconos uma renovada postura quando celebram com seu povo.
59. O diácono,
como o presbítero e o bispo, não só presidem a assembléia, mas a preparam, no
sentido de que a eles incumbe a responsabilidade de construir a comunidade,
condição importante para a celebração litúrgica.
60. "Onde
a necessidade da Ígreja o aconselhar, podem também os leigos, na falta de
ministros, mesmo não sendo leitores ou acólitos, suprir alguns de seus ofícios,
a saber,
exercer o
ministério da palavra, presidir às orações litúrgicas, '.administran o Batismo
e distribuir a Sagrada Comunhão, de acordo com as prescrições dó
direito"1.
61. Hoje, para
a Liturgia, o leitor é instituído para servir à Palavra,
proclamando-a no culto e fazendo-a mais conhecida na Çatequese; o acólito, no
seu serviço prestado ao altar e à distribuição da Eucarisfia, acrescenta a
preocupação com a caridade, pois, sem amor ao próximo não tem sentido partiIhar
o Pão eucarístico2.
62. Além dos
acólitos e leitores, inúmeros homens e mulheres assumem na celebração serviços
espon_tâneos, que a,N tomam mais participada. A E_ quipe de Pastoral
Litúrgica, res- ponsável pela animação da vida e ação litúrgicas, deve dar
especial atenção a estas Equipes de Celebraçz'o, doe _ajudam
o presidente e.a
assembléia nas celebrações litúrgicas. ,
63. Assim, a
assembléia litúrgica, servida por um conjunto de ministros, manifesta e realiza
a "Igreja toda ministerial"3 e a.diaconia que é a sua vocação. A
presença e puticipação dos fiéis através de gestos, palavras, aclamações e
posturas corporais tornam visível esplendidamente a Igreja em ação4.
IV AS DIMENSÕES
DA LITURGIA
.4 `
, 64. A
Liturgia, como eXercício do sacerdócio de Jesus Cristo, tem duas dimensões
fundamentais: a glorificação de Deus e a santificarão da humanidadel.
Trata-se de duas dimensões e não de dois tempos ou duas atividades estanquesz.
A Comunidade que celebra tem o compromisso de evangelizar o mundo3.
Neste fluxo e refluxo de realidade nós déstacamos alguns
aspectos relevantes.
1. Memorial
4Gvv` no y
2.
Aglorificação'daj Trindade
66. Porqye a Trinda_de
é fonte e fim da Liturgia, o louvor, 'a glorificação do Senhor é
uma constante do culto cristão. Não nos esquecemos, porém, de que a glória
de Deus
nas alturas realiza
afaz na terra para as pessoas que Ele ama. A transforTnação do homem
e da mulher e do seu mundo é o meio seguro de glorificar a Deus que os quer à
sua imagem e semelhança e participando do dom da vida com abundância (of. Jo
10,10; Is 44,23).
3. Ação de graças.
67. Nesta
perspectiva, torna-se mais compreensível o hino que há séculos ressoa nas
igrejas: "Nós vos damos graças por vossa imensa glória". A ação de
graças é importante porque; além do mais, sublinha a gratuidade
do dom de Deus que celebram os. . , ; , .~,-( a. .a .e. "-.'
i,`-c- A. . . a,.- ~ ~ . 68. Dar graças é exigência do coração que se
vê assim beneficiado. Insistir, nas celebrações, em considerar demasiadamente
a presença do pecado deturpa a realidade e esvazia
a Liturgia, que
nos convoca a louvar, bendizer, dar graças e esperar
contra toda eserá. .
4. Súplica e
intercessão
69. Toda oração
litúrgica é feita na "unidade do Espírito Santo". Precisamos dele
para que nossa oração não seja um programa que impomos a Deus em nosso favor,
mas reconhecimento do poder e bondade sem limites do Senhor que, fa
tendo vir a nós
o seu Reino, nos livra de todo o mal. Pedimos por nós e pelo mundo.
S. Pedido
de perdão
72. Quando se
tem consciência de que pecar é condição da humanidade toda, a unidade de todos
os homens e mulheres é obra do Espírito Santo, e a glória de Deus é a
realização de seu povo tarpbém na História, é fácil compreender que a Liturgia,
além da conversão pessoal, comporta um compromisso social.
73. O Reino de
Deus que se realiza onde Deus reina por sua graça, também se explicita no pão
de cada dia, na convivência fraternal e nos anseios de libertação de todo o
mal. A Liturgia não nos convida apenas para ouvirmos falar do Reino, mas para
nos impelir e animar a construí-1o.
7.
Escatologia
74. Entrétanto,
sabemos que a construção da sociedade justa e fraterna é esforço para
implantar um sinal do Reino definitivo, no qual já se encontram os nossos'
santos. Se fazemos memória deles, prelibando suas alegrias, é porque toda a Liturgia
é antegozo da realidade que aguardamos, vivendo a esperança: na dimensão
escatológica de nossa Litutgia4, celebramos, de fato, a ação salvadora e
perene de Deus, que começa na criação, manifesta-se na História e se coroa na
Pátria definitiva.
V ELEMENTOS E FORMAS DO CULTO CRISTÃO
. l. Elementos
da celebração
75. No projeto
do Senhor de ser o nosso Deus e fazer de nós o seu Povo (of. Lv 26,12), a
comunicação é fundamental e a linguagem é de capital importância. A Liturgia
exprime e constrói, sempre mais, a comunhão que o Pai decidiu levar avante pela
missão do Verbo, que se fez come para habitar, como um dos nossos, entre nós e
pelo envio do Espírito Santo. Por isso, a Liturgia faz sua a linguagem humana
e comunica e celebra os mistérios com os mesmos elementos com que as pessoas
celebram a sua vida.
76. O primeiro elemento litúrgico
são as pessoas. A presença de homens e mulheres no recinto em que se
encontram, felizes por se reconhecerem como convocados por Deus, faz de nossas
assembléias reuniões diferentes das que concentram pessoas em teatros ou
estádios, em reuniões sindicais, ou encontros partidários, como também diante
da TV. Elas se reúnem na fé, em nome de Cristo, conduzidas pela ação misteriosa
do Espírito que as transforma em sinais do Reino do Pai. Daí emerge o sentido
da assembléia litúrgica.
Deus, através
de palvras humanas, que hoje constituem o texto sagrado, objeto e alimento de
nossas celebrações.
80. Além da
Palavra divina, o Povo de Déus escolhe cuidadosamente palavras que exprimem
sua fé, sua esperança, seus sentimentos e suas necessidades numa primorosa e
venerável coleção de orações e hinosz.
81. Ajudam
muito a comunicação humana e, portanto, fazem parte da linguagem litúrgica,
muitos elementos visuais, acústicos e os que falam por seu
movimento.
Enriquecem visualménte a celebração não só a arte dos
arquitetos, pintores, escultores e artistas populares, mas também o bom gosto
nas vestes litúrgicas, a tradição das córes, a presença das luzes
e a preocupação com a beleza até nos menores objetos de que o culto se
utiliza.
82. Auxiliam
nossa prece, reforçando a palavra que ouvimos, a linguagem universal da
música, cantada ou instrumental, que os momentos de silêncio ressaltam
e ao mesmo tempo abrem espaço par_a outro tipo de oração. E até mesmo a
simples modulação da voz pode expressar nossa alegria, nossa confiança ou
nossa dor.
83. Nosso
corpo, sensível e dócil ao movimento, é uma fonte inesgotável de expressão. Por
isso, na liturgia têm importância os gestos, as posturas, as caminhadas
e a dança. 84. A
força dos símbolos e sinais, sobretudo quando retirados da vida e cultura do
povo, completam a grande variedade de elementos da nossa Liturgia.
2. Formas de
celebração
6'wm9v,j ,
,C-C zdC u
2.1. Os
Sacramentos `
86. Os momentos
mais intensos dessa comunhão são os sacramentos. A Igreja cresce
const<'ntemente com novos membros qué se convertem ao caminho de Jesus e
aderem à Aliança. Ela a celebra no Batismo, fazendo°-os passar pela água numa
nova páscoa e ungindo-os na Crisma com o perfume do Espirito para que,
conformados e fiéis a Cristo, vivam sua vocação e missão na construção do
Reino.
um a partilhar
o que tem, dando um novo sentido sacralizado ao universo material e aos
acontecimentos de nossa vida.
88. Jesus
Cristo não só exortou os homens e as mulheres à penitência, a fim de que
deixassem os pecados e de todo coração se convertessem ao Senhor, mas também
acolheu os pecadores, reconciliando-os com o Pai e com os irmãos. Seguindo os
seus passos, a Igreja não cessa de convidar seus membros à conversão e
restauração da vida e a manifestarem a vitória de Cristo sobre o pecado pela
celebração da Penitência, esmerando-se ém valorizar a prática da conCissão.
89. Através da
Unção dos Enfermos, a comunidade eclesial concede o alívio nos sofrimentos e
liberta dos pecados e Cristo une o doente ao mistério de sua Paixão e pela
graça do Espírito Santo, o associa à sua ação redentora. E dá ainda ao doente,
que vê sua existência desestruturada pela enfermidade, a força suficiente para
rever seu projeto de vida cristã. 90.
A Igreja escolhe alguns homens no meio do povo, os quais
marcados pelo sacramento da Ordem, agem "m persona Christi" e, assim,
unidos ao Cristo Sacerdote, se tornam ministros da unidade e servidores do
povo.
91. Através do
Matrimônio cristão a Igreja celebra a Aliança de amor de Deus com os homens e
mulheres e o amor, de Cristo e da Igreja. Os esposos, mergulhados, desta forma,
neste profundo mistério de amor, proclamam, pela vida afora, a fidelidade de
Deus à humanidade.
92. Vemos aqui
como pelos sacramentos a Liturgia leva a fé e a celebração da fé a se inserirem
nas situações concretas da vida3.
' d, .; G: 2.2. Celebrações na ausência
do presbítero
93., No Brasil
a maioria do povo fiel, em milhares de comunidades, que não contam
ordinariamente com o presbítero, através da Palavra celebram o mistério de
Cristo em suas vidas. E sendo a Palavra de per si, depois dos sacramentos, o
modo mais importante de celebrar, temos mais de um motivo para refletir sobre
ésta forma de celebração, como o vem fazendo, aliás, a própria Sé Apostólica
em nível universal°.
96. Nesta
celebração da Palavra, o Cristo se faz verdadeiramente presente, pois é ele
mesmo que fala quando se lêem, na Igreja, as Sagradas Escrituras. Além de sua
presença na Eucaristia, eventualmente distribuída, está também, na assembléia,
pois prometeu estar entre os seus que se reúnem em seu nome (of. Ml 18,20).
97. É nesta
celebração que muitas de nossas comunidades encontram o alimento de sua vida
cristã. Formadas por gente simples, em luta·pela sobrevivência e mais abertas à
solidariedade, estas comunidades espontaneamente unem a Escritura à vida e,
criativamente, integram preciosos eletnentos da religiosidade popular. .
98. Contudo,
não confundimos nunca estas celebrações com a Eucaristiag. Missa é Missa.
Celebração da Palavra, mesmo com a distribuição da Comunhão, não deve levar o
povo a pensar que se trata do Sacrifício da Missa. É errado por exemplo,
apresentar as oferendas, proclamar a Oração eucarística, rezar o Cordeiro de
Deus e dar a bênção própria dos ministros ordenados9.
