EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL SACRAMENTUM
CARITATIS
DE SUA SANTIDADE BENTO XVI AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS
PESSOAS CONSAGRADAS
E AOS FIÉIS LEIGOS SOBRE A EUCARISTIA FONTE E ÁPICE
DA VIDA E DA MISSÃO DA IGREJA
Introdução
[1]
O
alimento da verdade [2]
O
desenvolvimento do rito eucarístico [3]
O
Sínodo dos Bispos e o Ano da Eucaristia [4]
Finalidade
do documento [5]
I
PARTE
EUCARISTIA,
MISTÉRIO ACREDITADO
A
fé eucarística da Igreja [6]
Santíssima
Trindade e Eucaristia
O
pão descido do céu [7]
Dom
gratuito da Santíssima Trindade [8]
Eucaristia:
Jesus verdadeiro Cordeiro imolado
A
nova e eterna aliança no sangue do Cordeiro [9]
A
instituição da Eucaristia [10]
A
figura deu lugar à Verdade [11]
O
Espírito Santo e a Eucaristia
Jesus
e o Espírito Santo [12]
Espírito
Santo e celebração eucarística [13]
Eucaristia
e Igreja
Eucaristia,
princípio causal da Igreja [14]
Eucaristia
e comunhão eclesial [15]
Eucaristia
e Sacramentos
Sacramentalidade
da Igreja [16]
I.
Eucaristia e iniciação cristã
Eucaristia,
plenitude da iniciação cristã [17]
A
ordem dos sacramentos da iniciação [18]
Iniciação,
comunidade eclesial e família [19]
II.
Eucaristia e sacramento da Reconciliação
Sua
ligação intrínseca [20]
Alguns
cuidados pastorais [21]
III.
Eucaristia e Unção dos Enfermos [22]
IV.
Eucaristia e sacramento da Ordem
Na
pessoa de Cristo cabeça [23]
Eucaristia
e celibato sacerdotal [24]
Escassez
de clero e pastoral vocacional [25]
Gratidão
e esperança [26]
V.
Eucaristia e Matrimónio
Eucaristia,
sacramento esponsal [27]
Eucaristia
e unidade do Matrimónio [28]
Eucaristia
e indissolubilidade do Matrimónio [29]
Eucaristia
e escatologia
Eucaristia,
dom para o homem a caminho [30]
O
banquete escatológico [31]
Oração
pelos defuntos [32]
A
Eucaristia e a Virgem Maria [33]
II
PARTE
EUCARISTIA,
MISTÉRIO CELEBRADO
Norma
da oração e norma de fé [34]
Beleza
e liturgia [35]
A
celebração eucarística, obra de Cristo inteiro
Cristo
inteiro: cabeça e corpo [36]
Eucaristia
e Cristo ressuscitado [37]
Arte
da celebração [38]
O
bispo, liturgista por excelência [39]
O
respeito pelos livros litúrgicos e pela riqueza dos sinais [40]
Arte
ao serviço da celebração [41]
O
canto litúrgico [42]
A
estrutura da celebração eucarística [43]
Unidade
intrínseca da acção litúrgica [44]
A
liturgia da palavra [45]
A
homilia [46]
Apresentação
das oferendas [47]
A
Oração Eucarística [48]
Saudação
da paz [49]
Distribuição
e recepção da Eucaristia [50]
A
despedida: « Ite, missa est » [51]
Participação
activa
Autêntica
participação [52]
Participação
e ministério sacerdotal [53]
Celebração
eucarística e inculturação [54]
Condições
pessoais para uma participação activa [55]
Participação
dos cristãos não católicos [56]
Participação
através dos meios de comunicação [57]
Participação
activa dos doentes [58]
A
solicitude pelos presos [59]
Os
migrantes e a participação na Eucaristia [60]
As
grandes concelebrações [61]
A
língua latina [62]
Celebrações
eucarísticas em pequenos grupos [63]
Celebração
interiormente participada
Catequese
mistagógica [64]
A
reverência à Eucaristia [65]
Adoração
e piedade eucarística
A
relação intrínseca entre celebração e adoração [66]
A
prática da adoração eucarística [67]
Formas
de devoção eucarística [68]
O
lugar do sacrário na igreja [69]
III
PARTE
EUCARISTIA,
MISTÉRIO VIVIDO
Forma
eucarística da vida cristã
O
culto espiritual [70]
Eficácia
omnicompreensiva do culto eucarístico [71]
Viver
segundo o domingo [72]
Viver
o preceito dominical [73]
O
sentido do repouso e do trabalho [74]
Assembleias
dominicais na ausência de sacerdote [75]
Uma
forma eucarística da existência cristã, a pertença eclesial [76]
Espiritualidade
e cultura eucarística [77]
Eucaristia
e evangelização das culturas [78]
Eucaristia
e fiéis leigos [79]
Eucaristia
e espiritualidade sacerdotal [80]
Eucaristia
e vida consagrada [81]
Eucaristia
e transformação moral [82]
Coerência
eucarística [83]
Eucaristia,
mistério anunciado
Eucaristia
e missão [84]
Eucaristia
e testemunho [85]
Jesus
Cristo, único Salvador [86]
Liberdade
de culto [87]
Eucaristia,
mistério oferecido ao mundo
Eucaristia,
pão repartido para a vida do mundo [88]
As
implicações sociais do mistério eucarístico [89]
O
alimento da verdade e a indigência do homem [90]
A
doutrina social da Igreja [91]
Santificação
do mundo e defesa da criação [92]
Utilidade
dum Compêndio Eucarístico [93]
Conclusão
[94-97]
INTRODUÇÃO
1.
Sacramento da Caridade, (1) a santíssima Eucaristia é a doação que Jesus Cristo
faz de Si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem. Neste
sacramento admirável, manifesta-se o amor « maior »: o amor que leva a « dar a
vida pelos amigos » (Jo 15, 13). De facto, Jesus « amou-os até ao fim » (Jo 13,
1). Com estas palavras, o evangelista introduz o gesto de infinita humildade
que Ele realizou: na vigília da sua morte por nós na cruz, pôs uma toalha à
cintura e lavou os pés aos seus discípulos. Do mesmo modo, no sacramento
eucarístico, Jesus continua a amar-nos « até ao fim », até ao dom do seu corpo
e do seu sangue. Que enlevo se deve ter apoderado do coração dos discípulos à
vista dos gestos e palavras do Senhor durante aquela Ceia! Que maravilha deve
suscitar, também no nosso coração, o mistério eucarístico!
O
alimento da verdade
2.
No sacramento do altar, o Senhor vem ao encontro do homem, criado à imagem e
semelhança de Deus (Gn 1, 27), fazendo-Se seu companheiro de viagem. Com
efeito, neste sacramento, Jesus torna-Se alimento para o homem, faminto de
verdade e de liberdade. Uma vez que só a verdade nos pode tornar
verdadeiramente livres (Jo 8, 36), Cristo faz-Se alimento de Verdade para nós.
Com agudo conhecimento da realidade humana, Santo Agostinho pôs em evidência
como o homem se move espontaneamente, e não constrangido, quando encontra algo
que o atrai e nele suscita desejo. Perguntando-se ele, uma vez, sobre o que
poderia em última análise mover o homem no seu íntimo, o santo bispo exclama: «
Que pode a alma desejar mais ardentemente do que a verdade? » (2) De facto,
todo o homem traz dentro de si o desejo insuprimível da verdade última e
definitiva. Por isso, o Senhor Jesus, « caminho, verdade e vida » (Jo 14, 6),
dirige-Se ao coração anelante do homem que se sente peregrino e sedento, ao
coração que suspira pela fonte da vida, ao coração mendigo da Verdade. Com
efeito, Jesus Cristo é a Verdade feita Pessoa, que atrai a Si o mundo. « Jesus
é a estrela polar da liberdade humana: esta, sem Ele, perde a sua orientação,
porque, sem o conhecimento da verdade, a liberdade desvirtua-se, isola-se e
reduz-se a estéril arbítrio. Com Ele, a liberdade volta a encontrar-se a si
mesma ».(3) No sacramento da Eucaristia, Jesus mostra-nos de modo particular a
verdade do amor, que é a própria essência de Deus. Esta é a verdade evangélica
que interessa a todo o homem e ao homem todo. Por isso a Igreja, que encontra
na Eucaristia o seu centro vital, esforça-se constantemente por anunciar a todos,
em tempo propício e fora dele (opportune, importune: cf. 2 Tm 4, 2), que Deus é
amor.(4) Exactamente porque Cristo Se fez alimento de Verdade para nós, a
Igreja dirige-se ao homem convidando-o a acolher livremente o dom de Deus.
O
desenvolvimento do rito eucarístico
3.
Contemplando a história bimilenária da Igreja de Deus, sapientemente guiada
pela acção do Espírito Santo, admiramos cheios de gratidão o desenvolvimento
ordenado no tempo das formas rituais em que fazemos memória do acontecimento da
nossa salvação. Desde as múltiplas formas dos primeiros séculos, que
resplandecem ainda nos ritos das Antigas Igrejas do Oriente, até à difusão do
rito romano; desde as indicações claras do Concílio de Trento e do Missal de
São Pio V até à renovação litúrgica querida pelo Concílio Vaticano II: em cada
etapa da história da Igreja, a celebração eucarística, enquanto fonte e ápice
da sua vida e missão, resplandece no rito litúrgico em toda a sua multiforme
riqueza. A XI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que decorreu de
2 a 23 de Outubro de 2005 no Vaticano, elevou um profundo agradecimento a Deus
por esta história, reconhecendo nela a guia activa do Espírito Santo. De modo
particular, os padres sinodais reconheceram e reafirmaram o benéfico influxo que
teve, na vida da Igreja, a reforma litúrgica actuada a partir do Concílio
Ecuménico Vaticano II.(5) O Sínodo dos Bispos pôde avaliar o acolhimento que a
mesma teve depois da assembleia conciliar; inúmeros foram os elogios; como lá
se disse, as dificuldades e alguns abusos assinalados não podem ofuscar a
excelência e a validade da referida renovação litúrgica, que contém riquezas
ainda não plenamente exploradas. Trata-se, em concreto, de ler as mudanças
queridas pelo Concílio dentro da unidade que caracteriza o desenvolvimento
histórico do próprio rito, sem introduzir artificiosas rupturas.(6)
O
Sínodo dos Bispos e o Ano da Eucaristia
4.
Além disso, é necessário sublinhar a relação do recente Sínodo dos Bispos sobre
a Eucaristia com o que sucedeu durante os últimos anos na vida da Igreja. Antes
de mais, devemos pensar no Grande Jubileu do ano 2000, com o qual meu amado
predecessor, o servo de Deus João Paulo II, introduziu a Igreja no terceiro
milénio cristão; o Ano Jubilar teve, sem dúvida, uma caracterização
intensamente eucarística. Depois, não se pode esquecer que o Sínodo dos Bispos
foi precedido e, em certo sentido, preparado também pelo Ano da Eucaristia,
estabelecido com grande clarividência por João Paulo II para toda a Igreja;
teve início com o Congresso Eucarístico Internacional em Guadalajara no mês de
Outubro de 2004 e terminou a 23 de Outubro de 2005, no final da XI Assembleia
Sinodal, com a canonização de cinco beatos que se distinguiram, de forma
particular, pela sua piedade eucarística: o bispo José Bilczewski, os
sacerdotes Caetano Catanoso, Sigismundo Gorazdowski e Alberto Hurtado Cruchaga,
e o religioso capuchinho Félix de Nicósia. Graças aos ensinamentos propostos
por João Paulo II na Carta Apostólica Mane nobiscum Domine (7) e às preciosas
sugestões da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos,(8)
numerosas foram as iniciativas que as dioceses e as diversas realidades
eclesiais empreenderam para despertar e aumentar nos crentes a fé eucarística,
para melhorar o cuidado das celebrações e promover a adoração eucarística, para
encorajar uma real solidariedade que, partindo da Eucaristia, atingisse os
necessitados. Por último, é preciso mencionar a importância da última Encíclica
do meu venerado predecessor, a Ecclesia de Eucharistia,(9) deixando-nos através
dela uma segura referência do Magistério quanto à doutrina eucarística e um
derradeiro testemunho do lugar central que este sacramento divino ocupava na
sua vida.
Finalidade
do documento
5.
Esta Exortação Apostólica pós-sinodal tem por objectivo recolher a multiforme
riqueza de reflexões e propostas surgidas na recente Assembleia Geral Ordinária
do Sínodo dos Bispos — a começar dos Lineamenta até às Propositiones, passando
pelo Instrumentum laboris, as Relationes ante et post disceptationem, as
intervenções dos padres sinodais, auditores e delegados fraternos —, com a
intenção de explicitar algumas linhas fundamentais de empenho tendentes a
despertar na Igreja novo impulso e fervor eucarístico. Consciente do vasto património
doutrinal e disciplinar acumulado no decurso dos séculos à volta da
Eucaristia,(10) neste documento desejo sobretudo recomendar, acolhendo o voto
dos padres sinodais,(11) que o povo cristão aprofunde a relação entre o
mistério eucarístico, a acção litúrgica e o novo culto espiritual que deriva da
Eucaristia enquanto sacramento da caridade. Com esta perspectiva, pretendo
colocar esta Exortação na linha da minha primeira Carta Encíclica — a Deus
caritas est —, na qual várias vezes falei do sacramento da Eucaristia pondo em
evidência a sua relação com o amor cristão, tanto para com Deus como para com o
próximo: « O Deus encarnado atrai-nos todos a Si. Assim se compreende por que
motivo o termo agape se tenha tornado também um nome da Eucaristia; nesta, a
agape de Deus vem corporalmente a nós, para continuar a sua acção em nós e
através de nós ».(12)
I
PARTE
EUCARISTIA,
MISTÉRIO ACREDITADO
«
A obra de Deus consiste
em
acreditar n'Aquele que Ele enviou »
(Jo
6, 29)
A
fé eucarística da Igreja
A
fé eucarística da Igreja
6.
« Mistério da fé! »: com esta exclamação pronunciada logo a seguir às palavras
da consagração, o sacerdote proclama o mistério celebrado e manifesta o seu
enlevo diante da conversão substancial do pão e do vinho no corpo e no sangue
do Senhor Jesus, realidade esta que ultrapassa toda a compreensão humana. Com
efeito, a Eucaristia é por excelência « mistério da fé »: « É o resumo e a
súmula da nossa fé ».(13) A fé da Igreja é essencialmente fé eucarística e
alimenta-se, de modo particular, à mesa da Eucaristia. A fé e os sacramentos
são dois aspectos complementares da vida eclesial. Suscitada pelo anúncio da
palavra de Deus, a fé é alimentada e cresce no encontro com a graça do Senhor
ressuscitado que se realiza nos sacramentos: « A fé exprime-se no rito e este
revigora e fortifica a fé ».(14) Por isso, o sacramento do altar está sempre no
centro da vida eclesial; « graças à Eucaristia, a Igreja renasce sempre de
novo! » (15) Quanto mais viva for a fé eucarística no povo de Deus, tanto mais
profunda será a sua participação na vida eclesial por meio duma adesão convicta
à missão que Cristo confiou aos seus discípulos. Testemunha-o a própria
história da Igreja: toda a grande reforma está, de algum modo, ligada à
redescoberta da fé na presença eucarística do Senhor no meio do seu povo.
Santíssima
Trindade e Eucaristia
O
pão descido do céu
7.
O primeiro conteúdo da fé eucarística é o próprio mistério de Deus, amor
trinitário. No diálogo de Jesus com Nicodemos, encontramos uma afirmação
esclarecedora a tal respeito: « Deus amou tanto o mundo que entregou o seu
Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n'Ele não pereça, mas tenha
a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo,
mas para que o mundo seja salvo por Ele » (Jo 3, 16-17). Estas palavras revelam
a raiz última do dom de Deus. Na Eucaristia, Jesus não dá « alguma coisa », mas
dá-Se a Si mesmo; entrega o seu corpo e derrama o seu sangue. Deste modo dá a
totalidade da sua própria vida, manifestando a fonte originária deste amor: Ele
é o Filho eterno que o Pai entregou por nós. Noutro passo do evangelho, depois
de Jesus ter saciado a multidão pela multiplicação dos pães e dos peixes,
ouvimo-Lo dizer aos interlocutores que vieram atrás d'Ele até à sinagoga de
Cafarnaum: « Meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão que vem do céu. O pão de
Deus é o que desce do céu para dar a vida ao mundo » (Jo 6, 32-33), acabando
por identificar-Se Ele mesmo — a sua própria carne e o seu próprio sangue — com
aquele pão: « Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá
eternamente. E o pão que Eu hei-de dar é a minha carne que Eu darei pela vida
do mundo » (Jo 6, 51). Assim Jesus manifesta-Se como o pão da vida que o Pai
eterno dá aos homens.
Dom
gratuito da Santíssima Trindade
8.
Na Eucaristia, revela-se o desígnio de amor que guia toda a história da
salvação (Ef 1, 9-10; 3, 8-11). Nela, o Deus-Trindade (Deus Trinitas), que em
Si mesmo é amor (1 Jo 4, 7-8), envolve-Se plenamente com a nossa condição
humana. No pão e no vinho, sob cujas aparências Cristo Se nos dá na ceia pascal
(Lc 22, 14-20; 1 Cor 11, 23-26), é toda a vida divina que nos alcança e se
comunica a nós na forma do sacramento: Deus é comunhão perfeita de amor entre o
Pai, o Filho e o Espírito Santo. Já na criação, o homem fora chamado a
partilhar, em certa medida, o sopro vital de Deus (Gn 2, 7). Mas, é em Cristo
morto e ressuscitado e na efusão do Espírito Santo, dado sem medida (Jo 3, 34),
que nos tornamos participantes da intimidade divina.(16) Assim Jesus Cristo,
que « pelo Espírito eterno Se ofereceu a Deus como vítima sem mancha » (Heb 9,
14), no dom eucarístico comunica-nos a própria vida divina. Trata-se de um dom
absolutamente gratuito, devido apenas às promessas de Deus cumpridas para além
de toda e qualquer medida. A Igreja acolhe, celebra e adora este dom, com fiel
obediência. O « mistério da fé » é mistério de amor trinitário, no qual, por
graça, somos chamados a participar. Por isso, também nós devemos exclamar com
Santo Agostinho: « Se vês a caridade, vês a Trindade ».(17)
Eucaristia:
Jesus
verdadeiro Cordeiro imolado
A
nova e eterna aliança no sangue do Cordeiro
9.
A missão, que trouxe Jesus entre nós, atinge o seu cumprimento no mistério
pascal. Do alto da cruz, donde atrai todos a Si (Jo 12, 32), antes de «
entregar o Espírito » Jesus diz: « Tudo está consumado » (Jo 19, 30). No
mistério da sua obediência até à morte, e morte de cruz (Fil 2, 8), cumpriu-se
a nova e eterna aliança. Na sua carne crucificada, a liberdade de Deus e a
liberdade do homem juntaram-se definitivamente num pacto indissolúvel, válido
para sempre. Também o pecado do homem ficou expiado, uma vez por todas, pelo
Filho de Deus (Heb 7, 27; 1 Jo 2, 2; 4, 10). Como já tive ocasião de afirmar, «
na sua morte de cruz, cumpre-se aquele virar-se de Deus contra Si próprio, com
o qual Ele Se entrega para levantar o homem e salvá-lo — o amor na sua forma mais
radical ».(18) No mistério pascal, realizou-se verdadeiramente a nossa
libertação do mal e da morte. Na instituição da Eucaristia, o próprio Jesus
falara da « nova e eterna aliança », estipulada no seu sangue derramado (Mt 26,
28; Mc 14, 24; Lc 22, 20). Esta finalidade última da sua missão era bem
evidente já no início da sua vida pública; de facto, nas margens do Jordão,
quando João Baptista vê Jesus vir ter com ele, exclama: « Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo » (Jo 1, 29). É significativo que a mesma
expressão apareça, sempre que celebramos a Santa Missa, no convite do sacerdote
para nos abeirarmos do altar: « Felizes os convidados para a ceia do Senhor.
Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo ». Jesus é o verdadeiro cordeiro
pascal, que Se ofereceu espontaneamente a Si mesmo em sacrifício por nós,
realizando assim a nova e eterna aliança. A Eucaristia contém nela esta
novidade radical, que nos é oferecida em cada celebração.(19)
A
instituição da Eucaristia
10.
Deste modo, a nossa reflexão foi deter-se na instituição da Eucaristia durante
a Última Ceia. O facto teve lugar no âmbito duma ceia ritual, que constituía o
memorial do acontecimento fundador do povo de Israel: a libertação da
escravidão do Egipto. Esta ceia ritual, associada com a imolação dos cordeiros
(Ex 12, 1-28. 43-51), era memória do passado, mas ao mesmo tempo também memória
profética, ou seja, anúncio duma libertação futura; de facto, o povo
experimentara que aquela libertação não tinha sido definitiva, pois a sua
história ainda estava demasiadamente marcada pela escravidão e pelo pecado. O
memorial da antiga libertação abria-se, assim, à súplica e ao anseio por uma
salvação mais profunda, radical, universal e definitiva. É neste contexto que
Jesus introduz a novidade do seu dom; na oração de louvor — a Berakah —, Ele dá
graças ao Pai não só pelos grandes acontecimentos da história passada, mas
também pela sua própria « exaltação ». Ao instituir o sacramento da Eucaristia,
Jesus antecipa e implica o sacrifício da cruz e a vitória da ressurreição; ao
mesmo tempo, revela-Se como o verdadeiro cordeiro imolado, previsto no desígnio
do Pai desde a fundação do mundo, como se lê na I Carta de Pedro (1, 18-20). Ao
colocar o dom de Si mesmo neste contexto, Jesus manifesta o sentido salvífico
da sua morte e ressurreição, mistério este que se torna uma realidade
renovadora da história e do mundo inteiro. Com efeito, a instituição da
Eucaristia mostra como aquela morte, de per si violenta e absurda, se tenha
tornado, em Jesus, acto supremo de amor e libertação definitiva da humanidade
do mal.
A
figura deu lugar à Verdade
11.
Como vimos, Jesus insere a sua novidade (novum) radical no âmbito da antiga
ceia sacrificial hebraica. Uma tal ceia, nós, cristãos, já não temos necessidade
de a repetir. Como justamente dizem os Padres, figura transit in veritatem:
aquilo que anunciava as realidades futuras cedeu agora o lugar à própria
Verdade. O antigo rito consumou-se e ficou definitivamente superado mediante o
dom de amor do Filho de Deus encarnado. O alimento da verdade, Cristo imolado
por nós, pôs termo às figuras (dat figuris terminum).(20) Com a sua ordem «
Fazei isto em memória de Mim » (Lc 22, 19; 1 Cor 11, 25), pede-nos para
corresponder ao seu dom e representá-Lo sacramentalmente; com tais palavras, o
Senhor manifesta, por assim dizer, a esperança de que a Igreja, nascida do seu
sacrifício, acolha este dom desenvolvendo, sob a guia do Espírito Santo, a
forma litúrgica do sacramento. De facto, o memorial do seu dom perfeito não
consiste na simples repetição da Última Ceia, mas propriamente na Eucaristia,
ou seja, na novidade radical do culto cristão. Assim Jesus deixou-nos a missão
de entrar na sua « hora »: « A Eucaristia arrasta-nos no acto oblativo de
Jesus. Não é só de modo estático que recebemos o Logos encarnado, mas ficamos
envolvidos na dinâmica da sua doação ».(21) Ele « arrasta-nos para dentro de Si
».(22) A conversão substancial do pão e do vinho no seu corpo e no seu sangue
insere dentro da criação o princípio duma mudança radical, como uma espécie de
« fissão nuclear » (para utilizar uma imagem hoje bem conhecida de todos nós),
verificada no mais íntimo do ser; uma mudança destinada a suscitar um processo
de transformação da realidade, cujo termo último é a transfiguração do mundo
inteiro, até chegar àquela condição em que Deus seja tudo em todos (1 Cor 15,
28).
O
Espírito Santo e a Eucaristia
Jesus
e o Espírito Santo
12.
Com a sua palavra e com o pão e o vinho, o próprio Senhor nos ofereceu os
elementos essenciais do culto novo. A Igreja, sua Esposa, é chamada a celebrar
o banquete eucarístico dia após dia em memória d'Ele. Deste modo, ela insere o
sacrifício redentor do seu Esposo na história dos homens e torna-o
sacramentalmente presente em todas as culturas. Este grande mistério é
celebrado nas formas litúrgicas que a Igreja, guiada pelo Espírito Santo,
desenvolve no tempo e no espaço.(23) A propósito, é necessário despertar em nós
a consciência da função decisiva que exerce o Espírito Santo no desenvolvimento
da forma litúrgica e no aprofundamento dos mistérios divinos. O Paráclito,
primeiro dom concedido aos crentes,(24) activo já na criação (Gn 1, 2), está
presente em plenitude na vida inteira do Verbo encarnado: com efeito, Jesus
Cristo é concebido no seio da Virgem Maria por obra do Espírito Santo (Mt 1,
18; Lc 1, 35); no início da sua missão pública, nas margens do Jordão, vê-O
descer sobre Si em forma de pomba (Mt 3, 16 e par.); neste mesmo Espírito, age,
fala e exulta (Lc 10, 21); e é n'Ele que Jesus pode oferecer-Se a Si mesmo (Heb
9, 14). No chamado « discurso de despedida » referido por João, Jesus põe
claramente em relação o dom da sua vida no mistério pascal com o dom do
Espírito aos Seus (Jo 16, 7). Depois de ressuscitado, trazendo na sua carne os
sinais da paixão, pode derramar o Espírito (Jo 20, 22), tornando os seus
discípulos participantes da mesma missão d'Ele (Jo 20, 21). Em seguida, será o
Espírito que ensina aos discípulos todas as coisas, recordando-lhes tudo o que
Cristo tinha dito (Jo 14, 26), porque compete a Ele, enquanto Espírito da
verdade (Jo 15, 26), introduzir os discípulos na verdade total (Jo 16, 13).
Segundo narram os Actos, o Espírito desce sobre os Apóstolos reunidos em oração
com Maria no dia de Pentecostes (2, 1-4), e impele-os para a missão de anunciar
a boa nova a todos os povos. Portanto, é em virtude da acção do Espírito que o
próprio Cristo continua presente e activo na sua Igreja, a partir do seu centro
vital que é a Eucaristia.
Espírito
Santo e celebração eucarística
13.
Neste horizonte, compreende-se a função decisiva que tem o Espírito Santo na
celebração eucarística e, de modo particular, no que se refere à
transubstanciação. É fácil de comprovar a consciência disto mesmo nos Padres da
Igreja; nas suas Catequeses, São Cirilo de Jerusalém recorda que « invocamos
Deus misericordioso para que envie o seu Santo Espírito sobre as oblações que
apresentamos a fim de Ele transformar o pão em corpo de Cristo e o vinho em
sangue de Cristo. O que o Espírito Santo toca, é santificado e transformado
totalmente ».(25) Também São João Crisóstomo assinala que o sacerdote invoca o
Espírito Santo quando celebra o Sacrifício: (26) à semelhança de Elias, o
ministro atrai o Espírito Santo para que, « descendo a graça sobre a vítima, se
incendeiem por meio dela as almas de todos ».(27) É extremamente necessária,
para a vida espiritual dos fiéis, uma consciência mais clara da riqueza da
anáfora: esta, juntamente com as palavras pronunciadas por Cristo na Última
Ceia, contém a epiclese, que é invocação ao Pai para que faça descer o dom do
Espírito a fim de o pão e o vinho se tornarem o corpo e o sangue de Jesus
Cristo, e para que « a comunidade inteira se torne cada vez mais corpo de
Cristo ».(28) O Espírito, invocado pelo celebrante sobre os dons do pão e do
vinho colocados sobre o altar, é o mesmo que reúne os fiéis « num só corpo »,
tornando-os uma oferta espiritual agradável ao Pai.(29)
Eucaristia
e Igreja
Eucaristia,
princípio causal da Igreja
14.
Através do sacramento eucarístico, Jesus compromete os fiéis na sua própria «
hora »; mostra-nos assim a ligação que quis entre Ele mesmo e nós, entre a sua
pessoa e a Igreja. De facto, o próprio Cristo, no sacrifício da cruz, gerou a
Igreja como sua esposa e seu corpo. Os Padres da Igreja meditaram longamente
sobre a semelhança que há entre a origem de Eva do lado de Adão adormecido (Gn
2, 21-23) e a da nova Eva, a Igreja, do lado aberto de Cristo mergulhado no
sono da morte: do seu lado trespassado — narra João — saiu sangue e água (Jo
19, 34), símbolo dos sacramentos.(30) Um olhar contemplativo para « Aquele que
trespassaram » (Jo 19, 37) leva-nos a considerar a ligação causal entre o
sacrifício de Cristo, a Eucaristia e a Igreja. Com efeito, esta « vive da
Eucaristia ».(31) Uma vez que nela se torna presente o sacrifício redentor de
Cristo, temos de reconhecer antes de mais que « existe um influxo causal da
Eucaristia nas próprias origens da Igreja ».(32) A Eucaristia é Cristo que Se
dá a nós, edificando-nos continuamente como seu corpo. Portanto, na sugestiva
circularidade entre a Eucaristia que edifica a Igreja e a própria Igreja que
faz a Eucaristia,(33) a causalidade primária está expressa na primeira fórmula:
a Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia,
precisamente porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da
Cruz. A possibilidade que a Igreja tem de « fazer » a Eucaristia está radicada
totalmente na doação que Jesus lhe fez de Si mesmo. Também este aspecto nos
persuade de quão verdadeira seja a frase de São João: « Ele amou-nos primeiro »
(1 Jo 4, 19). Deste modo, também nós confessamos, em cada celebração, o primado
do dom de Cristo; o influxo causal da Eucaristia, que está na origem da Igreja,
revela em última análise a precedência não só cronológica mas também ontológica
do amor de Jesus relativamente ao nosso: será, por toda a eternidade, Aquele
que nos ama primeiro.
Eucaristia
e comunhão eclesial
15.
A Eucaristia é, pois, constitutiva do ser e do agir da Igreja. Por isso, a
antiguidade cristã designava com as mesmas palavras — corpus Christi — o corpo
nascido da Virgem Maria, o corpo eucarístico e o corpo eclesial de Cristo.(34)
Bem atestado na tradição, este dado faz crescer em nós a consciência da
indissolubilidade entre Cristo e a Igreja. Oferecendo-Se a Si mesmo em
sacrifício por nós, o Senhor Jesus preanunciou de modo eficaz no seu dom o
mistério da Igreja. É significativo o modo como a Oração Eucarística II, ao
invocar o Paráclito, formula a prece pela unidade da Igreja: « ... participando
no corpo e sangue de Cristo, sejamos reunidos, pelo Espírito Santo, num só
corpo ». Esta passagem ajuda a compreender como a eficácia (res) do sacramento
eucarístico seja a unidade dos fiéis na comunhão eclesial. Assim, a Eucaristia
aparece na raiz da Igreja como mistério de comunhão.(35)
O
servo de Deus João Paulo II, na sua Encíclica Ecclesia de Eucharistia, tinha já
chamado a atenção para a relação entre Eucaristia e communio: falou do memorial
de Cristo como sendo a « suprema manifestação sacramental da comunhão na Igreja
».(36) A unidade da comunhão eclesial revela-se, concretamente, nas comunidades
cristãs e renova-se no acto eucarístico que as une e diferencia em Igrejas
particulares, « in quibus et ex quibus una et unica Ecclesia catholica exsistit
– nas quais e pelas quais existe a Igreja Católica, una e única ».(37) É
precisamente a realidade da única Eucaristia celebrada em cada diocese ao redor
do respectivo Bispo que nos faz compreender como as próprias Igrejas
particulares subsistam in e ex Ecclesia. De facto, « a unicidade e
indivisibilidade do corpo eucarístico do Senhor implicam a unicidade do seu
corpo místico, que é a Igreja una e indivisível. Do centro eucarístico surge a
necessária abertura de cada comunidade celebrante, de cada Igreja particular:
ao deixar-se atrair pelos braços abertos do Senhor, consegue-se a inserção no
seu corpo, único e indiviso ».(38) Por este motivo, na celebração da Eucaristia,
cada fiel encontra-se na sua Igreja, isto é, na Igreja de Cristo. Nesta
perspectiva eucarística, adequadamente entendida, a comunhão eclesial revela-se
realidade católica por sua natureza.(39) O facto de sublinhar esta raiz
eucarística da comunhão eclesial pode contribuir eficazmente também para o
diálogo ecuménico com as Igrejas e com as Comunidades eclesiais que não estão
em plena comunhão com a Sé de Pedro. Na realidade, a Eucaristia estabelece
objectivamente um forte vínculo de unidade entre a Igreja Católica e as Igrejas
Ortodoxas, que conservaram genuína e integralmente a natureza do mistério da
Eucaristia. Ao mesmo tempo, a relevância dada ao carácter eclesial da
Eucaristia pode tornar-se elemento privilegiado também no diálogo com as Comunidades
nascidas da Reforma.(40)
Eucaristia
e Sacramentos
Sacramentalidade
da Igreja
16.
O Concílio Vaticano II lembrou que « os restantes sacramentos, assim como todos
os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão vinculados com a
sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na santíssima Eucaristia
está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a
nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne
vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo: assim são eles convidados e
levados a oferecer, juntamente com Ele, a si mesmos, os seus trabalhos e todas
as coisas criadas ».(41) Esta relação íntima da Eucaristia com os demais
sacramentos e com a existência cristã compreende-se, na sua raiz, quando se
contempla o mistério da própria Igreja como sacramento.(42) A este respeito, o
referido Concílio afirmou que « a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento,
ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o
género humano ».(43) Ela, enquanto « povo — como diz São Cipriano — reunido na
unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo »,(44) é sacramento da comunhão
trinitária.
O
facto de a Igreja ser « universal sacramento da salvação »(45) mostra que a «
economia » sacramental determina, em última análise, o modo como Jesus Cristo
único Salvador, por meio do Espírito, alcança a nossa vida na especificidade
das suas circunstâncias. A Igreja recebe-se e simultaneamente exprime-se nos
sete sacramentos, pelos quais a graça de Deus influencia concretamente a
existência dos fiéis para que toda a sua vida, redimida por Cristo, se torne
culto agradável a Deus. Nesta perspectiva, desejo sublinhar aqui alguns
elementos, assinalados pelos padres sinodais, que podem ajudar a identificar a relação
dos diversos sacramentos com o mistério eucarístico.
I.
Eucaristia e iniciação cristã
Eucaristia,
plenitude da iniciação cristã
17.
Se verdadeiramente a Eucaristia é fonte e ápice da vida e da missão da Igreja,
temos de concluir antes de mais que o caminho de iniciação cristã tem como
ponto de referência tornar possível o acesso a tal sacramento. A propósito,
devemos interrogar-nos — como sugeriram os padres sinodais — se as nossas
comunidades cristãs têm suficiente noção do vínculo estreito que há entre
Baptismo, Confirmação e Eucaristia; (46) de facto, é preciso não esquecer
jamais que somos baptizados e crismados em ordem à Eucaristia. Este dado
implica o compromisso de favorecer na acção pastoral uma compreensão mais
unitária do percurso de iniciação cristã. O sacramento do Baptismo, pelo qual
somos configurados a Cristo,(47) incorporados na Igreja e feitos filhos de
Deus, constitui a porta de acesso a todos os sacramentos; através dele, somos
inseridos no único corpo de Cristo (1 Cor 12, 13), povo sacerdotal. Mas é a
participação no sacrifício eucarístico que aperfeiçoa, em nós, o que recebemos
no Baptismo. Também os dons do Espírito são concedidos para a edificação do
corpo de Cristo (1 Cor 12) e o crescimento do testemunho evangélico no mundo.(48)
Portanto, a santíssima Eucaristia leva à plenitude a iniciação cristã e
coloca-se como centro e termo de toda a vida sacramental.(49)
A
ordem dos sacramentos da iniciação
18.
A este respeito, é necessário prestar atenção ao tema da ordem dos sacramentos
da iniciação. Na Igreja, há tradições diferentes; esta diversidade é patente
nos costumes eclesiais do Oriente (50) e na prática ocidental para a iniciação
dos adultos,(51) se comparada com a das crianças.(52) Contudo, tais diferenças
não são propriamente de ordem dogmática, mas de carácter pastoral. Em concreto,
é necessário verificar qual seja a prática que melhor pode, efectivamente,
ajudar os fiéis a colocarem no centro o sacramento da Eucaristia, como
realidade para qual tende toda a iniciação; em estreita colaboração com os
Dicastérios competentes da Cúria Romana, as Conferências Episcopais verifiquem
a eficácia dos percursos de iniciação actuais, para que o cristão seja ajudado,
pela acção educativa das nossas comunidades, a maturar cada vez mais até chegar
a assumir na sua vida uma orientação autenticamente eucarística, de tal modo
que seja capaz de dar razão da própria esperança de maneira adequada ao nosso
tempo (1 Pd 3, 15).
Iniciação,
comunidade eclesial e família
19.
É preciso ter sempre presente que toda a iniciação cristã é caminho de
conversão que háde ser realizada com a ajuda de Deus e em constante referimento
à comunidade eclesial, quer quando é o adulto que pede para entrar na Igreja,
como acontece nos lugares de primeira evangelização e em muitas zonas
secularizadas, quer quando são os pais a pedir os sacramentos para seus filhos.
A este respeito, desejo chamar a atenção sobretudo para a relação entre
iniciação cristã e família; na acção pastoral, sempre se deve associar a
família cristã ao itinerário de iniciação. Receber o Baptismo, a Confirmação e
abeirar-se pela primeira vez da Eucaristia são momentos decisivos não só para a
pessoa que os recebe mas também para toda a sua família; esta deve ser
sustentada, na sua tarefa educativa, pela comunidade eclesial em suas diversas
componentes.(53) Quero sublinhar aqui a relevância da Primeira Comunhão; para
inúmeros fiéis, este dia permanece, justamente, gravado na memória como o
primeiro momento em que se percebeu, embora de forma ainda inicial, a
importância do encontro pessoal com Jesus. A pastoral paroquial deve valorizar
adequadamente esta ocasião tão significativa.
II.
Eucaristia e sacramento da Reconciliação
Sua
ligação intrínseca
20.