- reunião dos fiéis para manifestar a Igrejalo. , -
proclamação e atualização da Palavra que a faz transformadora;
- preces, hinos, cantos de louvor e agradecimento, que são a
resposta orante dos fiéis;
- saudação da paz, ofertas de bens e, quando'houver, Comunhão
eucarística que, a um tempo, expressam a solidariedade eclesial e o
compromisso de transformar o mundo. 100. . A coordenação desses elementos exige
um serviço de presidência. Os diáconos são os primeiros encarregados de dirigir
esta celebraçãoll. Entretanto, quando não houver diáco
no ou ministro
instituído, todo o cristão leigo, homem e mulher, por força de seu Batismo e
Confirmação, assume legitimamente este serviçol2. Recomenda-se que os
encarregados desta atividade sejam apresentados à comunidade em celebração
especial para tomar mais evidente a comunhão eclesial. Seja feita esta
designação por um período determinado de tempo.
101. Assim
presidida, a celebração se desenvolve num ritmo,
que exprime bem o diálogo entre Deus e a assembléia:- Os Ritos iniciais expressam
o Senhor, que chama e
reúne seu povo,
e o povo que alegremente vem e se apresenta. Breve monição lembrará à
comunidade sua união com a Igreja local, onde os irmãos celebram e lutam na
construção do Reino'3.
- Na Liturgia da Palavra, proclamada e explicada, o Senhor fala da salvação ao seu povo,
que responde professando a fé, pedindo perdão, suplicando, louvando e
bendizendo.
- A ação de graças é um
ponto alto, porque a grande resposta ao Deus que se faz Salvador é o homem e a
mulher agradecendo. Por ela se louva e se bendiz a Deus por seu grande amor.
Um hino, um canto, uma oração titânica podem exprimi-1a após a Oração dos
fiéis, da Comunhão ou no final da celebração'4.
- Pela Comunhão eucarística, a assembléia exprime e
realiza aí íntima união com Cristo e com a Igreja.
- Pelos Ritos de conclusão os fiéis, que tomaram
consciência de quesão enviados, assumem o compromisso da sua missão a serviço
do Reino na vida concreta.
102.
Finalmente, não podemos esquecer que a celebração da Palavra tem uma ampla
dimensão educativa, levando o povo à sadia criatividade, à valorização dos
ministérios, ao compromisso com o Reino e ao amor à Eucaristia, como expressão
da plena comunhão eclesial.
. 2.3. Sacramentais
103. Na vida
celebrativa do nosso povo têm eclevo também as bênçãos;' as exéquias, as
orações comunitárias. A Santa Igreja mostra seu apreço aos lugares e pessoas
consagradas através de ritos solenes, por exemplo, para a dedicação das igrejas
e a profissão religiosa.
104. As
bênçãos_. A Igreja, que louva e bendiz a Deus, também abençoa e
consagra as pessoas c tudo que concorre para sua vida. Benzer, para a Igreja,
significa afastar o véu que encobre o bem que já na criação o Senhor depositou
nas coisas e o Redentor deseja e oferece aos homens e mulheres que ele salva.
105. É nos
acontecimentos e situações de sua vida que o povo deseja e procura os vestígios
da bondade de Deus. Abençoando, sempre a partir da proclamação da Palavra, a
Liturgia dá resposta plena á estes anseios humanos's.
106. As
bênçãos, além de sua dimensão evangelizadora, abrem perspectivas para a
pastoral, que busca a mútua fecundação entre Liturgia e religiosidade popular.
107. Exéquias.
A dura realidade da morEe com seu doloroso cortejo de sofrimentos e
separações de entes queridos toca
no mais
profundo anseio de toda a humanidade: anseio de vida e convívio perene e feliz.
Nossa fé no mistério pascal, no sentido da morte e ressurreição
de Cristo, nos conduz à Pastora_1 da_esperança, celebrada na Liturgia com
grande respeito pelos sentimentos e costumes do povo nas diversas regiões.
"Na ausência do ministro ordenado, os ministros de culto, especialmente,
nas capelas rurais, presidam as exéquias, com ritual próprio, ressaltando a
liturgia dá Palavra e as orações adequadas à ocasião. 2.4. Oração
comunitária
109.
Santificando o dia, ela santifica os homens e as mulheres em toçias
as suas atividades e louva a Deus em tódos os momentos: porque
é preciso orar sempre sem nunca interromper esse diálogo (of. Lc 18,1; 1Ts
5,17). Todos portanto, são convidados a participar da Liturgia das Horas,
fazendo seus os sentimentos e desejos da Igreja".
110. Quando
circunstâncias diversas privaram o povo das riquezas desta oração, os fiéis se
refugiaram na chamada pie= dada popular, e, conservando as reminiscências do
culto de louvor, chegaram, a seu modo, a expressar sua.fé, celebrar sua
vidá e cultuar
o seu Deus. Haja visto o Rosário de Nossa Senhora, o Angelus,
celebrando a Encarnação nas horas marcantes do dia e a Via sacra,
explicitando os passos da Paixão. E as romarias rumo aos
santuários traduzem de modo concreto a nossa caminhada, seguindo o Cristo
peregrino e festejam a universalidade da Igreja aberta para todos.
Não será demais, por isso mesmo, recordar que os santuários
devem dar à Liturgia uma espccialíssima atenção.
VI. A IGREJA CELEBRA NO TEMPO
( ,.a",-,, f e
111. O Domingo, como um dia especial, Natal e Páscoa, como
tempo de festa, são realidades na vida de todas as pessoas, sejam ou não
membros da comunidade eclesiah.
112. Nossa fé, porém, vê mais em
tudo isso. Tem consciência da plenitude da salvação realizada por Cristo, e
quem tudo foi criado, razão por que é sua missão recapitular em si todas as
coisas (of. Cl 1,16). Seguindo a sucessão de dias e noites e o movimento
regular do sol, que põe ritmo evidente no nosso universo, o cristão se compraz
cm celebrar t<imbcm ritmadamente o mistério de Cristo. O Senhor santificou
todo o tempo e, por isso, todos os dias são santificados. Na vida concreta,
porém, para recordarmos esta verdade, chamamos de "santos" certos
dias e certos tempos em que abrimos mais espaço para celebrar o mistério de
Cristo ou algum aspecto da salvação.
1. O Domingo
113. O cristão, à semelhança dos judeus, consagrou um dia
por semana à celebração de seus mistérios. A escolha recaía sobre o primeira
dia da semana, dia da Ressurreição do Se_nhor, dia também que recorda a
criaçã_o_e_m Çrislo, o recapitulador da História. Por isso, além de ser o Dia
do Senhor, o Domingo é também o dia do Homem que busca viveyberdade2.
114. Em nenhum momento, homens e mulheres seguidores de
Cristo se sentem melhor como filhos de Deus do que na celebração da Eucaristia.
O memorial da morte e ressurreição de Cristo, que nos faz filhos no Filho (of.
Jo 1,12; Gl 3,26), nos une de tal modo a Jesus que em Cristo, com Cristo e por
Cristo, na unidade do Espírito Santo, damos ao Pai toda a honra e toda a glória.
Por isso, a Eucaristia é a celebração primordial do Domingo. Celebração
eucarística a que estão ligadas de certo modo as inúmeras celebrações da
Palavra nas comunidades que não têm padre.
I15. Mas não é só a Missa que
celebra o Dia do Senhor. As primitivas celebrações do Domingo, centradas na
Fração do Pão se realizavam dentro da reunião alegre dos que juntos comiam com
simplicidade de coração (of. At 2,26). Cessar o trabalho neste dia não é só
para descansar, que tem também o seu valor, mas para oferecer oportunidade de
encontro com os irmãos. São celebrações do Domingo, acolhendo o Ressuscitado,
que deseja nossa união fraterna (of. Jo 17,21), as horas de convívio alegre e
gratificante com os seus, as obras de misericórdia com os que sofrem e a
partilha da Palavra em momentos de aprofundamento e reflexão.
116. O Senhor, dizendo aos homens
e mulheres "dominai a terra" (of. Gn 1,28), nos fez senhores deste
mundo. Este senhorio restaurado por Cristo deve ser intensa e conscientemente
celebrado. Urge ver no descanso não apenas um espaço para o ócio, mas a
proclamação cristã da libertação dos filhos de Deus de todo o mal, que o pecado
injetou no trabalho através do suor, da ganância, da competição e exploração.
E ver áinda no passeio, na recreação e no esporte o exercício daquela realeza
com que Deus coroou seus filhos e suas filhas, capacitando-os para dominar a
nattueza, brincar com ela e usufruir de suas riquezas inesgotáveis.
117.
Sentimos fundo no coração a deturpação do Domingo, imposta pelas
injustiças e pelo consumismo de nossa época dominada pelo espírito
secularista.
Alguns
são obrigados a trabalhar no Domingo por imposição de suas profissões. A
caridade com que exercem seus deveres é seu sacrifício
espiritual, já que estão impedidos de celebrar plenamente o Dia do Senhor.
Inaceitável, outrossim, é a sociedade que obriga multidões à luta pela
sobrevivência por causa do trabalho mal remunerado, que desfigura o Domingo
feito dia de horas-extras. A própria realidade urbana dificulta, muitas
vezes, a vivência cristã do Dia do Senhor. 118. Lamentamos também o consumismo
secularista, que leva centenas de pessoas ao mero lazer, viagens e programas,
que mais parecem criados para distrair ou dirigir as atenções em direção oposta
ao culto e à religião.
119. Corremos
também o risco de esvaziar o sentido do Domingo com o excesso e superposição de
comemorações, que pretendemos realçar neste dia, sem notar que não sobra espaço
para celebrar o mistério pascal.
Núcleo de todo o Ano Litúrgico e ponto de convergência de
todos os dias da semana, o Domingo espera, urgentemente, mais atenção de nossa
pastoral.
Nas paróquias com muitas comunidades, programe-se a celebração
das Missas dominicais de modo a possibilitar, por tomo, o Santo Sacrifício em
todas elas. Para isso é necessário reeducar as comunidades centrais no sentido
de se contentarem com a celebração da Palavra, quando a Missa é celebrada nas
outras.
to e da Igreja são recprdados n
sucessão de seus dias, sendo que a consagração da Sábado M'ia é muito
cara à piedade popular. Se a Litrgia das Horas faz deste último dia, o dia da
feliz consumarão, com razão celebramos aquela que, assunta ao céu em' cpo e
allma, já se encontra na glória. Associada ao Cristo, la é também protótipo
da pessoa humana glorificada.
2. Os Ciclos
do Ano ,cirúrgico
122. Tríduo Pascul,
Assim c=omo o Domingo é o ponto alto da semana, o Trídp pascal da
Paixão-Morte, Sepultura e Ressurreição do Segor é o áspice luminoso de todo o
Ano lltUIglCO3.
123. O Tríduo
pascal começa na Quinta-Feira, à hora da Ceia do Senhor, duahdo Cristo
antecipa sacramentalmente sua Morte e Ressurreiçp. Após ,n dia de penitência,
que é a Sexta-feira Santa e Vsp dia de : silêncio, o Sábado, o povo cris'
Cf. SC 100; Nor
haas Gerais ssobre o Ano Lilúrgico e o Calendário, 1
R
tão concentra
suas atenções na Vigília pascal, mãe de todas as viglias4, porque celebra a
Ressurreição de Jesus e a dos cristãos com ele.
124. Tempo pascal. Os cinquenta dias entre o Domingo
da Ressurreição do Senhor e o Domingo de Pentecostes sejam celebrados como
um grande domingo, um só dia de festas. São celebrações que convérgem para
o Cristo vitorioso e entre ríós, enquanto Pentecostes, com a vinda do Espírito
Santo, lembra o coroamento e a culminância da Páscoa do Senhor.
125. Páscoa é
festa e novo ritmo de vida. O Espírito que o Senhor nos dá nos impulsiona
continuamente a viver a nossa páscoa, que são as múltiplas passagens da morte
para a vida. 126. Quaresma. A Igreja preparou os catecümenos para a
iniciação cristã nos quarenta dias que precedem a Páscoa. Hoje a Quaresma
convoca-nos para a oração, o jejum e a caridade expressa pela esmola. Assím
manifestamos a nossa abertura para a Palavra de Deus, que nos leva à conversão
de nossos pecados, para vivermos a fraternidade em que fomos inseridos pelo
Batismo.
A Campanha da Fratemidade, por outro lado, cada ano pede à
Liturgia, um gesto concreto de conversão para todas as comunidades do país.
128. Advento,
Natal e Epifania. A salvação começa com o mistério do Natal, quando
Cristo, edificando sua tenda entre nós (of. Jo 1,14), une o homem a Deus e aos
irmãos, reconstituindo a grande família humana.
131. Chamamos,
de maneira não completamente feliz, de "Tempo comum" o mais
longo tempo de celebraç.ões litúrgicas em que evocamos o mistério de Cristo em
sua plenitude: são 33 ou 34 semanas dedicadas ao memorial do que Cristo fez e
disse, esclarecendo as dimensões de nossa salvação. Foi para pregar e operar
sinais que ele nasceu; morreu para se mostrar fiel à sua missão; e ressuscita
para continuar suas atividades na Igreja de maneira sacramental.
132. O Tempo
comum não é tempo vazio. É tempo de a Igreja continuar a obra de Cristo nas
lutas e nos trabalhos pelo Reino.
133. 0
Santoral. Temos na Liturgia, sobretudo no Tempo comum, um calendário de
comemorações e festas dos santos e, em ,especial, da Virgem Maria. Ninguém
desconhece quanto é cara ao nosso povo a devoção aos santos, abrindo-nos
horizontes para nossa pastoral. A Liturgia valoriza
este culto. Se nos ciclos do Natal e da Páscoa celebramos o que Cristo fez para
sua Igreja, já na comemoração da Mãe de Deus e de todos os santos evocamos o
que a Igreja realiza, em Cristo, para a glória do Pai.
134. Por isso, não basta procurar
nos santos apenas proteção nas diversas contingências da vida; impõe-se mais
tê-tos como verdadeiros modelos de vida, inspiradores de nosso
projeto cristão.
135. Assim, Maria, para além de
toda ternura que sua devoção inspira, deve ser vista sobretudo como Mãe da
Igreja; pois assim como o filho traz em seu rosto os traços de sua mãe, nós
cristãos nos empenhamos por- marcar nossa vida com a escuta da Palavra, o amor
incondicional a Cristo e a caridade solícita para com os irmãos, que
caracteriza a santidade de Maria.
136. Finalmente, não podemos deixar de notar uma certa defasagem
que sofremos, celebrando a Liturgia única em riossas regiões. O Ano litúrgico,
calcado sobre os ciclos cósmicos, encontra maior força de expressão quando se
celebra a Páscoa para a nova Vida num cenário em que a natureza eclode numa
floração de cores e vida. Cabe-nos suprir esse desencontro, ressaltando na
Liturgia outros sinais; em vez da vida que ressurge no cosmos, uni-1a à Vida
que anseia na História. Nesta linha se compreende melhor, por exemplo, a
Campanha da Fraternidade, que nos faz refletir sobre os sinais de morte, que
marcam nossa sociedade para nos abrir, na Páscoa e pela Páscoa, às perspectivas
de Vida, que Cristo nos oferece e nós devemos construir.
Por isso também merece atenção a ìniciativa de algumas
regiões do Brasil, que celebram no último domingo de maio, final das grandes
colheitas, o "Dia do Louvor'.'.
VII. ESPAÇOS E OBJETOS PARA A CELEBRAÇÃO M o J C ¡ v;'· vcc S:1
137. No nosso
país, por toda parte, onde quer que se aglomerem moradias, o povo sente
necessidade de local de reunião para celebrar sua fé.
138. No Missal
e na Liturgia das Horas têm um natural destaque as festas de Dedicação das
igrejas.
Embora as exigências pastorais façam surgir hoje novos lugares
para cclebráão litúrgica, o templo é o espaço mais conveniente para
nosso culto.
139. O templo
é sinal da presença e ação salvífica do Pai; é imagem do Corpo Místico de
Jesus Cristo, único e verdadeiro templo, construído com pedras vivas para
oferecer sacrifícios novos (of. Jo 2,19 e 21). O próprio Deus consente que
nossos edifícios sejam sua casa', pois nesse espaço ele nos dá vivenciar a sua
união conosco e a união fraterna entre nós. 140. Por isso, a igrcja-edifício é
sinal também da IgrejaComunidade2. Assim este edifício não é uma construção
qualquer: é sinal da Igreja peregrina, é imagem da Igreja celeste3. 141. A Igreja, como família
de Deus, precisa de uma casa para reunir-se, dialogar, viver na alegria e na
comum-união os grandes momentos de sua vida religiosa.
Tendo em vista a crescente urbanização, os gestores cuidem,
devidamente, de que todas as comunídades sejam dotadas de locais de culto
identificados claramente. Para manter a memória do sagrado no mundo que se
dessacralíza, valoriza-se o toque dos sinos nos horários devidos.
Para que cada um possa exercer corretamente a sua função, tenham
o devido destaque, o presbitério, o altar, a sede da presidëncia, a mesa da
Palavra, a cruz, o tabernáculo e lugar para os diferentes ministérios, para
favorecer a participação dos fiéíss.
144. Os vasos
sagrados, os lugares, os livros e as vestes merecem atenção especial. No altar
mantenha-se apenas o estritamente necessário para a Celebração eucarística.
É tradicional o costume de empregar material nobre para os
vasos sagrados, dando-se liberdade aos artistas para executá-tos com
criatividade e bom gostoó.
145. Os livros
litúrgicos sempre foram cercados de especial veneração e trabalhados com arte
esmerada por conterem a Palavra de Deus. Proclamá-1a, lendo folhetos, não
expressa a dignïdade da Palavra e o apreço que por ela temos. Urge reintroduzir
em nossas celebrações o uso dos Lecionários ou ao menos da Biblia, para que
possamos melhor sentir e expressar o apreço por Deus que nos fala.
146. As vestes
litúrgicas com suas formas especiais e cores variadas', são sinais para o povo
e para os própríos mínístros de que eles agem aqui e agora em nome e na pessoa
de Cristo e da Igreja. Indicam ainda a diversidade dos serviços prestados na
celebração através do minìstro8.
148. Os
etementos-sinais na celebração. Como sacramento de Cristo, a Igreja revela
e realiza a glorificação de Deus e a santificação da humanidade através de
elementos naturais: pão, vinho, óleo, água, luz, fazem parte do comer, beber,
ungir, lavar e iluminar, que são sinais nos sacramentos. A Liturgia recupera
assim o sentido do mundo criado, revelando nos vãrios elementos a sua
capacidade de expressar simbolicamente a bondade do Criador.
É conveniente que esses elementos, para melhor serem sinais,
sejam usados com certa abundância, que represente a refeição, o banho
purífícador, a unção reconfortante.
VIII. LITURGIA
E ESPIRITUALIDADE
149. Vida
espiritual é uma vida orientada e alimentada pelo Espírito, que Cristo prometeu
e derramou em
Pentecostes. Desde então é o próprio Espírito que, dando
testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Dcus, nos leva a viver como
irmãos e irmãs e a construir o mundo, sinal do Reino, que Deus quer para sua
fami'lia.
150. Como
testemunham os Atos dos Apóstolos (At 2,42) os primeiros cristãos assimilaram
logo as dimensões bb_lica, cómunitár_ia, sacramental e de
comrómisso da_vida cristã. Pois freqüentavam a doutrina das testemunhas
da Ressurreição, o encontro com os irmãos, o partir do pão entre orações, conquistando
a simpatia de todo o povo (of. At 2,27).
151. Na Igreja
existem diversas formas de espirüualidade, nascidas do modo dc viver o
seguimento de Cristo sob o impulso do Espírito Santo, que é sempre o mesmo e,
entretanto, distribui generosamente sua diversidade de dons (of. lCor
12,4-ll).
152. Muitos
santos, alguns deles fundadores de Congrcgações e Ordens religiosas, graças ao
carisma que lhes é próprio, iniciam um estilo de vida expresso na maneira de
aceitar o dom da filiação e o projeto do Pai. E para felicidade da Igreja,
fizeram escola.
153. . A
Liturgia é fonte de vida e expressão celebrativa da comunidade eclesial. Nela,
homens e mulheres chegam ao mais alto patamar da comunhão com Deus, quando a
criatura ama
da e redimida
por seu Senhor, dilata seu coração numa pcrene ação de graças, que se toma,
por sua vez, bendita escola de gratuidade. Por outro lado, os leigos encontram
fundamento para sua espiritualidade no Evangelho vivido por tantos cristãos
leigos ao longo da história da Igreja.
154. Além
disso, as comunidades eclesiais encontram na Liturgia os grandes elementos de
toda vida espiritual: ali está a Palavra nos espaços privilegiados que as
celebrações lhe dão. 155. Nunca rezamos tão unidos como na Liturgia, que se
define como ação comunitária por excelência e é vista como escola e expressão
alta de comunhão.
157. E porque o
mistério pascal de Cristo celebrado e atualizado em cada sacramento deve
ressoar e complctar-se na vida, toda a Liturgia deve levar a um compromisso
social. O cristão celebrante é sinal vivo do mistério pascal e portanto
instrumento de salvação integral. Por outro lado, na medida em que as
comunidades estão comprometidas com a transformação do mundo, seu engajamento
repercute na Liturgia, fonte e ápice de toda a vida cristã.
159. As
celebrações são o exercício do sacerdócio de Cristo, revelam, anunciam e
tornam presentes as ações redentoras
do Filho de
Deus, sacrificado pela libertação e salvação da humanidade.
160. Ligada a
Cristo, que é o Verbo feito come para viver as realidades humanas, a Liturgia
anima a vida cristã como a alma, todo o corpo. Dá dimensão espiritual à Semana
pela celebração do Domingo, ao Ano todo pela seqüência dos ciclos; está
presente nos pontos altos da vida, pelos sacramentos e nos acontecimentos e
situações do dia-a-dia, através da celebração de bênçãos apropriadas.
Em síntese, pode-se dizer: a espiritualidade litúrgica é o
exercício antêntico da vida cristã, como vida em Cristo, enraizada nos
sacramentos da Iniciação Cristã e que se atualiza nas diversas ações
litúrgicas especialmente na participação ativa na Eucaristia, da qual nasce e
para a qual tende o testemunho na esperança da feliz realização do Reino.
IX. ADAPTAÇÃO E CRIATIVIDADE 161. A reforma
litúrgica provocou uma onda de reflexões e iniciativas, visando a encarnação
das celebrações na vida, na índole e expressão do nosso povo. Para torná-1a
mais atraente, buscaram-se meios, nem sempre felizes, de torná-1a menos
desencarnada, fria e sem vida e mais espontânea, alegre e popular'.
162. Este
esforço de incorporação das expressões culturais em nosso culto tem suas razões
de ser. A longa história da Liturgia nos mostra como e quanto as adaptações Ihe
são conaturais.
163. Haja visto
o apelo que nos vem, neste sentido nos grandes documentos da renovação
litúrgica, pois a Igreja não deseja impor forma única e rígida de celebração,
sem atender as legítimas variações exigidas pela diversidade dos grupos,
regiões e povos2.
164.