Os padres sinodais afirmaram, justamente, que o amor à Eucaristia leva a
apreciar cada vez mais também o sacramento da Reconciliação.(54) Por causa da
ligação entre ambos os sacramentos, uma catequese autêntica acerca do sentido
da Eucaristia não pode ser separada da proposta dum caminho penitencial (1 Cor
11, 27-29). Constatamos — é certo — que, no nosso tempo, os fiéis se encontram
imersos numa cultura que tende a cancelar o sentido do pecado,(55) favorecendo
um estado de espírito superficial que leva a esquecer a necessidade de estar na
graça de Deus para se aproximar dignamente da comunhão sacramental.(56) Na
realidade, a perda da consciência do pecado engloba sempre também uma certa
superficialidade na compreensão do próprio amor de Deus. É muito útil para os
fiéis recordar-lhes os elementos que, no rito da Santa Missa, explicitam a
consciência do próprio pecado e, simultaneamente, da misericórdia de Deus.(57)
Além disso, a relação entre a Eucaristia e a Reconciliação recorda-nos que o
pecado nunca é uma realidade exclusivamente individual, mas inclui sempre
também uma ferida no seio da comunhão eclesial, na qual nos encontramos
inseridos pelo Baptismo. Por isso, como diziam os Padres da Igreja, a
Reconciliação é um baptismo laborioso (laboriosus quidam baptismus),(58)
sublinhando assim que o resultado do caminho de conversão é também o
restabelecimento da plena comunhão eclesial, que se exprime no abeirar-se
novamente da Eucaristia.(59)
Alguns
cuidados pastorais
21.
O Sínodo lembrou que é dever pastoral do bispo promover na sua diocese uma
decisiva recuperação da pedagogia da conversão que nasce da Eucaristia e
favorecer entre os fiéis a confissão frequente. Todos os sacerdotes se dediquem
com generosidade, empenho e competência à administração do sacramento da
Reconciliação.(60) A propósito, procure-se que, nas nossas igrejas, os
confessionários sejam bem visíveis e expressivos do significado deste
sacramento. Peço aos pastores que vigiem atentamente sobre a celebração do
sacramento da Reconciliação, limitando a prática da absolvição geral
exclusivamente aos casos previstos,(61) permanecendo como forma ordinária de
absolvição apenas a pessoal.(62) Vista a necessidade de descobrir novamente o
perdão sacramental, haja em todas as dioceses o Penitenciário.(63) Por último,
pode servir de válida ajuda para a nova tomada de consciência desta relação
entre a Eucaristia e a Reconciliação uma prática equilibrada e conscienciosa da
indulgência, lucrada a favor de si mesmo ou dos defuntos. Com ela, obtém-se « a
remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados, cuja culpa já foi
apagada ».(64) O uso das indulgências ajuda-nos a compreender que não somos
capazes, só com as nossas forças, de reparar o mal cometido e que os pecados de
cada um causam dano a toda a comunidade; além disso, a prática da indulgência,
implicando a doutrina dos méritos infinitos de Cristo bem como a da comunhão
dos santos, mostra-nos « quanto estejamos, em Cristo, intimamente unidos uns
aos outros e quanto a vida sobrenatural de cada um possa aproveitar aos outros
».(65) Dado que a forma própria da indulgência prevê, entre as condições
requeridas, o abeirar-se da confissão e da comunhão sacramental, a sua prática
pode sustentar eficazmente os fiéis no caminho da conversão e na descoberta da
centralidade da Eucaristia na vida cristã.
III.
Eucaristia e Unção dos Enfermos
22.
Jesus não Se limitou a enviar os seus discípulos a curar os doentes (Mt 10, 8;
Lc 9, 2; 10, 9), mas instituiu para eles também um sacramento específico: a
Unção dos Enfermos.(66) A Carta de Tiago testemunha a presença deste gesto
sacramental já na primitiva comunidade cristã (5, 14-16). Se a Eucaristia
mostra como os sofrimentos e a morte de Cristo foram transformados em amor, a
Unção dos Enfermos, por seu lado, associa o doente à oferta que Cristo fez de
Si mesmo pela salvação de todos, de tal modo que possa também ele, no mistério
da comunhão dos santos, participar na redenção do mundo. A relação entre ambos
os sacramentos aparece ainda mais clara quando se agrava a doença: « Àqueles
que vão deixar esta vida, a Igreja oferece-lhes, além da Unção dos Enfermos, a
Eucaristia como viático ».(67) Nesta passagem para o Pai, a comunhão no corpo e
sangue de Cristo aparece como semente de vida eterna e força de ressurreição: «
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e Eu o
ressuscitarei no último dia » (Jo 6, 54). Uma vez que o sagrado Viático
desvenda ao doente a plenitude do mistério pascal, é preciso assegurar a sua
administração.(68) A atenção e o cuidado pastoral por aqueles que se encontram
doentes redunda, seguramente, em benefício espiritual de toda a comunidade,
sabendo que tudo o que fizermos ao mais pequenino, ao próprio Jesus o faremos
(Mt 25, 40).
IV.
Eucaristia e sacramento da Ordem
Na
pessoa de Cristo cabeça
23.
O vínculo intrínseco entre a Eucaristia e o sacramento da Ordem deduz-se das
próprias palavras de Jesus no Cenáculo: « Fazei isto em memória de Mim » (Lc
22, 19). De facto, na vigília da sua morte, Ele instituiu a Eucaristia e ao
mesmo tempo fundou o sacerdócio da Nova Aliança. Jesus é sacerdote, vítima e
altar: mediador entre Deus Pai e o povo (Heb 5, 5-10), vítima de expiação (1 Jo
2, 2; 4, 10) que Se oferece a Si mesma no altar da cruz. Ninguém pode dizer «
isto é o meu corpo » e « este é o cálice do meu sangue » senão em nome e na
pessoa de Cristo, único sumo sacerdote da nova e eterna Aliança (Heb 8-9). O
Sínodo dos Bispos já se ocupara, noutras assembleias, do sacerdócio ordenado
tanto no que diz respeito à identidade do ministério,(69) como à formação dos
candidatos.(70) Na presente circunstância importa-me, à luz do diálogo
realizado no âmbito da última assembleia sinodal, sublinhar alguns valores que
têm a ver com a relação entre o sacramento eucarístico e a Ordem. Antes de mais
nada, é necessário reafirmar que a ligação entre a Ordem sacra e a Eucaristia é
visível precisamente na Missa que o bispo ou o presbítero preside na pessoa de
Cristo cabeça (in persona Christi capitis).
A
doutrina da Igreja considera a ordenação sacerdotal condição indispensável para
a celebração válida da Eucaristia.(71) De facto, « no serviço eclesial do
ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente à sua Igreja, como
cabeça do seu corpo, pastor do seu rebanho, sumo sacerdote do sacrifício
redentor ».(72) Certamente o ministro ordenado « age também em nome de toda a
Igreja, quando apresenta a Deus a oração da mesma Igreja e, sobretudo, quando
oferece o sacrifício eucarístico ».(73) Por isso, é necessário que os
sacerdotes tenham consciência de que, em todo o seu ministério, nunca devem
colocar em primeiro plano a sua pessoa nem as suas opiniões, mas Jesus Cristo.
Contradiz a identidade sacerdotal toda a tentativa de se colocarem a si mesmos
como protagonistas da acção litúrgica. Aqui, mais do que nunca, o sacerdote é
servo e deve continuamente empenhar-se por ser sinal que, como dócil
instrumento nas mãos de Cristo, aponta para Ele. Isto exprime-se de modo
particular na humildade com que o sacerdote conduz a acção litúrgica,
obedecendo ao rito, aderindo ao mesmo com o coração e a mente, evitando tudo o
que possa dar a sensação de um seu inoportuno protagonismo. Recomendo, pois, ao
clero que não cesse de aprofundar a consciência do seu ministério eucarístico
como um serviço humilde a Cristo e à sua Igreja. O sacerdócio, como dizia Santo
Agostinho, é um serviço de amor (amoris officium),(74) é o serviço do bom
pastor, que oferece a vida pelas ovelhas (Jo 10, 14-15).
Eucaristia
e celibato sacerdotal
24.
Os padres sinodais quiseram sublinhar como o sacerdócio ministerial requer,
através da ordenação, a plena configuração a Cristo. Embora respeitando a
prática e tradição oriental diferente, é necessário reiterar o sentido profundo
do celibato sacerdotal, justamente considerado uma riqueza inestimável e
confirmado também pela prática oriental de escolher os bispos apenas de entre
aqueles que vivem no celibato, indício da grande honra em que ela tem a opção
do celibato feita por numerosos presbíteros. Com efeito, nesta opção do
sacerdote encontram expressão peculiar a dedicação que o conforma a Cristo e a
oferta exclusiva de si mesmo pelo Reino de Deus.(75) O facto de o próprio
Cristo, eterno sacerdote, ter vivido a sua missão até ao sacrifício da cruz no
estado de virgindade constitui o ponto seguro de referência para perceber o
sentido da tradição da Igreja Latina a tal respeito. Assim, não é suficiente
compreender o celibato sacerdotal em termos meramente funcionais; na realidade,
constitui uma especial conformação ao estilo de vida do próprio Cristo. Antes
de mais, semelhante opção é esponsal: a identificação com o coração de Cristo
Esposo que dá a vida pela sua Esposa. Em sintonia com a grande tradição
eclesial, com o Concílio Vaticano II (76) e com os Sumos Pontífices (77) meus
predecessores, corroboro a beleza e a importância duma vida sacerdotal vivida
no celibato como sinal expressivo de dedicação total e exclusiva a Cristo, à
Igreja e ao Reino de Deus, e, consequentemente, confirmo a sua obrigatoriedade
para a tradição latina. O celibato sacerdotal, vivido com maturidade, alegria e
dedicação, é uma bênção enorme para a Igreja e para a própria sociedade.
Escassez
de clero e pastoral vocacional
25.
A propósito da ligação entre o sacramento da Ordem e a Eucaristia, o Sínodo
deteve-se sobre a dolorosa situação que se tem vindo a criar em diversas
dioceses a braços com a escassez de sacerdotes. Isto acontece não só em algumas
zonas de primeira evangelização, mas também em muitos países de longa tradição
cristã. Para a solução do problema contribui certamente uma distribuição mais
equitativa do clero; mas, para isso, é preciso um trabalho de sensibilização
capilar. Os bispos empenhem nas necessidades pastorais os institutos de vida
consagrada e as novas realidades eclesiais, no respeito do respectivo carisma,
e solicitem todos os membros do clero a uma disponibilidade maior para irem
servir a Igreja nos lugares onde houver necessidade, sem olhar a
sacrifícios.(78) Além disso, o Sínodo debruçou-se também sobre os cuidados
pastorais a ter principalmente com os jovens para favorecer a sua abertura
interior à vocação sacerdotal. A solução para tal carestia não se pode
encontrar em meros estratagemas pragmáticos; deve-se evitar que os bispos,
levados por compreensíveis preocupações funcionais devido à falta de clero,
acabem por não realizar um adequado discernimento vocacional, admitindo à
formação específica e à ordenação candidatos que não possuam as características
necessárias para o serviço sacerdotal.(79) Um clero insuficientemente formado e
admitido à ordenação sem o necessário discernimento dificilmente poderá
oferecer um testemunho capaz de suscitar noutros o desejo de generosa
correspondência à vocação de Cristo. Na realidade, a pastoral vocacional deve
empenhar a comunidade cristã em todos os seus âmbitos.(80) Obviamente, no
referido trabalho pastoral capilar, está incluída também a obra de
sensibilização das famílias, muitas vezes indiferentes se não mesmo contrárias
à hipótese da vocação sacerdotal. Que elas se abram com generosidade ao dom da
vida e eduquem os filhos para serem disponíveis à vontade de Deus! Em resumo, é
preciso sobretudo ter a coragem de propor aos jovens o seguimento radical de
Cristo, mostrando-lhes o seu encanto.
Gratidão
e esperança
26.
Enfim, é necessário ter maior fé e esperança na iniciativa divina. Apesar da
escassez de clero que se verifica em algumas regiões, não deve esmorecer jamais
a confiança de que Cristo continua a suscitar homens que não hesitam em
abandonar qualquer outra ocupação para dedicar-se totalmente à celebração dos
mistérios sagrados, à pregação do Evangelho e ao ministério pastoral. Nesta
ocasião, desejo dar voz à gratidão da Igreja inteira por todos os bispos e
presbíteros que cumprem, com fiel dedicação e empenho, a própria missão.
Naturalmente, este agradecimento da Igreja estende-se também aos diáconos, a
quem são impostas as mãos « não em ordem ao sacerdócio mas ao ministério ».(81)
Como recomendou a assembleia do Sínodo, dirijo um obrigado especial aos presbíteros
fidei donum que edificam a comunidade, com competência e generosa dedicação,
anunciando-lhe a palavra de Deus e repartindo o pão da vida, sem pouparem as
suas energias ao serviço da missão da Igreja.(82) Por fim, é preciso agradecer
a Deus pelos numerosos sacerdotes que tiveram de sofrer até ao sacrifício da
vida por servir a Cristo. Neles se manifesta, com a eloquência dos factos, o
que significa ser sacerdote a fundo; trata-se de comoventes testemunhos que
poderão inspirar muitos jovens a seguirem por sua vez a Cristo e gastarem a sua
vida pelos outros, encontrando precisamente assim a vida verdadeira.
V.
Eucaristia e Matrimónio
Eucaristia,
sacramento esponsal
27.
A Eucaristia, sacramento da caridade, apresenta uma relação particular com o
amor do homem e da mulher unidos em matrimónio. Aprofundar tal relação é uma
necessidade do nosso tempo.(83) Várias vezes o Papa João Paulo II teve ocasião
de afirmar o carácter esponsal da Eucaristia e a sua relação peculiar com o
sacramento do matrimónio: « A Eucaristia é o sacramento da nossa redenção. É o
sacramento do Esposo, da Esposa ».(84) Aliás, « toda a vida cristã tem a marca
do amor esponsal entre Cristo e a Igreja. Já o Baptismo, entrada no povo de
Deus, é um mistério nupcial; é, por assim dizer, o banho de núpcias que precede
o banquete das bodas, a Eucaristia ».(85) Esta corrobora de forma inexaurível a
unidade e o amor indissolúveis de cada matrimónio cristão. Neste, em virtude do
sacramento, o vínculo conjugal está intrinsecamente ligado com a união
eucarística entre Cristo esposo e a Igreja esposa (Ef 5, 31-32). O
consentimento recíproco, que o marido e a esposa trocam entre si em Cristo
constituindo-os em comunidade de vida e de amor, tem também uma dimensão
eucarística; com efeito, na teologia paulina, o amor esponsal é sinal
sacramental do amor de Cristo pela sua Igreja, um amor que tem o seu ponto
culminante na cruz, expressão das suas « núpcias » com a humanidade e, ao mesmo
tempo, origem e centro da Eucaristia. Por isso, a Igreja manifesta uma
particular solidariedade espiritual a todos aqueles que fundaram a sua família
sobre o sacramento do Matrimónio.(86) A família — igreja doméstica ( 87) — é um
âmbito primário da vida da Igreja, especialmente pelo papel decisivo que tem na
educação cristã dos filhos.(88) Neste contexto, o Sínodo recomendou também o
reconhecimento da missão singular que tem a mulher na família e na sociedade,
missão esta que há-de ser protegida, salvaguardada e promovida.(89) A sua
dimensão de esposa e mãe constitui uma realidade imprescindível, que nunca deve
ser desprezada.
Eucaristia
e unidade do Matrimónio
28.
É precisamente à luz desta relação intrínseca entre Matrimónio, família e
Eucaristia que se podem considerar alguns problemas pastorais. O vínculo fiel,
indissolúvel e exclusivo que une Cristo e a Igreja e tem expressão sacramental
na Eucaristia, está de harmonia com o dado antropológico primordial segundo o
qual o homem deve unir-se de modo definitivo com uma só mulher, e vice-versa
(Gn 2, 24; Mt 19, 5). Nesta linha de pensamento, o Sínodo dos Bispos
debruçou-se sobre a prática pastoral que deve ser seguida com as pessoas
originárias de culturas onde é praticada a poligamia, que recebem o anúncio do
Evangelho: quantos vivem em tal situação e se abrem à fé cristã devem ser
ajudados a integrar o seu projecto humano na novidade radical de Cristo; no
percurso do catecumenado, Cristo alcança-os na sua condição específica e
chama-os à verdade plena do amor passando através das renúncias que são
necessárias para chegarem à comunhão eclesial perfeita. A Igreja acompanha-os
com uma pastoral imbuída simultaneamente de suavidade e de firmeza,(90)
mostrando-lhes sobretudo a luz dos mistérios cristãos que se reflecte sobre a
natureza e os afectos humanos.
Eucaristia
e indissolubilidade do Matrimónio
29.
Se a Eucaristia exprime a irreversibilidade do amor de Deus em Cristo pela sua
Igreja, compreende-se por que motivo a mesma implique, relativamente ao
sacramento do Matrimónio, aquela indissolubilidade a que todo o amor verdadeiro
não pode deixar de anelar.(91) Por isso, é mais que justificada a atenção
pastoral que o Sínodo reservou às dolorosas situações em que se encontram não
poucos fiéis que, depois de ter celebrado o sacramento do Matrimónio, se
divorciaram e contraíram novas núpcias. Trata-se dum problema pastoral
espinhoso e complexo, uma verdadeira praga do ambiente social contemporâneo que
vai progressivamente corroendo os próprios ambientes católicos. Os pastores,
por amor da verdade, são obrigados a discernir bem as diferentes situações,
para ajudar espiritualmente e de modo adequado os fiéis implicados.(92) O
Sínodo dos Bispos confirmou a prática da Igreja, fundada na Sagrada Escritura
(Mc 10, 2-12), de não admitir aos sacramentos os divorciados re-casados, porque
o seu estado e condição de vida contradizem objectivamente aquela união de amor
entre Cristo e a Igreja que é significada e realizada na Eucaristia. Todavia os
divorciados re-casados, não obstante a sua situação, continuam a pertencer à
Igreja, que os acompanha com especial solicitude na esperança de que cultivem,
quanto possível, um estilo cristão de vida, através da participação na Santa
Missa ainda que sem receber a comunhão, da escuta da palavra de Deus, da
adoração eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo
franco com um sacerdote ou um mestre de vida espiritual, da dedicação ao
serviço da caridade, das obras de penitência, do empenho na educação dos
filhos.