Entretanto, estamos aqui num terreno complexo e difícil, não só devido à
herança pesada de quatro séculos de imobilismo, mas também porque não é fácil
mudar as formas da celebração sem violentar a identidade da Liturgia. Além de
um profundo conhecimento da Liturgia em suas dimensões teológicas e histórica,
impõe-se formar uma idéia clara e firme do que se pretende com as várias
adaptações que buscamos3.
167. O grande
motivo para mudar palavras, gestos, sinais e ritos não é o gosto das pessoas
celebrantes ou a moda em voga em determinados momentos, mas a maior
participação no culto a Deus4 integrado em nossa vida atual.
168. Por isso,
a adaptação litúrgica se faz com critérios: é para tornar os
sinais mais transparentes à mentalidade e cultura do povo; é para conseguir
aquela participação consciente e ativ_a que nos põe em comunhão com a
Igreja local e universal; é para ressaltar melhor _o _conteúdo fundamental
de nossa Liturgia, que é celebração da fé no mistério de Cristo,
ponto culminante do projeto de Deus.
169. Esta
adaptação com estes critérios se exerce em vários níveis: tem lugar tanto na
tradução dos textos e modificação dos ritos, como na celebração dos
sacramentos e da Eucaristia, atema à índole das diferentes assembléias.
170. Criatividade.
Tanto a adaptação, como a aculturação e a inculturação, exigem muita
sensibilidade e inteligência clara na hora de se reformular ritos, gestos,
sinais e textos.
Por criatividade não se deve entender tirar como que do nada
expressões litúrgicas inéditas. Pelo contrário, a verda
deira
criatividade é orgânica: está ligada aos ritos precedentes como o celebrante de
hoje aos do passado. Uma fé, que não cria cultura, não foi suficientemente
anunciada, não foi completamente assimilada ou não foi plenamente vivida.
171. Para
melhor entender a criatividade é mais prático observar onde ela se realiza.
Celebrar bem é o primeiro princípio da criatividade. O
presidente a assembléia, por exémplo, não pode exécutar gestos e textos sempre
do mesmo modo, quando está só com crianças ou num pequeno grupo ou numa igreja
lotada.
172. E
sobretudo, em qualquer situação, fazer com que os ritos e as pálávras
tenham vi_da e exprimam a fé que desperta a Palavra proclamada, a
oferta trazida ao altar, a procissão rumo à mesa eucarística. Nada disto se
encontra nas rúbricas: é preciso criar.
173. Já há
espaço para a criatividade nas opções oferecidas pelos livros para vários
ritos, como o ato penitenciai, leituras para os sacramentos e para o canto. É
com as atenções voltadas para a assembléia que a escolha deve ser feita,
quando se prepara seriamente a celebração. O mesmo se diga, com mais razão, das
várias aberturas que são dadas ao presidente para fazer a sua exonação ao seu
povo. Os folhetos deveriam oferecer possibilidades para as devidas adaptações
dentro de uma sadia criatividade.
174. É meta da
criatividade a introdução de novos símbolos, mais compreensíveis do povo de
hoje, porque criados pela piedade popular ou experimentados nas CEBs e outros
grupos de oração5. Para isso inaugure-se um processo de pesquisa, reflexão e
análise, com ajuda de um grupo de trabalho,
integrado por
teólogos, liturgistas, pastoralistas e outros especialistas.
175.
Finalmente, a Igreja vista hoje como toda ministerial e Cristo, compreendido
como Libertador do homem todo, sob a ação do Espírito que a anima, hão de levar
o homem todo a novas maneiras de celebrar, na Liturgia, a fé que professamos
na vida.
176. Aculturação.
A criatividade vai além da adaptação que transplanta ou enxerta elementos
culturais na Liturgia. Por ela espera-se mais, e qüer se chegar a um nível mais
profundo que se chama aculturação.
177. De modo
geral, aculturação acontece no encontro de duas culturas resultando daí
uma síntese ou a dominação de uma pela outra.
Aplicado à Liturgia, o termo designa o roces_so di_nâmico
que se desencadeia quando a fé se ,inst<la nas bases de uma cultura.
Há elementos culturais próprios de cada povo que são
compatíveis com a liturgia romana, primeiro porque são isentos de erro e
superstição e assim, facilmente, podem ser incorporados por ela; além disso,
se a Igreja cultiva os valores das várias nações, não é apenas para atender ao
desejo dos povos, mas para secundar as exigências da própria Liturgia. 178. Na
medida em que este processo leva à elaboração de novos elementos nos ritos, é
preciso aprovação da Conferência Episcopal e da Sé Apostólicaó, pois cabe a
essas instâncias garantir o autêntico espírito litúrgico e preservar a unidade
substancial do rito romano.
179. Inculturação.
A inculturação já é processo mais profundo: simplesmente incorpora
ritos sociais ou religiosos, dando-lhes sentido cristão, sem desfigurar
sua natureza. A própria liturgia romana assim se formou, incorporando, por
exemplo, a festa pagã do Sol invicto na celebração do Natal. 180. Por esta
inculturação a Liturgia se propõe continuar na História o milagre de
Pentecostes quando, sob o impulso do Espírito, multidões entendiam a linguagem
única do amor e proclamavam as maravilhas de Deus, expressando-se cada um em
sua língua (of. At 2,4.6).
181. Nas
Missões modernas, voltando ao espírito de Sáo Paulo, missionário das nações, a
Igreja descobriu na floração dos valores culturais dos povos, as sementes do
Verbo presentes no íntimo das pessoas à espera da luz do Evangclho. 182. O
Concílio confiou à competência e ao zelo das Conferências Episcopais de todo o
mundo a incumbência dc estudar com seus peritos os elementos que oportunamente
podem ser incorporados na Liturgia. Isto vem ao encontro dos anseios de
integrar em nossas celebrações expressões da religiosidade popular.
183. Entre nós
os vários grupos étnicos, como os índios, os negros, os orientais, apresentam
muitos desses elementos, que já merecem ser incullurados em nossas celebrações,
sobretudo nos sacramentos.
, X. A PASTORAL LITURGICA
184. Uma visão
geral da Liturgia abre novos horizontes para a vida da Igreja e não dissimula,
mas ressalta os grandes desafios que urge enfrentar.
186. Promover a
Liturgia já é ação pastoral pelas dimensões comunitária e ministerial,
catequética, missionária, ecumênica e transformadora que ela possui. Ela não
esgota toda a ação da Igreja, mas promovendo-a, estamos desencadeando o
dinamismo de todas as pastorais, pois a Liturgia é fonte e ápice de toda
atividade eclesial'.
187. Coração e
cérebro desta pastoral é a Equipe de Pastoral Litúrgica em nível nacional,
diocesano e paroquial. Ca beIhe com a CNBB, com o bispo ou com o pároco
planejar, nos respectivos campos de ação, a Pastoral litúrgica, o que será mais
eficiente se continuamente pesquisar a situação real dos que celebram,
aprofundar sempre mais seu conteúdo teológico, formar agentes e organizar sua
ação.
188. Estas
equipes, grande anseio do Conci7io, nós as estamos organizando de modo lento
demais face às urgências desta pastoral2.
190. É
fundamental que os seminaristas se familiarizem com o espírito litúrgico e se
preparem bem para presidir as celebrações; para isso importa que os diversos
aspectos da formação no seminário encontrem expressão privilegiada nas celebrações
litúrgicas, além de observar atentamente a carga horária mínima e o conteúdo
programático estabelecido3. Assim
, a vivência da Liturgia acompanha todas as etapas da vida do
formando. É importante que desde o início do seminário tenha uma participação
consciente e ativa na Liturgia e aprenda gradativamente a celebrar a Liturgia
das Horas. O Ano Litúrgico deve orientar a espiritualidade comunitária do seminário.
191. Que os
presbíteros se aprimorem de modo permanente para crescerem na compreensão e
animação dos vários ministérios4, já que para a maioria do nosso povo a celebração
da Liturgia é a única evangelização de que participam de fato ao longo de sua
vida. E não se esqueça que a Liturgia mal celebrada causa freqüentemente o
afastamento dos fiéis. Os presbíteros valorizem, a celebração da Liturgia das
Horas, como parte de seu ministério..
192. Os homens
e mulheres que assumem funções ou só participam na Liturgia sejam imbuídos do
espírito litúrgico, tenham consciência dos mistérios que celebram e sejam capacitados
para executar as suas funções5; e que os irmãos e ir
mãs religiosos
tenham no programa de seu processo formativo a preocupação de transformarem a
Liturgia em fonte da própria espiritualidade e de se tornarem animadores da
celebração litúrgicaó, inclusive, participando de cursos promovidos pela CRB e
dioceses.
194. Por outro
lado, a pessoa humana que celebra, sendo profundamente marcada pelas
circunstâncias históricas, sociais, culturais e políticas, tem naturalmente
maneiras diferentes de se expressar. Isso é importante para a Liturgia, que
deverá ser sensível às condições da população: se é urbana ou rural, se vive em
ambiente secularizado, ou dominada pelos Meios de Comunicação Social'. É
preciso estudar esta antropologia que dá tão precioso contributo para a
formação litúrgica.
195. Tenha-se
presente que a grande meta desta formação ampla e profunda é preparar agentes
para a aculturação e a inculturação da Liturgia, porque homens e mulheres que
vivem as duas realidades, a sócio-cultural e a celebrativa, poderão facilitar
a tarefa para os responsáveis por esse processo. 196. É importante, enfim,
partir para este enriquecimento da Liturgia, porquanto, precisamos fazer a
celebração sempre mais autêntica, mais unida à vida, para transformar a vida
toda em oração.
II PARTE ORIENTAÇÕES PASTORAIS
SOBRE A CELEBRAÃO . EUCARISTICA
197. Tendo em
mente o que vimos na I PARTE, vamos agora considerar apenas a Missa
dominical celebrada com o povo. Esta é a forma de celebração denominada
"típica" pela Instrução Geral sobre o Missal Romano (cf. n°
77-78). Eventualmente, pela escassez de padres, pode acontecer, especialmente
em ambientes rurais, que esta forma, infelizmente, só deva realizar-se em dias
de semana.
198. Estas
celebrações da comunidade reunida para a Ceia no Dia do Senhor, embora tenham
uma unidade fundamental, são muito diferentes, dependendo do lugar e dos grupos
de pessoas. Não é o mesmo celebrar no centro da cidade ou na periferia, na
capela rural ou numa catedral, com muitos fiéis ou poucas pessoas numa CEB. O
mesmo se pode dizer de celebrações no Norte, Nordeste, ou no Extremo Sul. Não
se pode deixar de levar em consideração estas particularidades, em conseqüência
do princípio: o sujeito da celebração é a Igreja reunida em assembléia, com
suas particularidades próprias.
199. É com
profundo respeito por esta diversidade da Igreja reunida para a celebração que
foram elaboradas as orientações que se seguem. Elas hão de contribuir para uma
celebração mais ativa, consciente e frutuosa da Missa na Igreja no Brasil, que
quer dar novo ânimo à vida litúrgica.
200. Estas
orientações pastorais não substituem a Instrução Geral sobre o Missal Romano
e demais diretrizes dos Dicastérios Romanos ou as orientações do
Episcopado. Querem, apenas, sublinhar alguns pontos que parecem mais importantes,
interpretando-os à luz da realidade do nosso povo, simples e sedento da
Palavra.
201. Queremos
incentivar as comunidades a valorizar ainda mais a celebração da Missa e
encorajar pastores e Equi
pes de Pastoral
Litúrgica a prosseguirem no esforço de tornar mais evidentos suas riquezas. A
celebração da Ceia do Senhor é, de fato, o grande momento da ação do
Espírito Santo sobre a comunidade. Nela se realiza o verdadeiro encontro celebrativo
de irmãos, num momento comunitário, festivo, participativo e orante, que brota
do chão da vida, ao mesmo tempo, ponto de partida e de chegada da vida cristã.