Nos
casos em que surjam legitimamente dúvidas sobre a validade do Matrimónio
sacramental contraído, deve fazer-se tudo o que for necessário para verificar o
fundamento das mesmas. Há que assegurar, pois, no pleno respeito do direito
canónico,(93) a presença no território dos tribunais eclesiásticos, o seu
carácter pastoral, a sua actividade correcta e pressurosa; (94) é necessário
haver, em cada diocese, um número suficiente de pessoas preparadas para o
solícito funcionamento dos tribunais eclesiásticos. Recordo que « é uma
obrigação grave tornar a actuação institucional da Igreja nos tribunais cada
vez mais acessível aos fiéis ».(95) No entanto, é preciso evitar que a
preocupação pastoral seja vista como se estivesse em contraposição com o
direito; ao contrário, deve-se partir do pressuposto que o ponto fundamental de
encontro entre direito e pastoral é o amor pela verdade: com efeito, esta nunca
é abstracta, mas « integra-se no itinerário humano e cristão de cada fiel
».(96) Enfim, caso não seja reconhecida a nulidade do vínculo matrimonial e se
verifiquem condições objectivas que tornam realmente irreversível a
convivência, a Igreja encoraja estes fiéis a esforçarem-se por viver a sua
relação segundo as exigências da lei de Deus, como amigos, como irmão e irmã;
deste modo poderão novamente abeirar-se da mesa eucarística, com os cuidados
previstos por uma comprovada prática eclesial. Para que tal caminho se torne
possível e dê frutos, deve ser apoiado pela ajuda dos pastores e por adequadas
iniciativas eclesiais, evitando, em todo o caso, de abençoar estas relações
para que não surjam entre os fiéis confusões acerca do valor do matrimónio.(97)
Vista
a complexidade do contexto cultural em que vive a Igreja em muitos países, o
Sínodo recomendou ainda que se tivesse o máximo cuidado pastoral com a formação
dos nubentes e a verificação prévia das suas convicções sobre os compromissos
irrenunciáveis para a validade do sacramento do Matrimónio. Um sério
discernimento a tal respeito poderá evitar que impulsos emotivos ou razões
superficiais induzam os dois jovens a assumir responsabilidades que depois não
poderão honrar.(98) Demasiado grande é o bem que a Igreja e a sociedade inteira
esperam do Matrimónio e da família fundada sobre o mesmo para não nos
comprometermos a fundo neste âmbito pastoral específico; Matrimónio e família
são instituições cuja verdade deve ser promovida e defendida de qualquer
equívoco, porque todo o dano a elas causado é realmente uma ferida que se
inflige à convivência humana como tal.
Eucaristia
e escatologia
Eucaristia,
dom para o homem a caminho
30.
Se é certo que os sacramentos são uma realidade que pertence à Igreja peregrina
no tempo( 99) rumo à plena manifestação da vitória de Cristo ressuscitado, é
igualmente verdade que, sobretudo na liturgia eucarística, nos é dado saborear
antecipadamente a consumação escatológica para a qual todo o homem e a criação
inteira estão a caminho (Rm 8, 19s). O homem é criado para a felicidade
verdadeira e eterna, que só o amor de Deus pode dar; mas a nossa liberdade
ferida extraviar-se-ia se não lhe fosse possível experimentar, já desde agora,
algo da consumação futura. Aliás, para poder caminhar na direcção justa, o
homem necessita de estar orientado para a meta final; esta, na realidade, é o
próprio Cristo Senhor, vencedor do pecado e da morte, que Se torna presente para
nós de maneira especial na celebração eucarística. Deste modo, embora sejamos
ainda « estrangeiros e peregrinos » (1 Pd 2, 11) neste mundo, pela fé
participamos já da plenitude da vida ressuscitada. O banquete eucarístico, ao
revelar a sua dimensão intensamente escatológica, vem em ajuda da nossa
liberdade a caminho.
O
banquete escatológico
31.
Reflectindo sobre este mistério, podemos dizer que Cristo, com a sua vinda, Se
colocou em sintonia com a expectativa presente no povo de Israel, na humanidade
inteira e fundamentalmente na própria criação. Com o dom de Si mesmo, inaugurou
objectivamente o tempo escatológico. Cristo veio chamar à unidade o povo de
Deus que andava disperso (Jo 11, 52), manifestando claramente a intenção de
congregar a comunidade da aliança para dar cumprimento às promessas feitas por
Deus a nossos pais (Jer 23, 3; 31, 10; Lc 1, 55.70). Com o chamamento dos Doze
— número que evoca as doze tribos de Israel — e o mandato que lhes confiou na
Última Ceia, antes da sua paixão redentora, de celebrarem o seu memorial, Jesus
manifestou que queria transferir, para a comunidade inteira por Ele fundada, a
missão de ser, na história, sinal e instrumento da reunificação escatológica
que n'Ele teve início. Por isso, em cada celebração eucarística, realiza-se
sacramentalmente a unificação escatológica do povo de Deus. Para nós, o banquete
eucarístico é uma antecipação real do banquete final, preanunciado pelos
profetas (Is 25, 6-9) e descrito no Novo Testamento como « as núpcias do
Cordeiro » (Ap 19, 7-9) que se hão-de celebrar na comunhão dos santos.(100)
Oração
pelos defuntos
32.
A celebração eucarística, na qual anunciamos a morte do Senhor e proclamamos a
sua ressurreição enquanto aguardamos a sua vinda gloriosa, é penhor da glória
futura, quando mesmo os nossos corpos serão glorificados. Ao celebrarmos o
memorial da nossa salvação, reforça-se em nós a esperança da ressurreição da
carne juntamente com a possibilidade de encontrarmos de novo, face a face,
aqueles que nos precederam com o sinal da fé. Nesta linha, queria, juntamente
com os padres sinodais, lembrar a todos os fiéis a importância da oração de
sufrágio, particularmente a celebração de Missas, pelos defuntos para que,
purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus.(101) Sempre que
descobrimos de novo a dimensão escatológica presente na Eucaristia, celebrada e
adorada, somos apoiados no nosso caminho e confortados na esperança da glória
(Rm 5, 2; Tt 2, 13).
A
Eucaristia e a Virgem Maria
33.
Da relação entre a Eucaristia e os restantes sacramentos juntamente com o
significado escatológico dos santos mistérios, irrompe o perfil da vida cristã,
chamada a ser em cada instante culto espiritual, oferta de si mesma agradável a
Deus. E, se é verdade que nos encontramos todos ainda a caminho rumo à plena
consumação da nossa esperança, isto não impede de podermos já agora reconhecer,
com gratidão, que tudo aquilo que Deus nos deu, se realizou perfeitamente na
Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa: a sua assunção ao céu em corpo e alma é,
para nós, sinal de segura esperança, enquanto nos aponta a nós, peregrinos no
tempo, aquela meta escatológica que o sacramento da Eucaristia desde já nos faz
saborear.
Em
Maria Santíssima, vemos perfeitamente realizada também a modalidade sacramental
com que Deus alcança e envolve na sua iniciativa salvífica a criatura humana.
Desde a anunciação ao Pentecostes, Maria de Nazaré aparece como uma pessoa cuja
liberdade está completamente disponível à vontade de Deus; a sua Imaculada
Conceição revela-se propriamente na docilidade incondicional à palavra divina.
A fé obediente é a forma que a sua vida assume em cada instante perante a acção
de Deus: Virgem à escuta, Ela vive em plena sintonia com a vontade divina;
conserva no seu coração as palavras que lhe chegam da parte de Deus e,
dispondo-as à maneira de um mosaico, aprende a compreendê-las mais a fundo (Lc
2, 19.51); Maria é a grande Crente que, cheia de confiança, Se coloca nas mãos
de Deus, abandonando-Se à sua vontade.(102) Um tal mistério vai crescendo de
intensidade até chegar ao pleno envolvimento d'Ela na missão redentora de
Jesus; como afirmou o Concílio Vaticano II, « assim avançou a Virgem pelo
caminho da fé, mantendo fielmente a união com seu Filho até à cruz. Junto desta
esteve, não sem desígnio de Deus (Jo 19, 25), padecendo acerbamente com o seu
Filho único, e associando-Se com coração de mãe ao seu sacrifício, consentindo
com amor na imolação da vítima que d'Ela nascera; finalmente, Jesus Cristo,
agonizante na cruz, deu-A por mãe ao discípulo, com estas palavras: mulher, eis
aí o teu filho (Jo 19, 26-27) ».(103) Desde a anunciação até à cruz, Maria é
Aquela que acolhe a Palavra que n'Ela Se fez carne e foi até emudecer no
silêncio da morte. É Ela, enfim, que recebe nos seus braços o corpo imolado, já
exânime, d'Aquele que verdadeiramente amou os Seus « até ao fim » (Jo 13, 1).
Por
isso, sempre que na liturgia eucarística nos abeiramos do corpo e do sangue de
Cristo, dirigimo-nos também a Ela que, por toda a Igreja, acolheu o sacrifício
de Cristo, aderindo plenamente ao mesmo. Justamente afirmaram os padres
sinodais que « Maria inaugura a participação da Igreja no sacrifício do
Redentor ».(104) Ela é a Imaculada que acolhe incondicionalmente o dom de Deus,
e desta forma fica associada à obra da salvação. Maria de Nazaré, ícone da
Igreja nascente, é o modelo para cada um de nós saber como é chamado a acolher
a doação que Jesus fez de Si mesmo na Eucaristia.
II
PARTE
EUCARISTIA,
MISTÉRIO CELEBRADO
«
Em verdade, em verdade vos digo:
Não
foi Moisés que vos deu o pão
que
vem do céu; meu Pai é que vos dá
o
verdadeiro pão que vem do céu » (Jo 6, 32)
Norma
da oração e norma de fé
34.
O Sínodo dos Bispos reflectiu demoradamente sobre a relação intrínseca entre fé
eucarística e celebração, pondo em evidência a ligação entre a norma da oração
(lex orandi) e a norma de fé (lex credendi) e sublinhando o primado da acção
litúrgica. É necessário viver a Eucaristia como mistério da fé autenticamente
celebrado, bem cientes de que « a inteligência da fé (intellectus fidei) sempre
está originariamente em relação com a acção litúrgica da Igreja »:(105) neste
âmbito, a reflexão teológica não pode prescindir jamais da ordem sacramental
instituída pelo próprio Cristo; por outro lado, a acção litúrgica nunca pode
ser considerada genericamente, prescindindo do mistério da fé. Com efeito, a
fonte da nossa fé e da liturgia eucarística é o mesmo acontecimento: a doação
que Cristo fez de Si próprio no mistério pascal.
Beleza
e liturgia
35.
A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo
peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza. De facto, a liturgia, como
aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é esplendor
da verdade (veritatis splendor). Na liturgia, brilha o mistério pascal, pelo
qual o próprio Cristo nos atrai a Si e chama à comunhão. Em Jesus, como
costumava dizer São Boaventura, contemplamos a beleza e o esplendor das
origens.(106) Referimo-nos aqui a este atributo da beleza, vista não enquanto
mero esteticismo, mas como modalidade com que a verdade do amor de Deus em
Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e
atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor.(107) Já na criação,
Deus Se deixa entrever na beleza e harmonia do universo (Sab 13, 5; Rm 1,
19-20). Depois, no Antigo Testamento, encontramos sinais grandiosos do
esplendor da força de Deus, que Se manifesta com a sua glória através dos
prodígios realizados no meio do povo eleito (Ex 14; 16, 10; 24, 12-18; Nm 14,
20-23). No Novo Testamento, realiza-se definitivamente esta epifania de beleza
na revelação de Deus em Jesus Cristo: (108) Ele é a manifestação plena da
glória divina. Na glorificação do Filho, resplandece e comunica-se a glória do
Pai (Jo 1, 14; 8, 54; 12, 28; 17, 1). Mas, esta beleza não é uma simples
harmonia de formas; « o mais belo dos filhos do homem » (Sal 45/44, 3)
misteriosamente é também um indivíduo « sem distinção nem beleza que atraia o
nosso olhar » (Is 53, 2). Jesus Cristo mostra-nos como a verdade do amor sabe
transfigurar inclusive o mistério sombrio da morte na luz radiante da
ressurreição. Aqui o esplendor da glória de Deus supera toda a beleza do mundo.
A verdadeira beleza é o amor de Deus que nos foi definitivamente revelado no
mistério pascal.
A
beleza da liturgia pertence a este mistério; é expressão excelsa da glória de
Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra. O memorial do
sacrifício redentor traz em si mesmo os traços daquela beleza de Jesus
testemunhada por Pedro, Tiago e João, quando o Mestre, a caminho de Jerusalém,
quis transfigurar-Se diante deles (Mc 9, 2). Concluindo, a beleza não é um
factor decorativo da acção litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto
atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isto nos há-de tornar
conscientes da atenção que se deve prestar à acção litúrgica para que brilhe
segundo a sua própria natureza.
A
celebração eucarística,
obra
de Cristo inteiro
Cristo
inteiro: cabeça e corpo
36.
A beleza intrínseca da liturgia tem, como sujeito próprio, Cristo ressuscitado
e glorificado no Espírito Santo, que inclui a Igreja na sua acção.(109) Nesta
perspectiva, é muito sugestivo recordar as palavras de Santo Agostinho que
descrevem, de modo eficaz, esta dinâmica de fé própria da Eucaristia;
referindo-se precisamente ao mistério eucarístico, o grande santo de Hipona põe
em evidência como o próprio Cristo nos assimila a Si mesmo: « O pão que vedes
sobre o altar, santificado com a palavra de Deus, é o corpo de Cristo. O
cálice, ou melhor, aquilo que o cálice contém, santificado com as palavras de
Deus, é sangue de Cristo. Com estes [sinais], Cristo Senhor quis confiar-nos o
seu corpo e o seu sangue, que derramou por nós para a remissão dos pecados. Se
os recebestes bem, vós mesmos sois Aquele que recebestes ».(110) Assim, «
tornamo-nos não apenas cristãos, mas o próprio Cristo ».(111) Nisto podemos
contemplar a acção misteriosa de Deus, que inclui a unidade profunda entre nós
e o Senhor Jesus: « De facto, não se pode crer que Cristo esteja na cabeça sem
estar também no corpo, pois Ele está todo inteiro na cabeça e no corpo
(Christus totus in capite et in corpore) ».(112)
Eucaristia
e Cristo ressuscitado
37.
Visto que a liturgia eucarística é essencialmente acção de Deus (actio Dei) que
nos envolve em Jesus por meio do Espírito, o seu fundamento não está à mercê do
nosso arbítrio e não pode suportar a chantagem das modas passageiras. Vale aqui
também, sem dúvida, a advertência de São Paulo: « Ninguém pode pôr outro
fundamento diferente do que foi posto, isto é, Jesus Cristo » (1 Cor 3, 11). O
Apóstolo das Gentes certifica-nos ainda, referindo-se à Eucaristia, que não nos
comunica uma doutrina pessoal, mas aquilo que, por sua vez, tinha recebido (1 Cor
11, 23); de facto, a celebração da Eucaristia implica a Tradição viva. A Igreja
celebra o sacrifício eucarístico obedecendo ao mandato de Cristo, a partir da
experiência do Ressuscitado e da efusão do Espírito Santo. Por este motivo, a
comunidade cristã, desde os seus primórdios, reúne-se para a fracção do pão
(fractio panis) no dia do Senhor. O dia em que Cristo ressuscitou dos mortos, o
domingo, é também o primeiro dia da semana, aquele em que a tradição do Antigo
Testamento contemplava o início da criação. O dia da criação tornou-se agora o
dia da « nova criação », o dia da nossa libertação, no qual fazemos memória de
Cristo morto e ressuscitado.(113)
Arte
da celebração
38.
Durante os trabalhos sinodais, foi várias vezes recomendada a necessidade de superar
toda e qualquer separação entre a arte da celebração (ars celebrandi, isto é, a
arte de celebrar rectamente) e a participação plena, activa e frutuosa de todos
os fiéis: com efeito, o primeiro modo de favorecer a participação do povo de
Deus no rito sagrado é a condigna celebração do mesmo; a arte da celebração é a
melhor condição para a participação activa (actuosa participatio).(114) Aquela
resulta da fiel obediência às normas litúrgicas na sua integridade, pois é
precisamente este modo de celebrar que, há dois mil anos, garante a vida de fé
de todos os crentes, chamados a viver a celebração enquanto povo de Deus,
sacerdócio real, nação santa (1 Pd 2, 4-5.9).(115)
O
bispo, liturgista por excelência
39.
Se é verdade que todo o povo de Deus participa na liturgia eucarística, uma
função imprescindível, relativamente à correcta ars celebrandi, compete todavia
àqueles que receberam o sacramento da Ordem. Bispos, sacerdotes e diáconos,
cada qual segundo o próprio grau, devem considerar a celebração como o seu
dever principal.(116) Antes de mais ninguém, o bispo diocesano: de facto, como
« primeiro dispensador dos mistérios de Deus na Igreja particular que lhe está
confiada, ele é o guia, o promotor e o guardião de toda a vida litúrgica
».(117) Tudo isto é decisivo para a vida da Igreja particular, não só porque a
comunhão com o bispo é condição para que seja legítima uma celebração no
respectivo território, mas também porque ele mesmo é o liturgista por
excelência da sua Igreja.(118) Compete-lhe salvaguardar a concorde unidade das
celebrações na sua diocese; por isso, deve ser « preocupação do bispo fazer com
que os presbíteros, os diáconos e os fiéis compreendam cada vez melhor o
sentido autêntico dos ritos e dos textos litúrgicos, levando-os deste modo a
uma activa e frutuosa celebração da Eucaristia ».(119) De modo particular,
exorto a fazer tudo o que for necessário a fim de que as celebrações litúrgicas
realizadas pelo bispo na catedral se desenrolem no respeito cabal da arte da
celebração, para que possam ser consideradas como modelo por todas as igrejas
espalhadas no território.(120)
O
respeito pelos livros litúrgicos e pela riqueza dos sinais
40.
Ao ressaltar a importância da arte da celebração, consequentemente põe-se em
evidência o valor das normas litúrgicas.(121) Aquela deve favorecer o sentido
do sagrado e a utilização das formas exteriores que educam para tal sentido,
como, por exemplo, a harmonia do rito, das vestes litúrgicas, da decoração e do
lugar sagrado. A celebração eucarística é frutuosa quando os sacerdotes e os
responsáveis da pastoral litúrgica se esforçam por dar a conhecer os livros
litúrgicos em vigor e as respectivas normas, pondo em destaque as riquezas
estupendas da Instrução Geral do Missal Romano e da Instrução das Leituras da
Missa. Talvez se dê por adquirido, nas comunidades eclesiais, o seu
conhecimento e devido apreço, mas frequentemente não é assim; na realidade,
trata-se de textos onde estão contidas riquezas que guardam e exprimem a fé e o
caminho do povo de Deus ao longo dos dois milénios da sua história. Igualmente
importante para uma correcta arte da celebração é a atenção a todas as formas
de linguagem previstas pela liturgia: palavra e canto, gestos e silêncios,
movimento do corpo, cores litúrgicas dos paramentos. Com efeito, a liturgia,
por sua natureza, possui uma tal variedade de níveis de comunicação que lhe
permitem cativar o ser humano na sua totalidade. A simplicidade dos gestos e a
sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e
cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas. A atenção e a
obediência à estrutura própria do rito, ao mesmo tempo que exprimem a
consciência do carácter de dom da Eucaristia, manifestam a vontade que o
ministro tem de acolher, com dócil gratidão, esse dom inefável.
Arte
ao serviço da celebração
41.
A profunda ligação entre a beleza e a liturgia deve levar-nos a considerar
atentamente todas as expressões artísticas colocadas ao serviço da
celebração.(122) Uma componente importante da arte sacra é, sem dúvida, a
arquitectura das igrejas,(123) nas quais há-de sobressair a coerência entre os
elementos próprios do presbitério: altar, crucifixo, sacrário, ambão, cadeira.
A este respeito, tenha-se presente que a finalidade da arquitectura sacra é
oferecer à Igreja que celebra os mistérios de fé, especialmente a Eucaristia, o
espaço mais idóneo para uma condigna realização da sua acção litúrgica; (124)
de facto, a natureza do templo cristão define-se precisamente pela acção
litúrgica, a qual implica a reunião dos fiéis (ecclesia), que são as pedras
vivas do templo (1 Pd 2, 5).
O
mesmo princípio vale para toda a arte sacra em geral, especialmente para a
pintura e a escultura, devendo a iconografia religiosa ser orientada para a
mistagogia sacramental. Um conhecimento profundo das formas que a arte sacra
conseguiu produzir, ao longo dos séculos, pode ser de grande ajuda para quem
tenha a responsabilidade de chamar arquitectos e artistas para comissionar-lhes
obras de arte destinadas à acção litúrgica; por isso, é indispensável que, na
formação dos seminaristas e dos sacerdotes, se inclua, entre as disciplinas
importantes, a História da Arte com especial referimento aos edifícios de culto
à luz das normas litúrgicas. Enfim, é necessário que, em tudo quanto tenha a
ver com a Eucaristia, haja gosto pela beleza; dever-se-á ter respeito e cuidado
também pelos paramentos, as alfaias, os vasos sagrados, para que, interligados
de forma orgânica e ordenada, alimentem o enlevo pelo mistério de Deus,
manifestem a unidade da fé e reforcem a devoção.(125)
O
canto litúrgico
42.
Na arte da celebração, ocupa lugar de destaque o canto litúrgico.(126) Com
razão afirma Santo Agostinho, num famoso sermão: « O homem novo conhece o
cântico novo. O cântico é uma manifestação de alegria e, se considerarmos
melhor, um sinal de amor ».(127) O povo de Deus, reunido para a celebração,
canta os louvores de Deus. Na sua história bimilenária, a Igreja criou, e
continua a criar, música e cânticos que constituem um património de fé e amor
que não se deve perder. Verdadeiramente, em liturgia, não podemos dizer que
tanto vale um cântico como outro; a propósito, é necessário evitar a
improvisação genérica ou a introdução de géneros musicais que não respeitem o
sentido da liturgia. Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na
forma própria da celebração; (128) consequentemente, tudo — no texto, na
melodia, na execução — deve corresponder ao sentido do mistério celebrado, às
várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos.(129) Enfim, embora
tendo em conta as distintas orientações e as diferentes e amplamente louváveis
tradições, desejo — como foi pedido pelos padres sinodais — que se valorize
adequadamente o canto gregoriano,(130) como canto próprio da liturgia
romana.(131)
A
estrutura da celebração eucarística
43.
Depois de ter recordado os elementos fundamentais da arte da celebração
relevados durante os trabalhos sinodais, desejo chamar a atenção mais
especificamente para algumas partes da estrutura da celebração eucarística, que
necessitam de um cuidado particular no nosso tempo, a fim de permanecermos
fiéis à intenção profunda da renovação litúrgica que o Concílio Vaticano II
quis em continuidade com toda a grande tradição eclesial.
Unidade
intrínseca da acção litúrgica
44.
Antes de mais, é necessário reflectir sobre a unidade intrínseca do rito da
Santa Missa, evitando, tanto nas catequeses como na modalidade de celebração,
que se dê ensejo a uma visão justaposta das duas partes do rito: a liturgia da
palavra e a liturgia eucarística — para além dos ritos iniciais e conclusivo —
« estão entre si tão estreitamente ligadas que constituem um único acto de
culto ».(132) De facto, existe uma ligação intrínseca entre a palavra de Deus e
a parte eucarística: ao ouvirmos a palavra de Deus, nasce ou reforça-se a fé
(Rm 10, 17), enquanto, na parte eucarística, o Verbo feito carne dá-Se a nós
como alimento espiritual; (133) assim, « a partir das duas mesas, a da palavra
de Deus e a do corpo de Cristo, a Igreja recebe e oferece aos fiéis o pão de
vida ».(134) Por isso, deve ter-se constantemente presente que a palavra de
Deus, lida e anunciada na liturgia pela Igreja, conduz à Eucaristia como a seu
fim conatural.
A
liturgia da palavra
45.
Juntamente com o Sínodo, peço que a liturgia da palavra seja sempre devidamente
preparada e vivida. Recomendo, pois, vivamente que se tenha grande cuidado, nas
liturgias, com a proclamação da palavra de Deus por leitores bem preparados;
nunca nos esqueçamos de que, « quando na igreja se lê a Sagrada Escritura, é o
próprio Deus que fala ao seu povo, é Cristo presente na sua palavra que anuncia
o Evangelho ».(135) Se as circunstâncias o recomendarem, pode-se pensar numas
breves palavras de introdução, que ajudem os fiéis a tomar renovada consciência
do momento. Para ser bem compreendida, a palavra de Deus deve ser escutada e
acolhida com espírito eclesial e cientes da sua unidade com o sacramento
eucarístico. Com efeito, a palavra que anunciamos e ouvimos é o Verbo feito
carne (Jo 1, 14) e possui uma referência intrínseca à pessoa de Cristo e à
modalidade sacramental da sua permanência: Cristo não fala no passado mas no
nosso presente, tal como Ele está presente na acção litúrgica. Neste horizonte
sacramental da revelação cristã,(136) o conhecimento e o estudo da palavra de
Deus permitem-nos valorizar, celebrar e viver melhor a Eucaristia; também aqui
se mostra em toda a sua verdade a conhecida asserção: « A ignorância da
Escritura é ignorância de Cristo ».(137)
Para
isso, é necessário ajudar os fiéis a valorizarem os tesouros da Sagrada
Escritura presentes no Leccionário, por meio de iniciativas pastorais, de
celebrações da palavra e da leitura orante (lectio divina). Além disso, não se
esqueça de promover as formas de oração confirmadas pela tradição: a Liturgia
das Horas, sobretudo Laudes, Vésperas, Completas e ainda as celebrações das
Vigílias. A oração dos salmos, as leituras bíblicas e as da grande tradição
apresentadas no Ofício Divino podem levar a uma experiência profunda do
acontecimento de Cristo e da economia da salvação, capaz por sua vez de enriquecer
a compreensão e a participação na celebração eucarística.(138)
A
homilia
46.
Pensando na importância da palavra de Deus, surge a necessidade de melhorar a
qualidade da homilia; de facto, esta « constitui parte integrante da acção
litúrgica »,(139) cuja função é favorecer uma compreensão e eficácia mais ampla
da palavra de Deus na vida dos fiéis. Por isso, os ministros ordenados devem «
preparar cuidadosamente a homilia, baseando-se num adequado conhecimento da
Sagrada Escritura ».(140) Evitem-se homilias genéricas ou abstractas; de modo
particular, peço aos ministros para fazerem com que a homilia coloque a palavra
de Deus proclamada em estreita relação com a celebração sacramental (141) e com
a vida da comunidade, de tal modo que a palavra de Deus seja realmente apoio e
vida da Igreja.(142) Tenha-se presente, portanto, a finalidade catequética e
exortativa da homilia. Considera-se que é oportuno oferecer prudentemente, a
partir do Leccionário trienal, homilias temáticas aos fiéis que tratem, ao longo
do ano litúrgico, os grandes temas da fé cristã, haurindo de quanto está
autorizadamente proposto pelo Magistério nos quatro « pilares » do Catecismo da
Igreja Católica e no recente Compêndio: a profissão da fé, a celebração do
mistério cristão, a vida em Cristo, a oração cristã.(143)
Apresentação
das oferendas
47.
Os padres sinodais chamaram a atenção também para a apresentação das oferendas.
Não se trata simplesmente duma espécie de « intervalo » entre a liturgia da
palavra e a liturgia eucarística, o que faria, sem dúvida, atenuar o sentido de
um único rito composto de duas partes interligadas; realmente, neste gesto
humilde e simples, encerra-se um significado muito grande: no pão e no vinho
que levamos ao altar, toda a criação é assumida por Cristo Redentor para ser
transformada e apresentada ao Pai.(144) Nesta perspectiva, levamos ao altar
também todo o sofrimento e tribulação do mundo, na certeza de que tudo é
precioso aos olhos de Deus. Este gesto não necessita de ser enfatizado com
descabidas complicações para ser vivido no seu significado autêntico: o mesmo
permite valorizar a participação primeira que Deus pede ao homem, ou seja,
levar em si mesmo a obra divina à perfeição, e dar assim pleno sentido ao
trabalho humano que, através da celebração eucarística, fica unido ao
sacrifício redentor de Cristo.
A
Oração Eucarística
48.
A Oração Eucarística é « o ponto central e culminante de toda a celebração »;
(145) merece ser convenientemente ressaltada a sua importância. As diversas
Orações Eucarísticas contidas no Missal foram-nos transmitidas pela Tradição
viva da Igreja e caracterizam-se por uma riqueza teológica e espiritual
inesgotável; os fiéis devem poder ser capazes de apreciá-la. A isto mesmo nos
ajuda a Instrução Geral do Missal Romano, quando lembra os elementos
fundamentais de cada Oração Eucarística: acção de graças, aclamação, epiclese,
narração da instituição, consagração, anamnese, oblação, intercessões e
doxologia final.(146) Em particular, a espiritualidade eucarística e a reflexão
teológica são iluminadas se se contempla a profunda unidade que existe, na
anáfora, entre a invocação do Espírito Santo e a narração da instituição,(147)
quando « se realiza o sacrifício que o próprio Cristo instituiu na Última Ceia
».(148) De facto, « por meio de invocações especiais, a Igreja implora o poder
do Espírito Santo, para que os dons oferecidos pelos homens sejam consagrados,
isto é, se convertam no corpo e sangue de Cristo, e para que a vítima
imaculada, que vai ser recebida na comunhão, opere a salvação daqueles que dela
vão participar ».(149)
Saudação
da paz
49.
A Eucaristia é, por sua natureza, sacramento da paz. Na celebração litúrgica,
esta dimensão do mistério eucarístico encontra a sua manifestação específica no
rito da saudação da paz. Trata-se, sem dúvida, dum sinal de grande valor (Jo
14, 27). Neste nosso tempo pavorosamente cheio de conflitos, tal gesto adquire
— mesmo do ponto de vista da sensibilidade comum — um relevo particular, pois a
Igreja sente cada vez mais como sua missão própria a de implorar ao Senhor o
dom da paz e da unidade para si mesma e para a família humana inteira. A paz é,
sem dúvida, uma aspiração radical que se encontra no coração de cada um; a
Igreja dá voz ao pedido de paz e reconciliação que brota do espírito de cada
pessoa de boa vontade, apresentando-o Àquele que « é a nossa paz » (Ef 2, 14) e
pode pacificar de novo povos e pessoas, mesmo onde tivessem falido os esforços
humanos. A partir de tudo isto, é possível compreender a intensidade com que
frequentemente é sentido o rito da paz na celebração litúrgica. A este
respeito, porém, durante o Sínodo dos Bispos foi sublinhada a conveniência de
moderar este gesto, que pode assumir expressões excessivas, suscitando um pouco
de confusão na assembleia precisamente antes da comunhão. É bom lembrar que
nada tira ao alto valor do gesto a sobriedade necessária para se manter um
clima apropriado à celebração, limitando, por exemplo, a saudação da paz a quem
está mais próximo.(150)
Distribuição
e recepção da Eucaristia
50.
Outro momento da celebração, que necessita de menção, é a distribuição e a recepção
da sagrada comunhão. Peço a todos, especialmente aos ministros ordenados e
àqueles que, devidamente preparados e em caso de real necessidade, estejam
autorizados para o ministério da distribuição da Eucaristia, que façam o
possível para que o gesto, na sua simplicidade, corresponda ao seu valor de
encontro pessoal com o Senhor Jesus no sacramento. Quanto às prescrições para a
correcta prática do mesmo, vejam-se os documentos recentemente emanados; ( 151)
todas as comunidades cristãs se atenham fielmente às normas vigentes, vendo
nelas a expressão da fé e do amor que todos devemos ter por este sublime
sacramento. Além disso, não seja transcurado o tempo precioso de acção de
graças depois da comunhão: além da entoação dum cântico oportuno, pode ser muito
útil também permanecer recolhidos em silêncio.(152)
A
propósito, desejo chamar a atenção para um problema pastoral com que
frequentemente nos deparamos no nosso tempo: em determinadas circunstâncias
como, por exemplo, nas Missas celebradas por ocasião de matrimónios, funerais
ou acontecimentos análogos, encontram-se presentes na celebração, além dos
fiéis praticantes, outros que talvez há anos não se aproximam do altar ou se
encontram numa situação de vida que não permite o acesso aos sacramentos; outras
vezes acontece que estão presentes pessoas de outras confissões cristãs ou até
de outras religiões. Circunstâncias semelhantes verificam-se também em igrejas
que são meta de turistas, sobretudo nas cidades de grande valor artístico. Ora,
salta aos olhos a necessidade de encontrar formas breves e incisivas para
alertar a todos sobre o sentido da comunhão sacramental e sobre as condições
que se requerem para a sua recepção. Em situações onde não se possa garantir a
necessária clareza quanto ao significado da Eucaristia, deve-se ponderar a
oportunidade de substituir a celebração eucarística por uma celebração da
palavra de Deus.(153)
A
despedida: « Ite, missa est »
51.
Por último, quero deter-me naquilo que disseram os padres sinodais acerca da
saudação de despedida no final da celebração eucarística. Depois da bênção, o
diácono ou o sacerdote despede o povo com as palavras « Ide em paz e o Senhor
vos acompanhe », tradução aproximada da fórmula latina: Ite, missa est. Nesta
saudação, podemos identificar a relação entre a Missa celebrada e a missão
cristã no mundo. Na antiguidade, o termo « missa » significava simplesmente «
despedida »; mas, no uso cristão, o mesmo foi ganhando um sentido cada vez mais
profundo, tendo o termo « despedir » evoluído para « expedir em missão ». Deste
modo, a referida saudação exprime sinteticamente a natureza missionária da
Igreja; seria bom ajudar o povo de Deus a aprofundar esta dimensão constitutiva
da vida eclesial, tirando inspiração da liturgia. Nesta perspectiva, pode ser útil
dispor de textos, devidamente aprovados, para a oração sobre o povo e a bênção
final que explicitem tal ligação.(154)
Participação
activa
Autêntica
participação
52.
O Concílio Vaticano II colocara, justamente, uma ênfase particular sobre a
participação activa, plena e frutuosa de todo o povo de Deus na celebração
eucarística.(155) A renovação operada nestes anos proporcionou, sem dúvida,
notáveis progressos na direcção desejada pelos padres conciliares; mas não
podemos ignorar que houve, às vezes, qualquer incompreensão precisamente acerca
do sentido desta participação. Convém, pois, deixar claro que não se pretende,
com tal palavra, aludir a mera actividade exterior durante a celebração; na
realidade, a participação activa desejada pelo Concílio deve ser entendida, em
termos mais substanciais, a partir duma maior consciência do mistério que é
celebrado e da sua relação com a vida quotidiana. Permanece plenamente válida
ainda a recomendação da Constituição conciliar Sacrosanctum Concilium feita aos
fiéis quando os exorta a não assistirem à liturgia eucarística « como estranhos
ou espectadores mudos », mas a participarem « na acção sagrada, consciente,
activa e piedosamente ».(156) E o Concílio, desenvolvendo seu pensamento,
prossegue: Os fiéis « sejam instruídos pela palavra de Deus; alimentem-se à
mesa do corpo do Senhor; dêem graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si
mesmos, ao oferecer juntamente com o sacerdote, que não só pelas mãos dele, a
hóstia imaculada; que, dia após dia, por Cristo Mediador, progridam na unidade
com Deus e entre si ».(157)
Participação
e ministério sacerdotal
53.
A beleza e a harmonia da acção litúrgica encontram significativa expressão na
ordem com que cada um é chamado a participar activamente nela; isto requer o
conhecimento das diversas funções hierárquicas implicadas na própria
celebração. Pode ser útil lembrar que a participação activa na mesma não
coincide, de per si, com o desempenho dum ministério particular; sobretudo, não
favorece a causa da participação activa dos fiéis uma confusão gerada pela
incapacidade de distinguir, na comunhão eclesial, as diversas funções que cabem
a cada um.(158) De modo particular, convém que haja clareza quanto às funções
específicas do sacerdote: como atesta a tradição da Igreja, é ele quem
insubstituivelmente preside à celebração eucarística inteira, desde a saudação
inicial até à bênção final. Em virtude da Ordem sacra recebida, representa
Jesus Cristo cabeça da Igreja e, na forma que lhe é própria, também a
Igreja.(159) De facto, cada celebração da Eucaristia é conduzida pelo Bispo, «
quer pessoalmente, quer pelos presbíteros seus colaboradores »; (160) e é
coadjuvado pelo diácono, que tem na celebração algumas funções específicas:
preparar o altar e assistir ao sacerdote, proclamar o Evangelho e,
eventualmente, fazer a homilia, propor aos fiéis as intenções da Oração
Universal, distribuir a Eucaristia aos fiéis.(161) Em relação com estes
ministérios dependentes do sacramento da Ordem, aparecem depois outros
ministérios para o serviço litúrgico, louvavelmente desempenhados por
religiosos e leigos preparados.(162)
Celebração
eucarística e inculturação
54.
Partindo fundamentalmente de quanto afirmou o Concílio Vaticano II, várias
vezes foi sublinhada a importância da participação activa dos fiéis no
sacrifício eucarístico. Para a favorecer, podem ter lugar algumas adaptações
apropriadas aos respectivos contextos e às diversas culturas;( 163) o facto de
ter havido alguns abusos não turba a clareza deste princípio, que deve ser
mantido segundo as necessidades reais da Igreja, a qual vive e celebra o mesmo
mistério de Cristo em situações culturais diferentes. De facto, o Senhor Jesus,
precisamente no mistério da Encarnação, ao nascer de uma mulher como perfeito
homem (Gal 4, 4) colocou-se em relação directa não só com as expectativas que
se registavam no âmbito do Antigo Testamento, mas também com as cultivadas por
todos os povos; manifestou, assim, que Deus pretende alcançar-nos no nosso
contexto vital. Por conseguinte é útil, para uma participação mais eficaz dos
fiéis nos santos mistérios, a continuação do processo de inculturação
inclusivamente quanto à celebração eucarística, tendo em conta as
possibilidades de adaptação oferecidas pela Instrução Geral do Missal
Romano,(164) interpretadas à luz dos critérios estabelecidos pela IV Instrução
da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, designada
Varietates legitimæ, de 25 de Janeiro de 1994,(165) e pelas directrizes
expressas pelo Papa João Paulo II nas Exortações pós-sinodais Ecclesia in
Africa, Ecclesia in America, Ecclesia in Asia, Ecclesia in Oceania, Ecclesia in
Europa.(166) Com esta finalidade, recomendo às Conferências Episcopais que
prossigam com esta obra, favorecendo um justo equilíbrio entre os critérios e
directrizes já emanados e as novas adaptações,(167) sempre de acordo com a Sé
Apostólica.
Condições
pessoais para uma participação activa
55.
Ao considerarem o tema da participação activa (actuosa participatio) dos fiéis
no rito sagrado, os padres sinodais ressaltaram também as condições pessoais
que se requerem em cada um para uma frutuosa participação.(168) Uma delas é, sem
dúvida, o espírito de constante conversão que deve caracterizar a vida de todos
os fiéis: não podemos esperar uma participação activa na liturgia eucarística,
se nos abeiramos dela superficialmente e sem antes nos interrogarmos sobre a
própria vida. Favorecem tal disposição interior, por exemplo, o recolhimento e
o silêncio durante alguns momentos pelo menos antes do início da liturgia, o
jejum e — quando for preciso — a confissão sacramental; um coração reconciliado
com Deus predispõe para a verdadeira participação. De modo particular é preciso
alertar os fiéis que não se pode verificar uma participação activa nos santos
mistérios, se ao mesmo tempo não se procura tomar parte activa na vida eclesial
em toda a sua amplitude, incluindo o compromisso missionário de levar o amor de
Cristo para o meio da sociedade.