202.
Primeiramente se trata de alguns elementos que dizem respeito à Missa em geral,
mas do ponto de vista pastoral, complementando as considerações da I PARTE. Em
seguida, se abordam, pormenorizadamente, as diversas partes da Missa.
I. A CELEBRAÇÃO
DA EUCARISTIA
1. Celebração
da Eucaristia e Comunidade . 203. Ser
cristão é fundamentalmente, pelo Batismo, seguir
o caminho de
Cristo na vida e entrar como Igreja na caminhada pascal do Senhor. A
celebração da Missa, como toda celebração, é sempre tempo especial, que os
batizados tomam para fazer o memorial da ação de Deus em favor de seu povo: o
que Deus fez ontem, faz hoje e fará sempre. A vida antecede e sucede à
celebração, porque celebrar é um momento de nossa vida, mas diferente da labuta
cotidiano. Existência cristã e celebração estão intimamente relacionadas, pois
a vida precisa de momentos de celebração para ser vivida em Cristo. 204. Com
freqüência, porém, no Brasil como em outras partes, sente-se um anseio pua que
a relacão entre Liturgia e vida apareça melhor na celebração. Ora, na
Eucaristia-Páscoa do Senhor, é onde a vida se articula mais com a celebração;
pois a Missa é que melhor celebra a Morte e Ressurreição de Cristo,
acontecimento fundente não só da Liturgia, mas de toda a História.
205. Celebrar o
mistério de Cristo é celebrar Cristo em nossa vida e a nossa vida em Cristo. À
luz do mistério pascal, a caminhada do continente latino-americano, marcado
pelo mal e em busca de uma libertação integral, deve ser interpretada como
processo pascal. Portanto, não é alheia à celebração. 206. As comunidades, na
sua caminhada, saberão como integrar Liturgia e vida. A tradição litúrgica da
Igreja lhes
apontará outros
dois caminhos: a aculturação e a integração dos acontecimentos na celebração.
A Missa, que sempre comportou os elementos visuais que ajudam
a oração, pode hoje beneficiar-se com os modernos recursos, como slaides,
posters, vídeos e retro-projetores. 208. A recomendação para dar não só valor, mas
"grande valor" ao canto e à música nos leva a insistir neste particular.
Fundamental é que a assembléia se expresse a seu modo e por
isso, ela escolha e até, sem excluir outros, componha seus próprios cantos.
Para que o povo tenha formação para isso e produza letra e música adequadas à
Missa e outras celebrações, é preciso educá-1o. Um subsídio, por exemplo, é o
Hinário publicado pela CNBB.
209. Além
disso, é necessário ampliar a área do canto, hoje ainda um tanto restrita em
nosso meio. A Oração eucarística, nas partes permitidas ou ao menos o Prefácio
e a Narração da Instituição; as leituras ou a sua conclusão são um campo quase
inexplorado ainda. E as aclamações, pelo seu valor de diálogo, comunicação e
participação dos fiéis, devem ter mais incentivo e ser mais variadas: cantos,
palmas ou vivas.
210. Os
instrumentos musicais disponíveis em cada região podem ser admitidos no culto
divino a juízo e com o consentimento do Bispo Diocesano contanto que sejam
adequados ao
uso litúrgico ou possam a ele se
adaptar, condigam com a dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação
dos fiéis'.
2. Preparação
da Celebração da Eucaristia
211. Todas as
recomendações e perspectivas acima lembradas exigem que a Missa não seja uma
celebração improvisada ou rotineira, mas preparada com esmero.
214. Por isso,
é necessário envolver a comunidade de modo mais amplo e mais ativo, por
exemplo, na seleção e ensaio dos cantos e na preparação prévia das leituras
bôlicas: na escolha de gestos e ritos expressivos, conforme seus costumes, bem
como possa sugerir pistas para monições e inúoduções. Pode ainda colaborar na
escolha do rito penitenciai, com eventuais questionamentos ou invocações,
propondo intenções para a Oração dos fiéis, e até sugestões para a homilia.
215. Sobretudo
nesta busca de uma Missa sempre bem preparada, é indispensável ter uma Equipe
estável de Pastoral Litúrgica, distinta eventualmente de Equipes de Celebração.
Não há evidentemente normas quanto a constituição e ao funcionamento de uma
Equipe de Pastoral Litúrgica. As experiências das comunidades são importantes
neste ponto. Assim a Equipe de Pastoral Litúrgica é aquela que, de modo estável,
se preocupa com a vida litúrgica da comunidade local, que celebra não somente a
Eucaristia, mas lambem os outros sacramentos e sacramentais.
217. Quanto às
Equipes de Celebração, além de estarem abertas à participação para um número
maior e mais varíavel de pessoas, podem ser constituídas por grupos definidos, sob
a orientação da Equipe de Pastoral Lilúrgica. A Paróquia terá então a equipe
dos jovens, dos casais, das catequistas, do quarteirão, do bairro ou do
movimento, que vão se revezando na animação das Missas e dos sacramentos.
218. O padre
participará o mais possível da preparação. De qualquer forma, antes da
celebração, por exemplo, através de uma folha-roteiro e de um breve encontro, o
sacerdote e cada um dos que irão exercer uma função particular, saibam quais os
textos, cantos, ritos, orações que lhes competem, "pois a
boa ordenação
da celebração é importante para a participação de todos"5.
219. Haverá
certamente muitas maneiras de se preparar uma celebração. Indicamos uma, ao
lado de outras possíveis:
220. 1 °
Passo: situar a celebração no Tempo litúrgico e na vida da comunidade.
1) Situar a celebração no Tempo litúrgico: ver o Domingo e o Tempo litúrgico. Por exemplo: IV Domingo
da Páscoa, Evangclho do Bom Pastor. No início de um novo Tempo litúrgico será
útil aprofundar o sentido do Tempo, discutir algumas características próprias
que darão um estilo à sua celebração. Não se celebra do mesmo jeito na Quaresma
ou no Tempo pascal.
221. 2)
Situar a celebração na vida da comunidade: auscultar os acontecimentos que
marcam a vida de nossa comunidade que passaram ou que vêm: sociais,
religiosos; do diaa-dia, da comunidade, da região; nacionais,
internacionais... Para enraizar a celebração no chão da vida, na história onde
nos atinge o mistério de Cristo que celebramos, é bom ver a realidade que marca
as nossas vidas.
222. 3) Ver
outros acontecimentos que marcam a celebração: por exemplo, uma data
especial, dia da Bíblia, mês de maio, dia das mães, aniversário do pároco e
outros já citados, marcarão a oração dos fiéis, o rito penitenciai, a homilia.
223. 4) Ver
com quem se vai celebrar: o conhecimento da assembléia com suas
características próprias, sem esquecer os
grupos
minoritários, é importante, também, para situar a celebração no tempo e na
história.
224. 2°
Passo: Aprofundar as leituras.
Neste segundo passo da preparação lêem-se os textos bíblicos à
luz dos acontecimentos da vida e do mistério celebrado (1g passo). Convém
iniciar pelo Evangelho que é a leitura principal do mistério de Cristo
celebrado; e, a seguir, a lá leitura, o salmo responsorial e a 2á leitura.
225. Opera-se,
então, o confronto entre a Palavra de Deus e a vida ajudado pelas perguntas: o
que dizem as leituras? o que significam para a nossa vida? como podem orientar
o nosso agir? quais os desafios de nossa realidade hoje? como a palavra de Deus
ilumina nossa realidade? como ligamos a Palavra com o mistério celebrado?
226. 3°
Passo: Exercício de criatividade.
À luz dos passos anteriores - vida da comunidade, Tempo
litúrgico, Palavra de Deus - procura-se, num exercício de criatividade, fazer
surgir idéias, mesmo sem ordem, à maneira de uma tempestade mental. Selecionar
depois as idéias a respeito de ritos, símbolos, cantos, para os ritos da
entrada, o ato penitenciai, o gesto da paz, a proclamação das leituras etc.
227. 4°
Passo: Elaborar o roteiro da celebração, levando em conta os passos
anteriores.
Define-se primeiramente o tom da celebração, isto é, o estilo
global que convém a uma Missa de Páscoa, ou de 7g Dia, ou com crianças... A
seguir, passando em revista as diversas partes da Missa, escolhem-se os
cantos, os ritos clc.,
para cada
momento da mesma, registrando tudo numa folharoteiro, que servirá de guia para
os diversos ministros.
228. Aí também
se distribuem as tarefas e os serviços; anotam-se coisas a fazer antes da
celebração, como cartazes decoração, ensaios ele; e também o que deve ser
feito durante a celebração: não só o que fazer, mas quem o faz e quando.
II. AS PARTES
DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA 229. A Missa compõe-se das
seguintes partes: A) Ritos iniciais; B) Liturgia da Palavra; C) Liturgia
Eucarística; D) Rito de Encerramentol. É importante que saibamos reconhecer
estas diversas partes, que formam a espinha dorsal da celebração, pois é no
interior deste esquema fundamental que serão feitas as escolhas que visam a eficácia
pastoral.
230. Ao
considerar as diversas partes da celebração, sublinhamos apenas aquelas que
parecem mais importantes nas circunstâncias pastorais diversificadas da Igreja
no Brasil, à luz da caminhada de 25 anos de celebração da Eucaristia, desde o
Vaticano II.
I. Ritos iniciais da Missa: formar assembléia, "entrar no clima da celebração".
231.
O ESQUEMA
RITUAL Canto de abertura
Sinal da Cruz,
Saudação, Acolhida Ato penitenciai
Hino
"Glória a Deus" Oração do dia AMÉM
232. As partes
que precedem a Liturgia da Palavra, isto é, introdução eventual à celebração
pelo(s) animador(a), "entrada dos ministros, saudação, ato penitenciai,
Senhor, tende piedade, Glória e Oração do dia (Coleta) têm caráter de exórdio,
introdução, preparação"2. Por isso mesmo tem grande importância para uma
boa celebração.
233.
"Esses ritos têm por finalidade fazer com que os fiéis reunidos constituam
a comunidade celebrante, se disponham a ouvir atentamente a Palavra de Deus e
celebrar dignamente a Eucaristia"3.
234. Para suscitar
estas disposições poderá ser oportuno, sempre segundo as circunstâncias locais,
desenvolver ou sublinhar mais um ou outro elemento inicial, evitando acentuar
tudo ao mesmo tempo.
235. 0
Diretório para Missas com crianças prevê, para evitar a dispersão,
que se possa "omitir um ou outro elemento do rito inicial", exceto a
Oração do dia (Coleta) e sem que nenhum seja sempre desprezado4.
236. Em certas
circunstâncias tradicionais, o Missal Romano prevê também a omissão parcial ou
total dos ritos iniciais excetuada a Oração do dia, quando outros ritos
precedem e integram a liturgia do dia, por exemplo, no Domingo de Ramos e da
Paixão e na Apresentação do Senhor, após a procissão. Nestes casos, os ritos
de bênção e procissão desempenharão também a função dos ritos iniciais, que é
a de constituir a assembléia, bastando a Oração do dia e o Glória, quando
previsto. O mesmo poderá dar-se, se oportuno, em certas
circunstâncias
de nossas comunidades, por exemplo, na Festa do Padroeiro ou encerramento do
mês de Maio ele., quando a Missa segue imediatamente a procissão solene. Também
no caso de integração da Liturgìa das Horas com a Missa, há substituição de
ritos iniciais. Nunca há de faltar, no entanto, a Oração do dia (Coleta), que é
a mais tradicional forma de abertura de uma celebração.