Sem
dúvida, para a plena participação na Eucaristia é preciso também aproximar-se
pessoalmente do altar para receber a comunhão; (169) contudo é preciso estar
atento para que esta afirmação, justa em si mesma, não induza os fiéis a um
certo automatismo levando-os a pensar que, pelo simples facto de se encontrar
na igreja durante a liturgia, se tenha o direito ou mesmo — quem sabe — se
sinta no dever de aproximar-se da mesa eucarística. Mesmo quando não for
possível abeirar-se da comunhão sacramental, a participação na Santa Missa
permanece necessária, válida, significativa e frutuosa; neste caso, é bom
cultivar o desejo da plena união com Cristo, por exemplo, através da prática da
comunhão espiritual, recordada por João Paulo II (170) e recomendada por santos
mestres de vida espiritual.(171)
Participação
dos cristãos não católicos
56.
Ao tratarmos o tema da participação, temos inevitavelmente de falar dos
cristãos que pertencem a Igrejas ou Comunidades eclesiais que não estão em
plena comunhão com a Igreja Católica. A este respeito, temos de dizer, por um
lado, que o vínculo intrínseco existente entre a Eucaristia e a unidade da
Igreja nos faz desejar ardentemente o dia em que poderemos celebrar, juntamente
com todos os que crêem em Cristo, a divina Eucaristia e exprimir assim
visivelmente aquela plena unidade que Cristo quis para os seus discípulos (Jo
17, 21); mas, por outro lado, o respeito que devemos ao sacramento do corpo e
do sangue de Cristo impede-nos de fazer dele um simples « meio » usado
indiscriminadamente para alcançar a referida unidade.(172) De facto, a
Eucaristia não manifesta somente a nossa comunhão pessoal com Jesus Cristo, mas
implica também a plena comunhão (communio) com a Igreja; este é o motivo pelo
qual, com dor mas não sem esperança, pedimos aos cristãos não católicos que
compreendam e respeitem a nossa convicção, que assenta na Bíblia e na Tradição:
pensamos que a comunhão eucarística e a comunhão eclesial se interpenetrem tão
intimamente que se torna geralmente impossível aos cristãos não católicos terem
acesso a uma sem gozar da outra. Ainda mais desprovida de sentido seria uma
concelebração verdadeira e própria com ministros de Igrejas ou Comunidades
eclesiais que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica. Não deixa,
porém, de ser verdade que, em ordem à salvação eterna, há a possibilidade de
admitir indivíduos cristãos não católicos à Eucaristia, ao sacramento da
Penitência e à Unção dos Enfermos; mas isso supõe que se verifiquem
determinadas e excepcionais situações, associadas a precisas condições.(173)
Estas aparecem claramente indicadas no Catecismo da Igreja Católica (174) e no
seu Compêndio.(175) É dever de cada um ater-se a elas fielmente.
Participação
através dos meios de comunicação
57.
Devido ao progresso admirável dos meios de comunicação, nos últimos decénios a
palavra « participação » adquiriu um significado mais amplo do que no passado;
com satisfação, todos reconhecemos que estes instrumentos oferecem novas
possibilidades inclusivamente quanto à celebração eucarística.(176) Isto requer
dos agentes pastorais do sector uma preparação específica e um vivo sentido de
responsabilidade; com efeito, a Santa Missa transmitida na televisão ganha
inevitavelmente um certo carácter de exemplaridade; daí o dever de prestar
particular atenção a que a celebração, além de se realizar em lugares dignos e
bem preparados, respeite as normas litúrgicas.
Enfim,
quanto ao valor desta participação na Santa Missa pelos meios de comunicação,
quem assiste a tais transmissões deve saber que, em condições normais, não
cumpre o preceito dominical; de facto, a linguagem da imagem representa a
realidade, mas não a reproduz em si mesma.(177) Se é muito louvável que idosos
e doentes participem na Santa Missa festiva através das transmissões
radiotelevisivas, o mesmo não se pode dizer de quem quisesse, por meio de tais
transmissões, dispensar-se de ir à igreja tomar parte na celebração eucarística
na assembleia da Igreja viva.
Participação
activa dos doentes
58.
Considerando a condição de quantos por motivos de saúde ou idade não podem ir
aos lugares de culto, quero chamar a atenção de toda a comunidade eclesial para
a necessidade pastoral de garantir a assistência espiritual aos doentes, quer
estejam nas próprias casas quer se encontrem no hospital. Diversas vezes, no
Sínodo dos Bispos, se aludiu à sua condição; é preciso providenciar para que
estes nossos irmãos e irmãs possam receber, com frequência, a comunhão
sacramental; revigorando assim a sua relação com Cristo crucificado e
ressuscitado, poderão sentir a própria existência inserida plenamente na vida e
missão da Igreja, por meio da oferta do seu sofrimento em união com o
sacrifício de Nosso Senhor. Uma particular atenção há-de ser reservada aos
deficientes: sempre que a sua condição o permita, a comunidade cristã deve
facilitar a sua participação na celebração no lugar de culto; a propósito,
procure-se remover, nos edifícios sagrados, eventuais obstáculos
arquitectónicos que impeçam o seu acesso aos deficientes. Enfim, seja garantida
também a comunhão eucarística, na medida do possível, aos deficientes mentais,
baptizados e crismados: eles recebem a Eucaristia na fé também da família ou da
comunidade que os acompanha.(178)
A
solicitude pelos presos
59.
A tradição espiritual da Igreja, na esteira duma concreta afirmação de Cristo
(Mt 25, 36), individuou na visita aos presos uma das obras de misericórdia
corporais. Aqueles que se encontram nesta situação têm particularmente
necessidade de ser visitados pelo próprio Senhor no sacramento da Eucaristia;
experimentar a solidariedade da comunidade eclesial, participar na Eucaristia e
receber a sagrada comunhão num período da vida tão especial e doloroso pode
seguramente contribuir para a qualidade do seu caminho de fé e favorecer a
plena recuperação social da pessoa. Interpretando votos formulados na
assembleia sinodal, peço às dioceses para providenciarem que haja, na medida do
possível, um conveniente investimento de forças na actividade pastoral dedicada
ao cuidado espiritual dos presos.(179)
Os
migrantes e a participação na Eucaristia
60.
Ao abordar o problema das pessoas que, por motivos vários, são obrigadas a
deixar a sua terra, o Sínodo manifestou particular gratidão a quantos vivem
empenhados no cuidado pastoral dos migrantes. Neste contexto, uma atenção
específica deve ser dada aos migrantes membros das Igrejas Católicas Orientais,
já que, à separação da própria casa, vem juntar-se a dificuldade de não poderem
participar na liturgia eucarística segundo o próprio rito a que pertencem; por
isso, onde for possível, seja-lhes concedido usufruir da assistência de
sacerdotes do seu rito. Em todo o caso, peço aos bispos que acolham estes
irmãos na caridade de Cristo. O encontro entre fiéis de rito diverso pode
tornar-se também ocasião de mútuo enriquecimento: penso de modo particular no benefício
que pode resultar, sobretudo para o clero, do conhecimento das diversas
tradições.(180)
As
grandes concelebrações
61.
A assembleia sinodal deteve-se a analisar a qualidade da participação nas
grandes celebrações que têm lugar em circunstâncias particulares e nas quais se
encontram, para além dum grande número de fiéis, também muitos sacerdotes
concelebrantes.(181) É fácil, por um lado, reconhecer o valor destes momentos,
especialmente quando preside o bispo rodeado do seu presbitério e dos diáconos;
mas, por outro, em tais ocasiões podem verificar-se problemas quanto à
expressão sensível da unidade do presbitério, especialmente na Oração
Eucarística, e quanto à distribuição da sagrada comunhão. Deve-se evitar que
estas grandes concelebrações criem dispersão; providencie-se a isto mesmo por
meio de adequados instrumentos de coordenação, e organizando o lugar de culto
de tal modo que permita aos presbíteros e aos fiéis uma plena e real
participação. Entretanto, é preciso ter presente que se trata de concelebrações
com índole excepcional e limitadas a situações extraordinárias.
A
língua latina
62.
O que acabo de afirmar não deve, porém, ofuscar o valor destas grandes
liturgias; penso neste momento, em particular, às celebrações que têm lugar
durante encontros internacionais, cada vez mais frequentes hoje, e que devem
justamente ser valorizadas. A fim de exprimir melhor a unidade e a
universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi sugerido pelo Sínodo dos
Bispos, em sintonia com as directrizes do Concílio Vaticano II: (182)
exceptuando as leituras, a homilia e a oração dos fiéis, é bom que tais
celebrações sejam em língua latina; sejam igualmente recitadas em latim as
orações mais conhecidas (183) da tradição da Igreja e, eventualmente, entoadas
algumas partes em canto gregoriano. A nível geral, peço que os futuros
sacerdotes sejam preparados, desde o tempo do seminário, para compreender e
celebrar a Santa Missa em latim, bem como para usar textos latinos e entoar o
canto gregoriano; nem se transcure a possibilidade de formar os próprios fiéis
para saberem, em latim, as orações mais comuns e cantarem, em gregoriano,
determinadas partes da liturgia.(184)
Celebrações
eucarísticas em pequenos grupos
63.
Bem distinta é a situação criada em algumas circunstâncias pastorais, onde,
precisamente para uma participação mais consciente, activa e frutuosa, se
favorecem as celebrações em pequenos grupos. Embora reconhecendo o valor
formativo subjacente a estas opções, é necessário especificar que as mesmas
devem ser harmonizadas com o conjunto da proposta pastoral da diocese; com
efeito, tais experiências perderiam o seu carácter pedagógico, se fossem vistas
em antagonismo ou paralelo com a vida da Igreja particular. A este respeito, o
Sínodo pôs em evidência alguns critérios a que se devem ater: os pequenos
grupos devem servir para unificar a comunidade, e não para a dividir; a prova
disto mesmo há-de ver-se na prática concreta; estes grupos devem favorecer a
participação frutuosa da assembleia inteira e preservar, na medida do possível,
a unidade da vida litúrgica de cada uma das famílias.(185)
Celebração
interiormente participada
Catequese
mistagógica
64.
A grande tradição litúrgica da Igreja ensina-nos que é necessário, para uma
frutuosa participação, esforçar-se por corresponder pessoalmente ao mistério
que é celebrado, através do oferecimento a Deus da própria vida em união com o
sacrifício de Cristo pela salvação do mundo inteiro. Por este motivo, o Sínodo
dos Bispos recomendou que se fomentasse, nos fiéis, profunda concordância das
disposições interiores com os gestos e palavras; se ela faltasse, as nossas
celebrações, por muito animadas que fossem, arriscar-se-iam a cair no
ritualismo. Assim, é preciso promover uma educação da fé eucarística que
predisponha os fiéis a viverem pessoalmente o que se celebra. Vista a
importância essencial desta participação pessoal e consciente, quais poderiam
ser os instrumentos de formação mais adequados? Para isso, os padres sinodais
indicaram unanimemente a estrada duma catequese de carácter mistagógico, que
leve os fiéis a penetrarem cada vez mais nos mistérios que são celebrados.(186)
Em concreto e antes de mais, há que afirmar que, devido à relação entre a arte
da celebração e a participação activa, « a melhor catequese sobre a Eucaristia
é a própria Eucaristia bem celebrada »; (187) com efeito, por sua natureza a
liturgia possui uma eficácia pedagógica própria para introduzir os fiéis no
conhecimento do mistério celebrado. Por isso mesmo, na tradição mais antiga da
Igreja, o caminho formativo do cristão — embora sem descurar a inteligência
sistemática dos conteúdos da fé — assumia sempre um carácter de experiência, em
que era determinante o encontro vivo e persuasivo com Cristo anunciado por
autênticas testemunhas. Neste sentido, quem introduz nos mistérios é
primariamente a testemunha; depois, este encontro aprofunda-se, sem dúvida, na
catequese e encontra a sua fonte e ápice na celebração da Eucaristia. Desta
estrutura fundamental da experiência cristã parte a exigência de um itinerário
mistagógico, no qual se hão-de ter sempre presente três elementos:
a)
Trata-se, primeiramente, da interpretação dos ritos à luz dos acontecimentos
salvíficos, em conformidade com a tradição viva da Igreja; de facto, a
celebração da Eucaristia, na sua riqueza infinita, possui contínuas referências
à história da salvação. Em Cristo crucificado e ressuscitado, podemos celebrar
verdadeiramente o centro recapitulador de toda a realidade (Ef 1, 10); desde o
seu início, a comunidade cristã leu os acontecimentos da vida de Jesus, e
particularmente o mistério pascal, em relação com todo o percurso do Antigo
Testamento.
b)
Além disso, a catequese mistagógica há-de preocupar-se por introduzir no
sentido dos sinais contidos nos ritos; esta tarefa é particularmente urgente
numa época acentuadamente tecnológica como a actual, que corre o risco de
perder a capacidade de perceber os sinais e os símbolos. Mais do que informar,
a catequese mistagógica deverá despertar e educar a sensibilidade dos fiéis para
a linguagem dos sinais e dos gestos que, unidos à palavra, constituem o rito.
c)
Enfim, a catequese mistagógica deve preocupar-se por mostrar o significado dos
ritos para a vida cristã em todas as suas dimensões: trabalho e compromisso,
pensamentos e afectos, actividade e repouso. Faz parte do itinerário
mistagógico pôr em evidência a ligação dos mistérios celebrados no rito com a
responsabilidade missionária dos fiéis; neste sentido, o fruto maduro da
mistagogia é a consciência de que a própria vida vai sendo progressivamente
transformada pelos sagrados mistérios celebrados. Aliás, a finalidade de toda a
educação cristã é formar o fiel enquanto « homem novo » para uma fé adulta, que
o torne capaz de testemunhar no próprio ambiente a esperança cristã que o anima.
Condição
necessária para se realizar, no âmbito das nossas comunidades eclesiais, esta
tarefa educativa é dispor de formadores adequadamente preparados; mas todo o
povo de Deus deve, sem dúvida, sentir-se comprometido nesta formação. Cada
comunidade cristã é chamada a ser lugar de introdução pedagógica aos mistérios
que se celebram na fé; a propósito, durante o Sínodo, os padres sublinharam a
conveniência de um maior envolvimento das comunidades de vida consagrada,
movimentos e agregações que, pelo próprio carisma, possam dar novo impulso à
formação cristã.(188) Temos a certeza de que, também no nosso tempo, o Espírito
Santo não poupa a efusão dos seus dons para sustentar a missão apostólica da
Igreja, a quem compete difundir a fé e educá-la até à sua maturidade.(189)
A
reverência à Eucaristia
65.
Um sinal convincente da eficácia que a catequese eucarística tem sobre os fiéis
é seguramente o crescimento neles do sentido do mistério de Deus presente entre
nós; podemos verificá-lo através de específicas manifestações de reverência à
Eucaristia, nas quais o percurso mistagógico deve introduzir os fiéis.(190)
Penso, em geral, na importância dos gestos e posições, como, por exemplo,
ajoelhar-se durante os momentos salientes da Oração Eucarística. Embora
adaptando-se à legítima variedade de sinais que tem lugar no contexto das
diferentes culturas, cada um viva e exprima a consciência de encontrar-se, em
cada celebração, diante da majestade infinita de Deus, que chega até nós
humildemente nos sinais sacramentais.
Adoração
e piedade eucarística
A
relação intrínseca entre celebração e adoração
66.
Um dos momentos mais intensos do Sínodo vivemo-lo quando fomos à Basílica de
São Pedro, juntamente com muitos fiéis, fazer adoração eucarística. Com aquele
momento de oração, quis a assembleia dos bispos não se limitar às palavras na
sua chamada de atenção para a importância da relação intrínseca entre a
celebração eucarística e a adoração. Neste significativo aspecto da fé da
Igreja, encontra-se um dos elementos decisivos do caminho eclesial que se
realizou após a renovação litúrgica querida pelo Concílio Vaticano II. Quando a
reforma dava os primeiros passos, aconteceu às vezes não se perceber com
suficiente clareza a relação intrínseca entre a Santa Missa e a adoração do
Santíssimo Sacramento; uma objecção então em voga, por exemplo, partia da ideia
que o pão eucarístico nos fora dado não para ser contemplado, mas comido. Ora,
tal contraposição, vista à luz da experiência de oração da Igreja, aparece
realmente destituída de qualquer fundamento; já Santo Agostinho dissera: « Nemo
autem illam carnem manducat, nisi prius adoraverit; (...) peccemus non adorando
– ninguém come esta carne, sem antes a adorar; (...) pecaríamos se não a
adorássemos ».(191) De facto, na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao nosso
encontro e deseja unir-Se connosco; a adoração eucarística é apenas o
prolongamento visível da celebração eucarística, a qual, em si mesma, é o maior
acto de adoração da Igreja: (192) receber a Eucaristia significa colocar-se em
atitude de adoração d'Aquele que comungamos. Precisamente assim, e apenas
assim, é que nos tornamos um só com Ele e, de algum modo, saboreamos
antecipadamente a beleza da liturgia celeste. O acto de adoração fora da Santa
Missa prolonga e intensifica aquilo que se fez na própria celebração litúrgica.
Com efeito, « somente na adoração pode maturar um acolhimento profundo e
verdadeiro. Precisamente neste acto pessoal de encontro com o Senhor amadurece
depois também a missão social, que está encerrada na Eucaristia e deseja romper
as barreiras não apenas entre o Senhor e nós mesmos, mas também, e sobretudo,
as barreiras que nos separam uns dos outros ».(193)
A
prática da adoração eucarística
67.
Juntamente com a assembleia sinodal, recomendo, pois, vivamente aos pastores da
Igreja e ao povo de Deus a prática da adoração eucarística tanto pessoal como
comunitária.(194) Para isso, será de grande proveito uma catequese específica
na qual se explique aos fiéis a importância deste acto de culto que permite
viver, mais profundamente e com maior fruto, a própria celebração litúrgica.
Depois, na medida do possível e sobretudo nos centros mais populosos, será
conveniente individuar igrejas ou capelas que se possam reservar
propositadamente para a adoração perpétua. Além disso, recomendo que na
formação catequética, particularmente nos itinerários de preparação para a
Primeira Comunhão, se iniciem as crianças no sentido e na beleza de demorar-se
na companhia de Jesus, cultivando o enlevo pela sua presença na Eucaristia.
Quero
exprimir, aqui, apreço e apoio a todos os institutos de vida consagrada, cujos
membros dedicam uma parte significativa do seu tempo à adoração eucarística;
deste modo, oferecem a todos o exemplo de pessoas que se deixam plasmar pela
presença real do Senhor. Desejo igualmente encorajar as associações de fiéis,
nomeadamente as confrarias, que assumem esta prática como seu compromisso
especial, tornando-se assim fermento de contemplação para toda a Igreja e apelo
à centralidade de Cristo na vida dos indivíduos e da comunidade.
Formas
de devoção eucarística
68.