Entrada 237. Nossas celebrações costumam ser precedidas por breves
palavras iniciaís do(e) animador(a). Mais do que uma exortação ou de uma
introdução temática, é preferível situar a celebração deste Domingo particular
no contexto do Tempo litúrgico e das circunstâncias concretas da viáa da
comunidade; evocar algumas grandes intenções subjacentes à oração, suscitar
atitudès de oração e convidar ao início da celebração com o canto da entrada.
238. Enquanto o
sacerdote entra com os demais ministros, a assembléia é convidada a
levant<r-se, para du início à celebração com o canto da entrada.
A finalidade deste canto é
justamente dar início à celebração, criar o clima que vai promover a união
orante da comunidade e introduzir no mistério do Tempo litúrgico ou da festas.
Por isso, pode ser útil prolongar o tempo deste primeiro canto, para que
atinja a sua finalidade.
239. Este canto
de abertura acompanha também a entrada do sacerdote e dos ministrosó. Onde for
possível, é convenien
te valorizar
uma verdadeira procissão de entrada do sacerdote e dos demais ministros, que
prestarão um serviço específico na celebração: acólitos, ministros
extraordinários da Comunhão, leitores e outros ministros, como, por exemplo, os
que vão ler as intenções da Oração dos fiéis, os que vão trazer as oferendas,
eventualmente, cantores etc. Estes ministros, ogortunamente, tomarão lugar no
presbitério. 240. Há possibilidade de uma grande variedade nesta procissão. O
Missal Romano' prevê, se oportuno, o uso de cruz processional acompanhada de
velas acesas, turíbulo já aceso, livro dos Evangelhos ou Lecionário. Outras
circunstâncias poderão sugerir novos elementos como círio pascal, água bcnta,
bandeira do padroeiro numa festa de santo, ramos, cartazes com dizeres,
participação de representantes da comunidade (adultos, jovens, crianças)8.
242. Não
havendo nenhuma possibilidade de procissão de entrada, como ocorre
freqüentemente em capelas com muita gente, o sacerdote poderá fazer
primeiramente a saudação, para convidar, em seguida, o povo a cantar o canto
inicial9.
Saudação ao
povo reunido
243. Para
saudar o povo reunido, expressando a presença do Senhor nele e o mistério da
Igreja'°, o sacerdote é convidado a usar uma fórmula ritual de inspiração
bíblica à qual o povo responde com uma fórmula conhecida e sempre a mesma.
Eventualmente, a saudação ritual ganhará mais significado se
for cantada.
244. É
desejável que após esta saudação ritual haja uma palavra mais espontânea de
introdução do sacerdote ou de outro ministro idôneo".
Uma sadia criatividade saberá desenvolver com fruto diversas
inovações possíveis como: saudação espontânea aos presentes, em particular aos
visitantes ou novos membros da comunidade que se apresentam; a categorias
específicas, conforme as circunstâncias (jovens, casais, mães clc.), seguida
eventualmente por um breve canto de boas vindas. A motivação para a celebração
pode incluir intenções da assembléia, ou acontecimentos a comemorar à luz do
mistério pascal. Oportunamente, gestos da assembléia poderão intervir, por
exemplo, acolher-se mutuamente através de saudações aos vizinhos, batér palmas,
dar vivas em tionra do Cristo Ressuscitado, a Nossa Senhora, ao Padrociro(a)
em dia de festa etc. 245. Em tudo isso, trata-se de ajudar a criar um ambìente
acolhedor, fraterno e formar uma verdadeira comunhão na fé, usando de
discernimento e variedade, conforme as circunstâncias do Tempo litúrgico, de
lugar e de cultura.
Ato penitenciai
246. "Em
seguida, o sacerdote convida ao ato penitenciai , realizado então por toda a
comunidade, por uma confissão geral, sendo concluído com a absolviçãe-
geral"'2
247.
Geralmente, entre nós, o ato penitenciai é um momento importante da
celebração, valorizado por uma sadia criatividade. Muito bem acolhido em
nossas comunidades, tem como função preparar a assembléia para "ouvir a
Palavra de Deus e celebrar dignamente os santos mistérios"13.
248. Além de
celebrar a misericórdia divina, duas atitudes básicas podem ser sublinhadas: o
reconhecer-se pecador, culpado e necessitado de purificação, na atitude do
publicano descrita em Lucas I 8,9-14,
e o reconhecer-se pecador com expressão de "temor" diante da
experiência do Deus Santo e Misericordioso, a exemplo de Pedro, conforme Lucas
5,8 e Isaías 6,1-7. De acordo com as circunstâncias, pode-se acentuar um ou
outro aspecto.
249. O Missal Romano prevê o seguinte esquema: Introdução do
rito pelo sacerdote
momento de
silêncio
fórmulas várias
para reconhecer-se pecador: a) Confesso a Deus (Ato de contrição)
b) Versículos:
Tende compaixão...
c) Forma titânica: invocação à escolha e resposta: Senhor,
tende piedade...
Conclusão:
absolvição geral
250. Temos,
pois, os seguintes elementos: a) introdução pelo sacerdote; b) parte central do
rito, que permite a intervenção de outros ministros que não sejam o sacerdote;
c) conclusão com a absolvição geral, onde o sacerdote também se inclui para
deixar claro que não se trata do sacramento da Penitência
Todo o rito, por sua vez, pode ser substituído pelo Rito da
Bênção e Aspersão da águal4.
O ponto central do rito comporta, além de um tempo de
silêncio, fórmulas diversas de reconhecer-se pecador: 1) Ato de contrição
(Confesso a Deus); 2) Versículos: Tende compaixão...; 3q Forma Iitânica com
invocações à escolha e resposta: Senhor, tende piedade de nós.
251. Este
esquema, respeitando o espírito da variedade, poderá ser usado com grande
flexibilidade. Um ministro que não seja o sacerdote poderá orientar o momento
de silêncio com um exame de consciência para cada um olhar a sua vida e deixar
que Deus olhe o seu coração ou orientar as invocações livres do "Senhor,
tende piedade"'s.
252. Existe a
possibilidade de o rito penitenciai integrar ou ser complementado por cantos
populares de caráter penìtencial, refrões variados, atitudes corporais
(inclinar-se, ajoelharse, erguer as mãos em súplica, bater no peito, fechar os
olhos, colocar a mão no coração etc.), símbolos (objetos ou gestos), bem como
de elementos visuais (cartazes, slaides...) que se julgarem mais aptos para
externar os sentimentos de penitência e de conversão.
253. Os tempos
penitenciais como a Quaresma e outros, quando não se canta o Glória, serão mais
propícios para um
ríto
penitenciai mais desenvolvido, de acordo com a pedagogia do Ano litúrgico,
permitindo assim maior variedade.
254. Embora se
deva educar a consciência moral, cuidar-seá para não se cair nem no perigo do
moralismo nem no de acusação aos outros nem ainda no psicologismo aético; devem
ser valorizadas sobretudo as dimensões teológicas, experienciais e
libertadoras do amor de Deus e da reconciliação.
255. 0 rito
penitenciai bem realizado pode tornar-se um lugar importante para o ministério
pastoral da educação ao senso do pecado pessoal, comunitârio, social e do
ministério da reconciliação de toda a Igreja, que encontra o seu ápice de
sacramentalidade no Batismo e na Penitência.
Kyrie
eleison - Senhor, tende piedade
256. De vez em
quando convém valorizar o "Senhor, tende piedade" em si, sem ser
integrado no rito penitenciai, como "canto em que os fiéis aclamam o
Senhor e imploram a sua misericórdia"'6, a sua atenção. É uma aclamação pela qual
podemos louvar o Senhor Jesus pelo perdão, por "olhar por nós" na sua
misericórdia.
Glória 257. O Glória é um hino antiquíssimo e venerável, pelo qual
a Igreja glori ice a Deus Pai e ao Cordeiro. Não constitui uma aclamação
trinitária.
Oração do dia
(Coleta)
258. "A
seguir o sacerdote convida o povo a rezar; todos conservam-se em silêncio com o
sacerdote por alguns instantes, tomando consciência de que estão na presença
de Deus e formulando interiormente os seus pedidos"".
259. Se os
ritos anteriores tiveram bastante dinamismo, é fácil para o sacerdote motivar
com poucas palavras o povo para uma oração silenciosa de alguns instantes. Será
um verdadeiro momento de recolhimento profundo, onde se experimentará a
presença de Deus que fala nos corações.
2. Liturgia da
Palavra: Celebrar a Palavra.
262. Resumindo,
a Liturgia da Palavra da Missa é constituída a) pelo anúncio da Palavra
(organização das leituras, incluindo o Salmo), b) sua atnalização na homilia e
c) a resposta à Palavra no Creio e na Oração dos fiéis.
Deus fala seu
povo reunido responde 1. leitura
Antigo
Testamento e Atos dos Apóstolos
. o salmo <..................................................
2. leitura
Epístolas e
Apocalipse ...................................................> Aclamação
Evangelho
. Aclamação <... ..homilia... ..>
Creio Oração
dos fiéis AMÉM
A Liturgia da Palavra é um diálogo entre Dcus e o seu Povo.
0 desafio da
Liturgia da Palavra
são enfadonha
de leituras e comentários enfileirados um após outros; em conseqüência, cai-se
facilmente no discurso catequético, moralizador, doutrinal, ideológico.
264. Além disso
é difícil deixar claro que a Palavra de Deus é antes de tudo um Eu que se
dirige ao Tu do seu povo reunido dialogicamente; e mais ainda, que neste
diálogo a Palavra é, efetivamente, Palavra eficaz do Deus libertador que cria
vida nova.
265. Mas duas experiências
bem sucedidas mostram caminhos gossíveis. O primeiro refere-se às CEBs ou
outros grupos mais homogêneos, que conseguiram uma maior partilha da Palavra
no confronto entre Bíblia e vida das comunidades ou grupos. O segundo caminho,
na Iinha da Lradição romana e mais adequado aos grandes grupos, acentua certos
ritos, que não são necessários nos grupos anteriores. A Lüurgia da Palavra,
comporta ações simlxílicas como gestos, elementos visuais, música eLc.
As leituras
266. "A
parte principal da Liturgia da Palavra é constituída pelas leituras da
Sagrada Escritura e pelos cantos que ocorrem entre elas, sendo desenvolvida e
concluída pela homilia, a proGssão de fé e a oração universal ou dos
fiéis"'9. 267. As leituras podem ser introduzidas com breves palavras,
aptas a prender a atenção dos ouvintes e a facilitar a compreender o texto.
Nunca se substitua a proclamação da Palavra de Deus por qualquer outra leitura.
Quanto ao modo de proclamar as leituras, em textos mais
longos, pode-se distribuir entre os diversos leitores, tal como para a
proclamação da Paixão do Senhor na Semana Santa°. Tenha-se sempre o cuidado de
preparar os leitores para que possam desempenhar digna e convenientemente o seu
ministério.
268. Nunca se
omita a proclamação do texto bíblico, embora este possa, a seguir, ser
recontado, parafraseado ou dramatizado por um ou mais dos presentes, sob a
responsabilidade de quem preside.
269. "Para
os domingos e solenidades estão marcadas três Ieituras, ísto é, do Profeta, do
Apóstolo e do Evangelho, que levam o povo fiel a compreender a continuidade da
obra da salvação, segundo a admirável pedagogia divina. Portanto, é muito
desejável que estas três Ieüuras sejam reilmente feitas; contudo, por motivos
de ordem pastoral e decisão da Conferência Episcopal, pode-se permitir em
algumas regiões o uso de apenas duas Ieituras"z'.