O relacionamento pessoal que cada fiel estabelece com Jesus, presente na
Eucaristia, recondu-lo sempre ao conjunto da comunhão eclesial, alimentando
nele a consciência da sua pertença ao corpo de Cristo. Por isso, além de
convidar cada um dos fiéis a encontrar pessoalmente tempo para se demorar em
oração diante do sacramento do altar, sinto o dever de convidar as próprias
paróquias e demais grupos eclesiais a promoverem momentos de adoração
comunitária. Obviamente, conservam todo o seu valor as formas já existentes de
devoção eucarística. Penso, por exemplo, nas procissões eucarísticas, sobretudo
a tradicional procissão na solenidade do Corpo de Deus, na devoção das Quarenta
Horas, nos congressos eucarísticos locais, nacionais e internacionais, e
noutras iniciativas análogas. Devidamente actualizadas e adaptadas às diversas
circunstâncias, tais formas de devoção merecem ser cultivadas ainda hoje.(195)
O
lugar do sacrário na igreja
69.
Ainda relacionado com a importância da reserva eucarística e da adoração e
reverência diante do sacramento do sacrifício de Cristo, o Sínodo dos Bispos
interrogou-se sobre a devida colocação do sacrário dentro das nossas
igrejas.(196) Com efeito, uma correcta localização do mesmo ajuda a reconhecer
a presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento; por isso, é necessário que
o lugar onde são conservadas as espécies eucarísticas seja fácil de individuar
por qualquer pessoa que entre na igreja, graças nomeadamente à lâmpada do
Santíssimo perenemente acesa. Tendo em vista tal objectivo, é preciso
considerar a disposição arquitectónica do edifício sagrado: nas igrejas, onde
não existe a capela do Santíssimo Sacramento mas perdura o altar-mor com o
sacrário, convém continuar a valer-se de tal estrutura para a conservação e
adoração da Eucaristia, evitando porém colocar a cadeira do celebrante na sua
frente. Nas novas igrejas, bom seria predispor a capela do Santíssimo nas
proximidades do presbitério; onde isso não for possível, é preferível colocar o
sacrário no presbitério, em lugar suficientemente elevado, no centro do fecho
absidal ou então noutro ponto onde fique de igual modo bem visível. Estas
precauções concorrem para conferir dignidade ao sacrário que deve ser cuidado
sempre também sob o perfil artístico. Obviamente, é necessário ter em conta
também o que diz a propósito a Instrução Geral do Missal Romano.(197) Em todo o
caso, o juízo último sobre esta matéria compete ao bispo diocesano.
III
PARTE
EUCARISTIA,
MISTÉRIO VIVIDO
«
Assim como o Pai, que vive,
Me
enviou e Eu vivo pelo Pai,
também
aquele que Me come
viverá
por Mim » (Jo 6, 57)
Forma
eucarística da vida cristã
O
culto espiritual
70.
O Senhor Jesus, que para nós Se fez alimento de verdade e amor, falando do dom
da sua vida assegura-nos: « Quem comer deste pão viverá eternamente » (Jo 6,
51). Mas, esta « vida eterna » começa em nós, já agora, através da mudança que
o dom eucarístico gera na nossa vida: « Aquele que Me come viverá por Mim » (Jo
6, 57). Estas palavras de Jesus permitem-nos compreender que o mistério «
acreditado » e « celebrado » possui em si mesmo um tal dinamismo, que faz dele
princípio de vida nova em nós e forma da existência cristã. De facto,
comungando o corpo e o sangue de Jesus Cristo, vamo-nos tornando participantes
da vida divina de modo sempre mais adulto e consciente. Vale aqui o mesmo que
Santo Agostinho afirma a propósito do Verbo (Logos) eterno, alimento da alma,
quando, pondo em evidência o carácter paradoxal deste alimento, o santo doutor
imagina ouvi-Lo dizer: « Sou o pão dos fortes; cresce e comer-Me-ás. Não Me
transformarás em ti como ao alimento da tua carne, mas mudar-te-ás em Mim
».(198) Com efeito, não é o alimento eucarístico que se transforma em nós, mas
somos nós que acabamos misteriosamente mudados por ele. Cristo alimenta-nos,
unindo-nos a Si; « atrai-nos para dentro de Si ».(199)
A
celebração eucarística surge aqui em toda a sua força como fonte e ápice da
existência eclesial, enquanto exprime a origem e simultaneamente a realização
do culto novo e definitivo, o culto espiritual (logiké latreía).(200) As
palavras que encontramos sobre isto, na Carta de São Paulo aos Romanos, são a
formulação mais sintética do modo como a Eucaristia transforma toda a nossa
vida em culto espiritual agradável a Deus: « Peço-vos, irmãos, pela
misericórdia de Deus, que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo,
santo, agradável a Deus. Tal é o culto espiritual que Lhe deveis prestar » (12,
1). Nesta exortação, aparece a imagem do novo culto como oferta total da
própria pessoa em comunhão com toda a Igreja. A insistência do Apóstolo sobre a
oferta dos nossos corpos sublinha o concretismo humano dum culto de forma
alguma desencarnado. E, a propósito, o santo de Hipona lembra-nos que « este é
o sacrifício dos cristãos, ou seja, serem muitos e um só corpo em Cristo. A
Igreja celebra este mistério através do sacramento do altar, que os fiéis bem
conhecem e no qual se lhes mostra claramente que, naquilo que se oferece, ela
mesma é oferecida ».(201) De facto, a doutrina católica afirma que a
Eucaristia, enquanto sacrifício de Cristo, é também sacrifício da Igreja e,
consequentemente, dos fiéis.(202) Esta insistência sobre o sacrifício — sacrum
facere, « tornar sagrado » — exprime aqui toda a densidade existencial que está
implicada na transformação da nossa realidade humana alcançada por Cristo (Fil
3, 12).
Eficácia
omnicompreensiva do culto eucarístico
71.
O novo culto cristão engloba todos os aspectos da existência, transfigurando-a:
« Quando comeis ou bebeis, ou fazeis qualquer outra coisa, fazei tudo para
glória de Deus » (1 Cor 10, 31). Em cada acto da sua vida, o cristão é chamado
a manifestar o verdadeiro culto a Deus; daqui toma forma a natureza
intrinsecamente eucarística da vida cristã. Uma vez que abraça a realidade
humana do crente em seu concretismo quotidiano, a Eucaristia torna possível dia
após dia a progressiva transfiguração do homem, por graça chamado a ser
conforme à imagem do Filho de Deus (Rm 8, 29s). Nada há de autenticamente
humano — pensamentos e afectos, palavras e obras — que não encontre no
sacramento da Eucaristia a forma adequada para ser vivido em plenitude.
Sobressai aqui todo o valor antropológico da novidade radical trazida por
Cristo com a Eucaristia: o culto a Deus na existência humana não pode ser
relegado para um momento particular e privado, mas tende, por sua natureza, a
permear cada aspecto da realidade do indivíduo. Assim, o culto agradável a Deus
torna-se uma nova maneira de viver todas as circunstâncias da existência, na
qual cada particular fica exaltado porque vivido dentro do relacionamento com
Cristo e como oferta a Deus. A glória de Deus é o homem vivo (1 Cor 10, 31); e
a vida do homem é a visão de Deus.(203)
Viver
segundo o domingo
72.
Esta novidade radical, que a Eucaristia introduz na vida do homem, revelou-se à
consciência cristã desde o princípio; prontamente os fiéis compreenderam a
influência profunda que a celebração eucarística exercia sobre o estilo da sua
vida. Santo Inácio de Antioquia exprimia esta verdade designando os cristãos
como « aqueles que chegaram à nova esperança », e apresentava-os como aqueles
que vivem « segundo o domingo » (iuxta dominicam viventes).(204) Esta expressão
do grande mártir antioqueno põe claramente em evidência a ligação entre a
realidade eucarística e a vida cristã no seu dia-a-dia. O costume
característico que têm os cristãos de reunir-se no primeiro dia depois do
sábado para celebrar a ressurreição de Cristo — conforme a narração do mártir
São Justino(205) — é também o dado que define a forma da vida renovada pelo
encontro com Cristo. Mas, a expressão de Santo Inácio — « viver segundo o
domingo » — sublinha também o valor paradigmático que este dia santo tem para
os restantes dias da semana. De facto, o domingo não se distingue com base na
simples suspensão das actividades habituais, como se fosse uma espécie de
parêntesis dentro do ritmo normal dos dias; os cristãos sempre sentiram este
dia como o primeiro da semana, porque nele se faz memória da novidade radical
trazida por Cristo. Por isso, o domingo é o dia em que o cristão reencontra a
forma eucarística própria da sua existência, segundo a qual é chamado a viver
constantemente: « viver segundo o domingo » significa viver consciente da
libertação trazida por Cristo e realizar a própria existência como oferta de si
mesmo a Deus, para que a sua vitória se manifeste plenamente a todos os homens
através duma conduta intimamente renovada.
Viver
o preceito dominical
73.
Cientes deste princípio novo de vida que a Eucaristia deposita no cristão, os
padres sinodais reafirmaram a importância que tem, para todos os fiéis, o
preceito dominical como fonte de liberdade autêntica, a fim de poderem viver
cada um dos outros dias segundo o que celebraram no « dia do Senhor ». Com
efeito, a vida de fé corre perigo quando se deixa de sentir desejo de
participar na celebração eucarística em que se faz memória da vitória pascal. A
participação na assembleia litúrgica dominical, ao lado de todos os irmãos e
irmãs com os quais se forma um só corpo em Cristo Jesus, é exigida pela
consciência cristã e simultaneamente educa a consciência cristã. Perder o
sentido do domingo como dia do Senhor que deve ser santificado é sintoma duma
perda do sentido autêntico da liberdade cristã, a liberdade dos filhos de
Deus.(206) Continuam a ser preciosas as observações feitas a este respeito pelo
meu venerado predecessor João Paulo II, na Carta Apostólica Dies Domini,(207) quando
trata das diversas dimensões que o domingo tem para os cristãos: é dies Domini,
em referimento à obra da criação; dies Christi, enquanto dia da nova criação e
do dom do Espírito Santo que o Senhor Ressuscitado concede; dies Ecclesiæ, como
dia em que a comunidade cristã se reúne para a celebração; dies hominis, porque
dia de alegria, repouso e caridade fraterna.
Um
tal dia aparece, assim, como festa primordial em que todo o fiel, no próprio
ambiente onde vive, se pode fazer arauto e guardião do sentido do tempo. Deste
dia, com efeito, brota o sentido cristão da existência e uma nova maneira de
viver o tempo, as relações, o trabalho, a vida e a morte. Por isso, é bom que,
no dia do Senhor, as realidades eclesiais organizem, a partir da celebração
eucarística dominical, manifestações próprias da comunidade cristã: encontros
de amizade, iniciativas para a formação de crianças, jovens e adultos na fé,
peregrinações, obras de caridade e momentos variados de oração. Por causa
destes valores tão importantes — embora justamente a tarde de sábado a partir
das primeiras Vésperas já pertença ao domingo, sendo permitido cumprir nela o
preceito dominical — é necessário recordar que é o domingo em si mesmo que
merece ser santificado, para que não acabe por ficar um dia « vazio de Deus
».(208)
O
sentido do repouso e do trabalho
74.
É particularmente urgente no nosso tempo lembrar que o dia do Senhor é também o
dia de repouso do trabalho. Desejamos vivamente que isto mesmo seja reconhecido
também pela sociedade civil, de modo que se possa ficar livre das obrigações
laborais sem ser penalizado por isso. De facto, os cristãos — não sem relação
com o significado do sábado na tradição hebraica — viram no dia do Senhor
também o dia de repouso da fadiga quotidiana. Isto possui um significado bem
preciso, ou seja, constitui uma relativização do trabalho, que tem por
finalidade o homem: o trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho. É
fácil intuir a tutela que isto oferece ao próprio homem, ficando assim
emancipado duma possível forma de escravidão. Como já tive ocasião de afirmar,
« o trabalho reveste uma importância primária para a realização do homem e o
progresso da sociedade; por isso torna-se necessário que aquele seja sempre
organizado e realizado no pleno respeito da dignidade humana e ao serviço do
bem comum. Ao mesmo tempo, é indispensável que o homem não se deixe escravizar
pelo trabalho, que não o idolatre pretendendo achar nele o sentido último e
definitivo da vida ».(209) É no dia consagrado a Deus que o homem compreende o
sentido da sua existência e também do trabalho.(210)
Assembleias
dominicais na ausência de sacerdote
75.
Uma vez descoberto o significado da celebração dominical para a vida do
cristão, coloca-se espontaneamente o problema das comunidades cristãs onde
falta o sacerdote e, consequentemente, não é possível celebrar a Santa Missa no
dia do Senhor. A tal respeito, convém reconhecer que nos encontramos perante
situações muito diversificadas entre si. Antes de mais, o Sínodo recomendou aos
fiéis que fossem a uma das igrejas da diocese onde está garantida a presença do
sacerdote, mesmo que isso lhes exija um pouco de sacrifício.(211) Entretanto,
nos casos em que se torne praticamente impossível, devido à grande distância, a
participação na Eucaristia dominical, é importante que as comunidades cristãs
se reúnam igualmente para louvar o Senhor e fazer memória do dia a Ele
dedicado. Mas, isso deverá verificar-se a partir duma conveniente instrução
sobre a diferença entre a Santa Missa e as assembleias dominicais à espera de
sacerdote. A solicitude pastoral da Igreja há-de exprimir-se, neste caso,
vigiando que a liturgia da palavra — organizada sob a guia dum diácono ou dum
responsável da comunidade a quem foi regularmente confiado este ministério pela
autoridade competente — se realize segundo um ritual específico elaborado pelas
Conferências Episcopais e para tal fim aprovado por elas.(212) Lembro que
compete aos Ordinários conceder a faculdade de distribuir a comunhão nessas
liturgias, ponderando atentamente a conveniência da escolha a fazer. Além
disso, tudo deve ser feito de forma que tais assembleias não criem confusão
quanto ao papel central do sacerdote e à dimensão sacramental na vida da
Igreja. A importância da função dos leigos, a quem justamente há que agradecer
a generosidade ao serviço das comunidades cristãs, jamais deve ofuscar o
ministério insubstituível dos sacerdotes na vida da Igreja.(213) Por isso,
vigie-se atentamente sobre as assembleias à espera de sacerdote para que não
dêem lugar a visões eclesiológicas incompatíveis com a verdade do Evangelho e a
tradição da Igreja; devem antes tornar-se ocasiões privilegiadas de oração a
Deus para que mande sacerdotes santos segundo o seu Coração. A propósito, vale
a pena recordar aquilo que escreveu o Papa João Paulo II na Carta aos
Sacerdotes por ocasião da Quinta-feira Santa de 1979, recordando o caso comovente
que se verificava em certos lugares onde as pessoas, privadas de sacerdote pelo
regime ditatorial, se reuniam numa igreja ou num santuário, colocavam sobre o
altar a estola que ainda conservavam e recitavam as orações da liturgia
eucarística até ao « momento que corresponderia à transubstanciação » e aí se
detinham em silêncio, dando testemunho de quão « ardentemente desejavam ouvir
aquelas palavras que só os lábios dum sacerdote podiam eficazmente pronunciar
».(214) Precisamente nesta perspectiva, considerando o bem incomparável que
deriva da celebração do sacrifício eucarístico, peço a todos os sacerdotes uma
efectiva e concreta disponibilidade para visitarem, com a maior assiduidade
possível, as comunidades que estão confiadas ao seu cuidado pastoral, a fim de
não ficarem demasiado tempo sem o sacramento da caridade.
Uma
forma eucarística da existência cristã,
a
pertença eclesial
76.
A importância do domingo como dia da Igreja (dies Ecclesiæ) traz-nos à mente a
relação intrínseca entre a vitória de Jesus sobre o mal e a morte e a nossa
pertença ao seu corpo eclesial; no dia do Senhor, com efeito, todo o cristão
reencontra também a dimensão comunitária da sua existência redimida. Participar
na acção litúrgica, comungar o corpo e o sangue de Cristo significa, ao mesmo
tempo, tornar cada vez mais íntima e profunda a própria pertença Àquele que
morreu por nós (1 Cor 6, 19s; 7, 23). Verdadeiramente quem se nutre de Cristo,
vive por Ele. Compreende-se o sentido profundo da comunhão dos santos (communio
sanctorum), relacionando-a com o mistério eucarístico. A comunhão tem sempre e
inseparavelmente uma conotação vertical e uma horizontal: comunhão com Deus e
comunhão com os irmãos e irmãs. Estas duas dimensões encontram-se
misteriosamente no dom eucarístico. « Onde se destrói a comunhão com Deus, que
é comunhão com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo, destrói-se também a
raiz e a fonte da comunhão entre nós. E onde a comunhão entre nós não for
vivida, também a comunhão com o Deus-Trindade não é viva nem verdadeira ».(215)
Chamados, pois, a ser membros de Cristo e consequentemente membros uns dos
outros (1 Cor 12, 27), constituímos uma realidade ontologicamente fundada no
Baptismo e alimentada pela Eucaristia, realidade essa que exige ter expressão
sensível na vida das nossas comunidades.
A
forma eucarística da vida cristã é, sem dúvida, eclesial e comunitária. Através
da diocese e das paróquias, enquanto estruturas basilares da Igreja num
território particular, cada fiel pode fazer experiência concreta da sua
pertença ao corpo de Cristo. As associações, os movimentos eclesiais e novas
comunidades — com a vivacidade dos carismas que lhes foram concedidos pelo
Espírito Santo para o nosso tempo — bem como os institutos de vida consagrada
têm a missão de oferecer a sua contribuição específica para favorecer nos fiéis
a percepção desta sua pertença ao Senhor (Rm 14, 8). O fenómeno da
secularização, que apresenta — não por acaso — traços fortemente
individualistas, logra seus efeitos deletérios sobretudo nas pessoas que se
isolam por escasso sentido de pertença. Desde os seus inícios, sempre o
cristianismo implica uma companhia, uma trama de relações continuamente
vivificadas pela escuta da palavra e pela celebração eucarística e animadas
pelo Espírito Santo.
Espiritualidade
e cultura eucarística
77.
Os padres sinodais afirmaram, significativamente, que « os fiéis cristãos
precisam duma compreensão mais profunda das relações entre a Eucaristia e a
vida quotidiana. A espiritualidade eucarística não é apenas participação na
Missa e devoção ao Santíssimo Sacramento; mas abraça a vida inteira ».(216) Um
tal realce assume actualmente particular significado para todos nós; é preciso
reconhecer que um dos efeitos mais graves da secularização, há pouco
mencionada, é ter relegado a fé cristã para a margem da existência, como se
fosse inútil para a realização concreta da vida dos homens; a falência desta
maneira de viver « como se Deus não existisse » está agora patente a todos.
Hoje torna-se necessário redescobrir que Jesus Cristo não é uma simples
convicção privada ou uma doutrina abstracta, mas uma pessoa real cuja inserção
na história é capaz de renovar a vida de todos. Por isso, a Eucaristia,
enquanto fonte e ápice da vida e missão da Igreja, deve traduzir-se em
espiritualidade, em vida « segundo o Espírito » (Rm 8, 4s; cf. Gal 5, 16.25). É
significativo que São Paulo, na passagem da Carta aos Romanos onde convida a
viver o novo culto espiritual, apele ao mesmo tempo para a necessidade de mudar
a própria forma de viver e pensar: « Não vos conformeis com este mundo, mas
transformai-vos pela renovação da vossa mente, para saberdes discernir, segundo
a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito » (12,
2). Deste modo, o Apóstolo das Gentes põe em evidência a ligação entre o
verdadeiro culto espiritual e a necessidade duma nova maneira de compreender a
existência e orientar a vida. Constitui parte integrante da forma eucarística
da vida cristã a renovação da mentalidade, pois « assim já não seremos crianças
inconstantes, levadas ao sabor de todo o vento de doutrina » (Ef 4, 14).