De fato, a CNBB, na XI Assembléia Geral em 1970 decidiu que,
por motivos pastorais, possam ser feitas duas leituras apenas na celebração,
mantendo-se sempre o texto do Evangelho. Para a escolha eventual entre as duas
primeiras leituras atente-se para o maior fruto dos fiéis. "Jamais se escolha
um texto unicamente por ser mais breve ou mais fácil". 270. A proclamação do
Evangelho deve aparecer como ponto alio da Liturgia da Palavra. A tradição
romana sempre valorizou com ritos expressivos tanto o Livro dos Evangelhos
quanto a sua
proclamação: Procissão do livro e canto de aclamação, persignação, incensação,
leitura ou canto solene, beijo do livro, aclamações antes e depois da leituras.
271. Convém que
nas nossas comunidades, conforme as circunstáncias específicas, encontremos,
dentro da variedade de gestos possíveis, ritos que permitirão valorizar e
realçar o próprio Livro dos Evangelhos e a sua proclamação solene. Por isso,
evitar-se-á usar simples folhetos para a proclamação das leituras da Palavra de
Deus.
272. Não
faltarão, onde for possível, antes da proclamação do Evangelho um verdadeiro
canto de aclamação e "após o Evangelho, a aclamação do povo segundo o
costume da região"', oportunamente cantada e acompanhada de gestos,
cantos, vivas clc.
272.
Poder-se-ia em certos lugares valorizar por uma procissão a busca ou entrada
do Livro dos Evangelhos, a não ser que se tenha feito no início da liturgia da
Palavra ou no rito da Entrada.
Salmo
responsorial
274. Entre as
leituras cante-se um salmo que favoreça .a meditação da palavra escut<da,
sobretudo quando é brevemente salientada esta sua função. Este salmo
responsorial, Palavra de Deus, é parte integrante da Liturgia da Palavra e seu
texto acha-se diretamente ligado à respectiva leituras. Onde não for oportuno
proferir o salmo do dia, sobretudo se canta
do, pode-se
recorrer a outro salmo adequado. Podem-se cantar refrões de caráter popular
apropriados em lugar do refrão do salmo. Dar-se-á sempre preferência à escolha
de um salmo em lugar de outro canto de meditação, pois importa superar aos
poucos o costume de se cantar aqui outro canto religioso que não seja salmo. A
Missa é para os cristãos leigos quase o único lugar onde podem descobrir a
riqueza inesgotável dos salmos.
ílomilia 275. Diferente do sermão ou de outras formas de pregação, a
homilia (que significa conversa familiar) é parte integrante da Liturgia da
Palavra e, como tal, fica reservada ao sacerdote ou ao diáconos. É de desejar
que haja homilia também nas celebrações em dia de semana.
276. É função
da homilia atualizar a Palavra de Deus, fazendo a ligação da Palavra escutada
nas leituras com a vida e a celebração. É importante que se procure mostrar a
realização da Palavra de Deus na própria celebração da Ceia do Senhor. A
homilia procura despertar as atitudes de ação de graças, de sacrifício, de
conversão e de compromisso, que encontram sua densidade sacramental máxima na
Liturgia eucarística.
277. Os fiéis,
congregados para formar uma Igreja pascal, a celebrar a festa do Senhor
presente no meio deles, esperam muito dessa pregação e dela poderão tirar fruto
abundante. Contanto que ela seja simples, clara, direta e adaptada, pro
fundamente
aderente ao ensinamento evangélico e fiel ao magistério da Igreja'. Para isso
é necessário que a homilia seja bem preparada, relativamente curta e procure
prender a atenção dos fiéis.
278. Onde for
possível, convém que a homilia seja preparada em equipe com a participação de
alguns cristãos leigos para que se possa levar em conta não só "o mistério
celebrado como as necessidades particulares dos ouvintes".
279. Onde for
oportuno, convém que a homilia procure despertar a participação ativa da
assembléia, por meio do diálogo, aclamações, gestos, refrões apropriados.
Ainda, segundo as circunstâncias, o sacerdote poderá convidar os fiéis a dar
depoimentos, contar fatos de vida, expressar suas reflexões, sugerir aplicações
concretas da Palavra de Dcus. E finalmente, fazer algumas perguntas sobre o
que falaram as leituras, como elas iluminam a nossa vida; e até que ponto a
celebração da Eucaristia a realiza29.
280. Conforme o
caso a dramatização da Palavra, discreta e permitida pela Liturgia, poderá ser
excelente complement<1ção da homilia, sobretudo nas comunidades menores e
mais simples.
0 Símbolo ou
Profissão de fé
281. "O
Símbolo ou Profissão de fé, na Missa, tem por objetivo levar o povo a dar o seu
assentimento e resposta à
Palavra de Deus
ouvida nas leituras e na homilia, bem como recordar-lhe a regra da fé antes de
iniciar a celebração da Eucaristia"3o.
282. Além do
Símbolo niceno-constantinopolitano, que deveria ser usados mais
freqüentemente, e muito údl para as celebrações com o povo o Símbolo dos
apóstolos na sua forma direta ou, em casos especiais, na forma dialogada, como
ocorre no rito do Batismo, no dia da Crisma e na Vigília Pascal. Eventualmente
refrões cantados e adequados podem integrar sua recitação. É um abuso
substituir o Creio por formulações que não expressam a fé como é professada nos
símbolos mencionados.
Oração
universal ou dos fiéis
284. Na
formulação das intenções, sem negligenciar a abertura para os grándes
problemas e acontecimentos da Igreja universal, dar-se-á espaço para as
necessidades mais sentidas pela comunidade; convém estimular a formulação de
preces diretamente pelo povo, especialmente, em grupos menores. Dar-se-á
oportunidade, por exemplo, na última intenção a que todos possam colocar suas
intenções, rezando ao mesmo tcmpo em silêncio. É bom que se eduquem os fiéis
sobre o sentido comunitário da oração, evitando-se intenções de caráter
meramente
pessoal ou em número tão elevado que prejudique o ritmo da celebração.
285. É
conveniente uma maior criatividade para as respostas, que serão,
oportunamente, cantadas.
Ao sacerdote cabe introduzir e concluir a Oração dos fiéis3z.
3.
Liturgia Eucarística: Celebrar a Ceia
pascal.
286. Celebrando
o memorial do Senhor, a Igreja, na Liturgia eucarística, faz o mesmo que
Cristo fez na última Ceia. ÚLTIMA CEIA LITURGIA EUCARÍSTICA
Ele tomou o
pão... o cálice = Preparação das oferendas deu graças = Oração eucarística
partiu o pão = Fração do pão e deu = Comunhão 287. De fato:
1) Tomou o pão, o cálice. Na preparação cias oferendas levam-se à mesa do altar o pão, o vinho e a água, isto é,
aqueles elementos que Cristo tomou ém suas mãos;
2) Deu graças. Na Oração
eucarística rendem-se graças a Deus por toda a obra salvífica e as oferendas
tornamse Corpo e Sangue de Cristo;
3) Partiu o pão. Pela
fração do mesmo pão manifestase a Unidade dos fiéis.
4) Deu: Pela comunhão os fiéis recebem o Corpo e o Sangue do
Senhor como os apóstolos o receberam das mãos do próprio Cristo33.
288.
Cuidar-se-á, na catequese e na pregação para que os fiéis possam facilmente
reconhecer esta estrutura fundamental da Liturgia eucarística.
3.1. Preparação das Oferendas: Ele tomou o pão, ele
tomou o cálice.
289. "No
início da Liturgia eucarística são levadas ao altar as oferendas, que se
converterão no Corpo e Sangue de Cristo"'
290. No
conjunto da celebração, após a Liturgia da Palavra e antes de iniciar-se a
Oração eucarística, a preparação das oferendas representa um momento de pausa,
de descanso para a assembléia, um momento visual. Por isso, convém tomar o
tempo necessário de maneira que a Oração eucarística, a seguir, tenha um
destaque melhor, como retomada do diálogo. 291. Prepara-se a mesa condignamente
e trazem-se as oferendas. Neste momento, o sacerdote pode assentar-se. É conveniente
que membros da própria assembléia participem da preparação desta mesa e levem
em procissão as oferendas do pão e do vinho para o sacrifício eucarístico.
"Embora os fiéis já não tragam de casa, como outrora, o pão e o vinho
desti
nados à
Liturgia, o ritual de levá-tos ao altar conserva a mesma força e significado espiritual"35.
292.
"Também são recebidos o dinheiro ou outros donativos oferecidos pelos
fiéis para os pobres ou para a igreja ou recolhidos no recinto da mesma; serão,
no entanto, colocados em lugar conveniente, fora da mesa eucarística"36.
Onde for possível, pode ser mais expressivo que todos possam aproximar-se para
depositàr a sua oferta em lugar adequado. As ofertas da assembléia fazem parte
da ação litúrgica. Por isso não devem ser abolidas.
293. Em certas
ocasiões a procissão tornar-se-á mais expressiva se levar também para junto do
altar ofertas simbólicas alusivas à comemoração realizada naquele dia ou a
algum aspecto da vida da comunidade. Os cristãos, outrora, para expressar a sua
participação no sacrifício eucarístico, eram muito sensíveis à oferta do pão,
do vinho e de dádivas para os pobres. Hoje, uma nova sensibilidade simbólica
nos faz atentos ao fato de que o pão e o vinho, que o Senhor usou na Ceia, são
frutos da terra e do trabalho de homens e mulheres3'. Portanto, outros
frutos e instrumentos do mesmo irabalho podem ser aqui apresentados.
294. O
ofertório verdadeiro realiza-se na Oração eucarística, após a Narrativa da
Instituição ou Consagração, no momento da oblação do Corpo e Sangue de Cristo.
"Por ela a Igreja, em particular, a assembléia reunida oferece ao Pai, no
Espírito Santo, a hóstia imaculada; ela deseja, porém, que os fiéis não apenas
ofereçam a hóstia imaculada, mas aprendam a oferecer a si próprios, e se
aperfeiçoem, cada vez mais, pela
mediação de
Cristo, na união com Deus e com o próximo, para que finalmente Deus seja tudo
em todos"38.
296. O canto do
ofertório, se houver, acompanha a procissão das oferendas e se prolonga pelo menos
até que os dons tenham sido colocados sobre o alta°. O canto não deve necessariamente
falar de ofertas, mas pode recordar a vida do povo de modo condizente com o ato
litúrgico ou simplesmente harmonizar-se com a celebração do mistério do dia de
acordo com a tradição.
297. O
ofertório pode ser momento propício para valorizar gestos da assembléia. Onde
expressões corporais forem bem aceitas poderão ser admitidas na procissão das
ofertas.
3.2. A Oração
eucarística: Ele deu graças
298. Uma
iniciação à Eucaristia ajudará a perceber que a Oração eucarística forma
um todo, que comporta diversos elementos:
Estrutura da
prece eucarística Diálogo inicial
Prefácio -
SANTO
Epiclese
(invocação do Espírito Santo) Narrativa da Instituição - Consagração Anamnese
(memorial) e Oblação Epiclese de comunhão
Intercessões
Doxologia final AMÉM
299. Portanto
esta venerável oração contém:
a) O Prefácio (no sentido aqui de proclamação pública)
expressa a ação de graças, o louvor a Deus por toda a obra da
salvação ou por um de seus aspectos, e termina com b) a aclamação do Santo.
c) Segue ent<o a Epiclese ou invocação do Espírito Santo sobre os
dons, d) a narração da instituição ou consagração, que Cristo encerrou,
dizendo: Fazei isto em memória de mim; e) por isso, segue a anamnese
ou oração da memória de Cristo que leva à oblação pela qual a
Igreja reunida, realizando essa memória, oferece ao Pai
, no Espírito Santo, a "hóstia imaculada" e se
oferece a si mesma a Cristo; g) epiclese de comunhão, pois o Espírito é
quem congrega na unidade da Igreja, Corpo místico de Cristo; h) vêm então as intercessões
pelas quais se expressa que a Eucaristia é celebrada em comunhão com toda
a Igreja, tanto celeste como terrestre e por todos os membros vivos e falecidos;
i) A doxologia final (glorificação de Deus) será cantada
ou pronunciada
só pelo presidente e confirmada e concluída pelo "pMÉM" do povo4u
300. Sendo
memorial de Cristo, a Eucaristia não consiste apenas em renovar os gestos da
Ceia, mas também em renovar os gestos de Cristo na páscoa de sua vida, morte e
ressurreição: louvor ao Pai a partir das circunstâncias de nossa Igreja
caminhante, oferecer o sacramento memorial do sacrifício de Cristo, mas ao
mesmo tempo oferecer-nos a nós mesmos na nossa páscoa, páscoa de Cristo na
páscoa da gente, páscoa da gente na páscoa de Cristo.
301. Antes de
iniciar o Prefácio, lembrando o que foi anunciado na Palavra, o
presidente da celebração pode chamar a atenção de todos para o acontecimento
central da Missa, que torna presente o sacrifício de Cristo na Ceia eucarística'2
e a participação dos fiéis na mesma.
Este também pode ser um dos momentos oportunos para recordar
os motivos de ação de graças da comunidade e uni-tos à grande ação de graças da
Igreja, a Eucaristia°3.
302. Dentre o
leque de Prefácios e Orações eucarísticas, constantes do Missal, é importante
que sejam escolhidos os que mais se adaptem à celebração do dia à comunidade.
o presidente
proferir a Oração, procurando a maior comunicação possível e a participação da
assembléia através das aclamações. Sendo celebração, procurar-se-à valorizar
todos os elememtos simbólicos que, pela sua natureza, podem contribuir para
realçar este momento da celebração: o canto, os gestos, a voz e as atitudes do
sacerdote, dos ministros e da assembléia e, se oportuno, o uso tradicional de
campainhas, sinos, incenso etc.
304. Como já
notamos, é particularmente importante valorizar o canto, tanto por parte do
sacerdote (Prefácio, Narração da Instituição, Anamnese, Doxologia final),
quanto nas partes da assembléia: Santo, Aclamações diversas, segundo as Orações
eucarísticas, aclamação do Amém final.
305.
Considerando que as aclamações constituem uma forma de participação ativa da
comunidade na grande Oração eucarística de quem preside, convém valorizar tais
aclamações conforme a índole do povo. Para intensificar essa participação
ativa do povo, as aclamações sejam de, preferência, cantadas e oportunamente
acompanhadas de gestos.
306. Convém que
se valorize da melhor maneira possível, em particular o Amém conclusivo da
Oração eucarística, por exemplo, enfatizando-o através do canto, da repetição
ou de outro modo.
3.3 Os ritos
da Comunhão: Ele partiu o pâo e o deu; tomai, comei; tomai, bebei.
Introdução ao · PAI NOSSO
Livrai-nos... (embolismo) Vosso é o Reino (doxologia) Oração
pela Paz
Que a paz do
Senhor... Gesto de paz
· FRAÇÃO DO PÃO
+ canto:
Cordeiro de Deus:
· CONVITE À COMIINHÃO: Felizes Apresentação: Eis o cordeiro
"Senhor, eu não sou digno..." Comunhão (+ canto)
interiorização
· ORAÇÃO após a Comunhão AMÉM
308.
"Terminada a Oração eucaristica, seguem-se sempre o Pai-nosso, a Fração do
Pão e o convite para a Comunhão, pois estes elementos são de grande importância
na estrutura desta parte da Missa"4s
309. Sendo a
Celebração eucarística a Ceia pascal, convém que, segundo a ordem do Senhor, o
seu Corpo e Sangue sejam recebidos como alimento espiritual pelos fiéis,
devidamente preparados. Esta é a finalidade da Fração do Pão e dos outros
ritos preparatórios, pelos quais os fiéis são imediatamente encaminhados à
Comunhão"°.
310. O
Pai-nosso, sobretudo quando cantado, é especialmente apto para estimular o
sentimento de fraterna solidariedade cristã. Este sentimento pode, além disso,
ser expresso por gestos, desde que se harmonizem com os gostos e costumes do
povo. Por ser a Oração que o Senhor nos ensinou, não deve ser nunca
substituída por outros cantos, parafraseando o Painosso, que poderão, no
entanto, ser aproveitados em outros momentos.
311. 0 rito da
paz. "Neste rito, os fiéis imploram a paz e a unidade para a Igreja e toda
a família humana e exprimem mutuamente a caridade antes de participar do mesmo
pão"4'. 312. Espontaneamente as nossas comunidades acolheram e perceberam
o rito da saudação da paz como momento de confraternização alegre em Cristo. É
momento privilegiado para realçar o compromisso da comunicação da paz a todos
indistintamente. Paz recebida como dom.
313. Seria
conveniente não realizar o rito da paz sempre da mesma maneira, mas, pelo
contrário, usar da criatividade e variar. Por exemplo, a saudação poderá ser
simplificada ou omitida por completo nos tempos penitenciais; ela será realçada,
pelo contrário, em tempos de festa.
Ocasionalmente, o gesto facultativo da saudação poderá ser
realizado em outro momento da celebração: por exemplo nos ritos de entrada da
Missa, como saudação fraterna; no ato penitenciai em sinal de reconciliação;
após a homilia ou antes da apresentação das oferendas, também como, perdão das
ofensas ou, se deixado para o fim da Missa, como gesto de despedida ou
cumprimento (pêsames, parabéns ele.).
314. "Eles
o reconheceram na fração do pão". "O gesto de partir o pão, realizado
por Cristo na última Ceia, deu nome a Ação eucarística na época apostólica;
este rito possui não apenas uma razão prática, mas significa que nós, sendo
muitos, pela comunhão do único Pão da Vida, que é o Cristo, formamos um único
corpo"°.
315. Para de
novo realçar o gesto de partir o pão e o seu significado é conveniente que a
"matcria da Celebração eucarística pareça realmente um alimento... e que
o sacerdote possa, de fato, partir a hóstia em diversas partes e ditribuí-1a
ao menos a alguns fiéis"49. Na estrutura da Ceia, é aqui o lugar próprio
da fração como gesto ritual de fazer o que Cristo fez e não durante a Narrativa
da Instituição (Consagração).
316. Durante a
fração, o povo canta ou diz o "Cordeiro de Deus", entoado pela
assembléia. A saudação da paz não deve ofuscar a importância deste momento do
rito.
317. É
conveniente igualmente "usar uma única patena de maior dimensão, onde se
coloque tanto o pão para o sacerdote como para os ministros e fiéis"°.
318. "A
Comunhão realiza mais plenamente o seu aspecto de sinal quando
sob as duas espécies. Sob esta forma manifesta-se mais perfeitamente o sinal
do banquete eucarístico e se exprime de modo mais claro a vontade divina de
realizar a nova e eterna Aliança no Sangue do Senhor, assim como a relação
entre o banquete eucarístico e o banquete escatológico no reino do
Pai"51.
319. Por isso,
dever-se-ia fazer esforço necessário para que "os fiéis recebam o Corpo de
Cristo em hóstias consagradas na mesma Missa enquanto possível, e participem do
cálice pelo menos nos casos previstos"52. Seria recomendável que
participassem do cálice os "ministros que desempenham uma função na
Missa"53; para os casos previstos confira-se a Inswção Geral sobre o
Missal Romano, n.242, de 1 a
14, aos quais se acrescenta por lei universal da Missa da Vigília pasca154. É
também pérmitido que os Ordinários possam estabclecer casos particulares55.
pastores tenham
o cuidado de orientar os fiéis sobre a Comunhão na mão.
321. O
sacerdote é o ministro ordinário não só da consagração, mas também, juntamente
com o diácono, da distribuição da Comunhão.
322.
"Enquanto o sacerdote e os fiéis recebem o Sacramento, entoa-se o Canto
da Comunhão, que exprime, pela unidade das vozes, a união espiritual dos
comungantes, demonstra a alegria dos corações e tojna mais fraterna a procissão
dos que vão receber o Corpo de Cristo. O canto começa quando o sacerdote
comunga, prolongando-se oportunamente, enquanto os fiéis recebem o Corpo de
Cristos'. Durante a Comunhão há lugar também para um fundo de música
instrumental, concluído o canto.
323. Interiorização
após a Comunhão. "Terminada a distribuição da Comunhão, se for
oportuno, o sacerdote e os fiéis oram por algum tempo em silêncio, podendo a
assembléia entoar ainda um hino ou outro canto de louvor"58.
324. É
particularmente útil deixar espaço após a distribuição da Comunhão para um
momento de interiorização. Segundo as circunstâncias, será orientado por quem
preside ou ouw ministro.
325. Este
poderá ser nas comunidades outro momento de grande flexibilidade, usado como
criatividade: silêncio, meditação, oração, canto, visando um aprofundamento do
mistério celebrado etc. Em geral, as Antífonas da Comunhão do Missal,
recebidas da tradição, retomam uma frase central do
Evangelho ou do
mistério do dia. Elas nos fornecem assim uma indicação precisa quanto à maneira
de como pode ser apresentada e aprofundada a Comunhão eucarística à luz da
Palavra de Deus.
4. Ritos finais
da Missa: A despedida
327.
"Terminada a Oração depois da Comunhão, podem ser feitas, se necessfirio,
breves comunicações ao povo"°.
Os avisos que dizem respeito à vida da comunidade serão dados,
de preferência, pelas próprias pessoas que eswo ligadas a tais iniciativas, sob
a responsabilidade de quem preside. Não se omitirão comunicações sobre
atividades de outras comunidades é da Igreja universal.
328. Este
parece ser também o momento mais adequado para as breves homenagens, que as
comunidades gostam de prestar em dias especiais antes de se disgersarem.
329.
Eventualmente, antes de encerrar-se a celebração, será útil uma mensagem final,
na qual se exorte a comunidade a testemunhar pela vida a realidade celebradaól.
330. Um canto
final, se parecer oportuno, embora não previsto no Missal, encontrará maior
receptividade neste momento do que mais tarde.
331. Nos tempos
litúrgicos mais ricos ou em certos momentos especiais da vida das comunidades,
a bênção final será enriquecida pelas bênçãos solenes à escolha ou orações
sobre o povo. Nada impede que no caso de aconteoimentos especiais celebrados
na Missa da comunidade, tais como bodas e jubileus, bem como outras
círcunstâncias semelhantes, a bênção final inclua uma bênção especial para o
casal ou pessoas determinadas. . 332. De qualquer modo, haja no fim da Missa,
na medida do possível, uma verdadeira despedida humana e fraterna.
OBSERVAÇÃO
FINAL
333. As
presentes orientações visam oferecer às Igrejas locais e suas comunidades
pistas que favoreçam a participação do povo na Missa, incentivada e proposta
pelo Vaticano II. 334. Os frutos pastorais que delas se esperam dependem do
cuidado com que estas orientações forem introduzidas. Faz-se necessária uma
adequada preparação das Comunidades e de seus ministros, observando-se
diligentemente o discernimento pastoral quanto à sua oportunidade e
convenicncia de acordo com a realidade local.
335.
Evitar-se-ão os abusos, sempre possíveis, na medida em que formarmos os agentes
de pastoral para uma sadia criatividade, fomentando positivamente a Liturgia em
todas as suas expressões e favorecendo a sua linguagem própria no universo da
fé.