Eucaristia
e evangelização das culturas
78.
Daquilo que ficou dito, segue-se que o mistério eucarístico nos põe em diálogo
com as várias culturas, mas de certa forma também as desafia.(217) É preciso
reconhecer o carácter intercultural deste novo culto, desta logiké latreía: a
presença de Jesus Cristo e a efusão do Espírito Santo são acontecimentos que
podem encontrar-se de forma duradoura com qualquer realidade cultural a fim de
a fermentar evangelicamente. Em consequência disto mesmo, temos a obrigação de
promover convictamente a evangelização das culturas, na certeza de que o
próprio Cristo é a verdade de todo o homem e da história humana inteira. A
Eucaristia torna-se critério de valorização de tudo o que o cristão encontra
nas diversas expressões culturais; num processo importante como este, podem
revelar-se de grande significado as palavras de São Paulo quando, na sua I
Carta aos Tessalonicenses, convida a « avaliar tudo e conservar o que for bom »
(5, 21).
Eucaristia
e fiéis leigos
79.
Em Cristo, cabeça da Igreja seu corpo, todos os cristãos formam uma « raça
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus para anunciar os
louvores d'Aquele que os chamou das trevas à sua luz admirável » (1 Pd 2, 9). A
Eucaristia, enquanto mistério a ser vivido, oferece-se a cada um de nós na
condição concreta em que nos encontramos, fazendo com que esta mesma situação
vital se torne um lugar onde viver diariamente a novidade cristã. Se o
sacrifício eucarístico alimenta e faz crescer em nós tudo o que já nos foi dado
no Baptismo, pelo qual todos somos chamados à santidade,(218) então isso deve
transparecer e manifestar-se precisamente nas situações ou estados de vida em
que cada cristão se encontra; tornamo-nos dia após dia culto agradável a Deus,
vivendo a própria vida como vocação. O próprio sacramento da Eucaristia, a
partir da convocação litúrgica, compromete-nos na realidade quotidiana a fim de
que tudo seja feito para glória de Deus.
E,
dado que o mundo é « o campo » (Mt 13, 38) onde Deus coloca os seus filhos como
boa semente, os cristãos leigos, em virtude do Baptismo e da Confirmação e
corroborados pela Eucaristia, são chamados a viver a novidade radical trazida
por Cristo precisamente no meio das condições normais da vida; (219) devem
cultivar o desejo de ver a Eucaristia influir cada vez mais profundamente na
sua existência quotidiana, levando-os a serem testemunhas reconhecidas como
tais no próprio ambiente de trabalho e na sociedade inteira.(220) Dirijo um
particular encorajamento às famílias a haurirem inspiração e força deste
sacramento: o amor entre o homem e a mulher, o acolhimento da vida, a missão
educadora aparecem como âmbitos privilegiados onde a Eucaristia pode mostrar a
sua capacidade de transformar e encher de significado a existência.(221) Os
pastores nunca deixem de apoiar, educar e encorajar os fiéis leigos a viverem
plenamente a própria vocação à santidade no meio deste mundo que Deus amou até
ao ponto de dar o Filho para sua salvação (Jo 3, 16).
Eucaristia
e espiritualidade sacerdotal
80.
A forma eucarística da existência cristã manifesta-se, sem dúvida, de modo
particular no estado de vida sacerdotal. A espiritualidade sacerdotal é
intrinsecamente eucarística; a semente desta espiritualidade encontra-se já nas
palavras que o bispo pronuncia na liturgia da ordenação: « Recebe a oferenda do
povo santo para a apresentares a Deus. Toma consciência do que virás a fazer;
imita o que virás a realizar, e conforma a tua vida com o mistério da cruz do
Senhor ».(222) Para conferir à sua existência uma forma eucarística cada vez
mais perfeita, o sacerdote deve reservar, já no período de formação e depois
nos anos sucessivos, amplo espaço para a vida espiritual.(223) É chamado a ser
continuamente um autêntico perscrutador de Deus, embora ao mesmo tempo
permaneça solidário com as preocupações dos homens. Uma vida espiritual intensa
permitir-lhe-á entrar mais profundamente em comunhão com o Senhor e ajudá-lo-á
a deixar-se possuir pelo amor de Deus, tornando-se sua testemunha em todas as
circunstâncias mesmo difíceis e obscuras. Para isso, juntamente com os padres
do Sínodo, recomendo aos sacerdotes « a celebração diária da Santa Missa, mesmo
quando não houver participação de fiéis ».(224) Tal recomendação é ditada, ante
de mais, pelo valor objectivamente infinito de cada celebração eucarística; e é
motivada ainda pela sua singular eficácia espiritual, porque, se vivida com
atenção e fé, a Santa Missa é formadora no sentido mais profundo do termo,
enquanto promove a configuração a Cristo e reforça o sacerdote na sua vocação.
Eucaristia
e vida consagrada
81.
No contexto da relação entre a Eucaristia e as diversas vocações eclesiais,
refulge de modo particular « o testemunho profético de mulheres e homens
consagrados que encontram, na celebração eucarística e na adoração, a força
para o seguimento radical de Cristo obediente, pobre e casto ».(225) Embora
realizem muitos serviços no campo da formação humana e do cuidado pelos pobres,
no ensino ou na assistência aos doentes, os consagrados e consagradas sabem que
a finalidade principal da sua vida é « a contemplação das coisas divinas e a
união assídua com Deus »;( 226 a contribuição essencial que a Igreja espera da
vida consagrada destina-se muito mais ao ser do que ao fazer. Neste contexto,
queria evocar a importância do testemunho virginal precisamente em relação ao
mistério da Eucaristia; com efeito, além da ligação com o celibato sacerdotal,
o mistério eucarístico apresenta uma relação intrínseca com a virgindade
consagrada, enquanto esta é expressão da dedicação exclusiva da Igreja a
Cristo, que ela acolhe como seu Esposo com radical e fecunda fidelidade.227) Na
Eucaristia, a virgindade consagrada encontra inspiração e nutrimento para a sua
dedicação total a Cristo; além disso, aufere da Eucaristia conforto e impulso
para ser, no nosso tempo também, sinal do amor gratuito e fecundo que Deus tem
pela humanidade. Enfim, é através do seu testemunho específico que a vida
consagrada se torna objectivamente apelo e antecipação daquelas « núpcias do
Cordeiro » (Ap 19, 7-9) que constituem a meta de toda a história da salvação;
neste sentido, aquela constitui uma evocação eficaz do horizonte escatológico
de que o homem necessita para poder orientar as suas opções e resoluções de
vida.
Eucaristia
e transformação moral
82.
Descoberta a beleza da forma eucarística da existência cristã, somos levados a
reflectir também sobre as energias morais que, por tal forma, se desencadeiam
em apoio da liberdade autêntica e própria dos filhos de Deus. Desejo, assim,
retomar um assunto que surgiu no Sínodo: a ligação entre forma eucarística da
vida e transformação moral. O Papa João Paulo II afirmara que a vida moral «
possui o valor de um ‘‘culto espiritual'' (Rm 12, 1; cf. Fil 3, 3), que brota e
se alimenta daquela fonte inesgotável de santidade e glorificação de Deus que
são os sacramentos, especialmente a Eucaristia: com efeito, ao participar no
sacrifício da cruz, o cristão comunga do amor de doação de Cristo, ficando
habilitado e comprometido a viver esta mesma caridade em todas as suas atitudes
e comportamentos de vida ».(228) Em suma, « no próprio ‘‘culto'', na comunhão
eucarística, está contido o ser amado e o amar por sua vez os outros. Uma
Eucaristia que não se traduza em amor concretamente vivido é em si mesma
fragmentária ».(229)
Este
apelo ao valor moral do culto espiritual não deve ser interpretado em chave
moralista; é, antes de mais, a descoberta feliz do dinamismo do amor no coração
de quem acolhe o dom do Senhor, abandona-se a Ele e encontra a verdadeira
liberdade. A transformação moral, que o novo culto instituído por Cristo
implica, é uma tensão e um anseio profundo de querer corresponder ao amor do
Senhor com todo o próprio ser, embora conscientes da própria fragilidade.
Aquilo de que estamos a falar aparece claramente no relato evangélico de Zaqueu
(Lc 19, 1-10): depois de ter hospedado Jesus na sua casa, o publicano sente-se
completamente transformado; decide dar metade dos seus haveres aos pobres e
restituir quatro vezes mais a quem roubou. A tensão moral, que nasce do acto de
hospedar Jesus na nossa vida, brota da gratidão por se ter experimentado a
imerecida proximidade do Senhor.
Coerência
eucarística
83.
É importante salientar aquilo que os padres sinodais designaram por coerência
eucarística, à qual está objectivamente chamada a nossa existência. Com efeito,
o culto agradável a Deus nunca é um acto meramente privado, sem consequências
nas nossas relações sociais: requer o testemunho público da própria fé.
Evidentemente isto vale para todos os baptizados, mas impõe-se com particular
premência a quantos, pela posição social ou política que ocupam, devem tomar
decisões sobre valores fundamentais como o respeito e defesa da vida humana
desde a concepção até à morte natural, a família fundada sobre o matrimónio
entre um homem e uma mulher, a liberdade de educação dos filhos e a promoção do
bem comum em todas as suas formas.(230) Estes são valores não negociáveis. Por
isso, cientes da sua grave responsabilidade social, os políticos e os
legisladores católicos devem sentir-se particularmente interpelados pela sua consciência
rectamente formada a apresentar e apoiar leis inspiradas nos valores impressos
na natureza humana.(231) Tudo isto tem, aliás, uma ligação objectiva com a
Eucaristia (1 Cor 11, 27-29). Os bispos são obrigados a recordar sem cessar
tais valores; faz parte da sua responsabilidade pelo rebanho que lhes foi
confiado.(232)
Eucaristia,
mistério anunciado
Eucaristia
e missão
84.
Na homilia durante a celebração eucarística com que solenemente dei início ao
meu ministério na Cátedra de Pedro, disse: « Não há nada de mais belo do que
ser alcançado, surpreendido pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais
belo do que conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade com Ele ».(233) Esta
afirmação cresce de intensidade, quando pensamos no mistério eucarístico; com
efeito, não podemos reservar para nós o amor que celebramos neste sacramento:
por sua natureza, pede para ser comunicado a todos. Aquilo de que o mundo tem
necessidade é do amor de Deus, é de encontrar Cristo e acreditar n'Ele. Por
isso, a Eucaristia é fonte e ápice não só da vida da Igreja, mas também da sua
missão: « Uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária
».(234) Havemos, também nós, de poder dizer com convicção aos nossos irmãos: «
Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos, para que estejais também em comunhão
connosco » (1 Jo 1, 2-3). Verdadeiramente não há nada de mais belo do que
encontrar e comunicar Cristo a todos! Aliás, a própria instituição da
Eucaristia antecipa aquilo que constitui o cerne da missão de Jesus: Ele é o enviado
do Pai para a redenção do mundo (Jo 3, 16-17; Rm 8, 32). Na Última Ceia, Jesus
entrega aos seus discípulos o sacramento que actualiza o sacrifício que Ele, em
obediência ao Pai, fez de Si mesmo pela salvação de todos nós. Não podemos
abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da
missão que, partindo do próprio Coração de Deus, visa atingir todos os homens;
assim, a tensão missionária é parte constitutiva da forma eucarística da
existência cristã.
Eucaristia
e testemunho
85.
A missão primeira e fundamental, que deriva dos santos mistérios celebrados, é
dar testemunho com a nossa vida. O enlevo pelo dom que Deus nos concedeu em
Cristo, imprime à nossa existência um dinamismo novo que nos compromete a ser
testemunhas do seu amor. Tornamonos testemunhas quando, através das nossas
acções, palavras e modo de ser, é Outro que aparece e Se comunica. Pode-se
afirmar que o testemunho é o meio pelo qual a verdade do amor de Deus alcança o
homem na história, convidando-o a acolher livremente esta novidade radical. No
testemunho, Deus expõe-Se por assim dizer ao risco da liberdade do homem. O
próprio Jesus é a testemunha fiel e verdadeira (Ap 1, 5; 3, 14); veio para dar
testemunho da verdade (Jo 18, 37). Nesta ordem de ideias, apraz-me retomar um
conceito caro aos primeiros cristãos mas que nos interpela também a nós,
cristãos de hoje: o testemunho até ao dom de si mesmo, até ao martírio, sempre
foi considerado, na história da Igreja, o apogeu do novo culto espiritual: «
Oferecei os vossos corpos » (Rm 12, 1). Pense-se, por exemplo, na narração do
martírio de São Policarpo de Esmirna, discípulo de São João: o seu caso,
dramático, é todo ele descrito como uma liturgia; mais ainda, como se o próprio
mártir se tornasse Eucaristia.(235) Pensemos também na consciência eucarística
que Inácio de Antioquia exprime tendo em mente o seu martírio: considera-se «
trigo de Deus » e, pelo martírio, deseja transformar-se em « pão puro de Cristo
».(236) O cristão, quando oferece a sua vida no martírio, entra em plena
comunhão com a páscoa de Jesus Cristo e, assim, ele mesmo se torna Eucaristia
com Cristo. Não faltam, ainda hoje, à Igreja os mártires, nos quais se
manifesta de modo supremo o amor de Deus. E, mesmo que não nos seja pedida a
prova do martírio, sabemos, porém, que o culto agradável a Deus postula
intimamente esta disponibilidade (237) e encontra a sua realização no feliz e
convicto testemunho perante o mundo duma vida cristã coerente nos diversos
sectores onde o Senhor nos chama a anunciá-Lo.
Jesus
Cristo, único Salvador
86.
Sublinhar a ligação intrínseca entre Eucaristia e missão faz-nos descobrir
também o conteúdo supremo do nosso anúncio. Quanto mais vivo for o amor pela
Eucaristia no coração do povo cristão, tanto mais clara lhe será a incumbência
da missão: levar Cristo; não meramente uma ideia ou uma ética n'Ele inspirada,
mas o dom da sua própria Pessoa. Quem não comunica a verdade do Amor ao irmão,
ainda não deu bastante. A Eucaristia enquanto sacramento da nossa salvação
chama-nos assim, inevitavelmente, à unicidade de Cristo e da salvação por Ele
realizada a preço do seu sangue. Por isso, do mistério eucarístico acreditado e
celebrado nasce a exigência de educar constantemente a todos para o trabalho
missionário, cujo centro é o anúncio de Jesus, único Salvador.(238) Isto
impedirá de confinar, em chave meramente sociológica, a obra decisiva de
promoção humana que todo o processo de evangelização autêntico sempre implica.
Liberdade
de culto
87.
Neste contexto, desejo dar voz àquilo que os padres referiram, durante a
assembleia sinodal, a propósito das graves dificuldades criadas à missão das
comunidades cristãs que vivem em condições de minoria ou mesmo de privação da
liberdade religiosa.(239) Devemos verdadeiramente dar graças ao Senhor por
todos os bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e leigos que se prodigalizam a
anunciar o Evangelho e vivem a sua fé sob risco da própria vida. Não são poucas
as regiões do mundo onde o simples ir à igreja constitui um testemunho heróico
que expõe a vida da pessoa à marginalização e à violência. Nesta ocasião, quero
também reiterar a solidariedade da Igreja inteira a quantos sofrem por falta de
liberdade de culto. Nos lugares onde não há a liberdade religiosa, sabemos que
falta, no fim de contas, a liberdade mais significativa, pois é na fé que o
homem exprime a decisão íntima relativa ao sentido último da própria
existência; por isso, rezemos para que se alargue o espaço da liberdade
religiosa em todos os Estados, a fim de os cristãos e os membros das outras
religiões poderem livremente viver as suas convicções, pessoalmente e em
comunidade.
Eucaristia,
mistério
oferecido ao mundo
Eucaristia,
pão repartido para a vida do mundo
88.
« O pão que Eu hei-de dar é a minha carne que Eu darei pela vida do mundo » (Jo
6, 51). Com estas palavras, o Senhor revela o verdadeiro significado do dom da
sua vida por todos os homens; as mesmas mostram-nos também a compaixão íntima
que Ele sente por cada pessoa. Na realidade, os Evangelhos transmitem-nos
muitas vezes os sentimentos de Jesus para com as pessoas, especialmente doentes
e pecadores (Mt 20, 34; Mc 6, 34; Lc 19, 41). Ele exprime, através dum
sentimento profundamente humano, a intenção salvífica de Deus que deseja que
todo o homem alcance a verdadeira vida. Cada celebração eucarística actualiza
sacramentalmente a doação que Jesus fez da sua própria vida na cruz por nós e
pelo mundo inteiro. Ao mesmo tempo, na Eucaristia, Jesus faz de nós testemunhas
da compaixão de Deus por cada irmão e irmã; nasce assim, à volta do mistério
eucarístico, o serviço da caridade para com o próximo, que « consiste
precisamente no facto de eu amar, em Deus e com Deus, a pessoa que não me
agrada ou que nem conheço sequer. Isto só é possível realizar-se a partir do
encontro íntimo com Deus, um encontro que se tornou comunhão de vontade,
chegando mesmo a tocar o sentimento. Então aprendo a ver aquela pessoa já não
somente com os meus olhos e sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo
».(240) Desta forma, nas pessoas que contacto, reconheço irmãs e irmãos, pelos
quais o Senhor deu a sua vida amando-os « até ao fim » (Jo 13, 1). Por
conseguinte, as nossas comunidades, quando celebram a Eucaristia, devem
consciencializar-se cada vez mais de que o sacrifício de Jesus é por todos; e,
assim, a Eucaristia impele todo o que acredita n'Ele a fazer-se « pão repartido
» para os outros e, consequentemente, a empenhar-se por um mundo mais justo e
fraterno. Como sucedeu na multiplicação dos pães e dos peixes, temos de
reconhecer que Cristo continua, ainda hoje, exortando os seus discípulos a
empenharem-se pessoalmente: « Dai-lhes vós de comer » (Mt 14, 16). Na verdade,
a vocação de cada um de nós consiste em ser, unido a Jesus, pão repartido para a
vida do mundo.
As
implicações sociais do mistério eucarístico
89.
A união com Cristo, que se realiza no sacramento, habilita-nos também a uma
novidade de relações sociais: « a ‘‘mística'' do sacramento tem um carácter
social, porque (...) a união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com todos os
outros aos quais Ele Se entrega. Eu não posso ter Cristo só para mim; posso
pertencer-Lhe somente unido a todos aqueles que se tornaram ou hão-de tornar
Seus ».(241) A propósito, é necessário explicitar a relação entre mistério
eucarístico e compromisso social. A Eucaristia é sacramento de comunhão entre
irmãos e irmãs que aceitam reconciliar-se em Cristo, o Qual fez de judeus e
gentios um só povo, destruindo o muro de inimizade que os separava (Ef 2, 14).
Somente esta tensão constante à reconciliação permite comungar dignamente o
corpo e o sangue de Cristo (Mt 5, 23-24).(242) Através do memorial do seu
sacrifício, Ele reforça a comunhão entre os irmãos e, de modo particular,
estimula os que estão em conflito a apressar a sua reconciliação, abrindo-se ao
diálogo e ao compromisso em prol da justiça. A restauração da justiça, a
reconciliação e o perdão são, sem dúvida alguma, condições para construir uma
verdadeira paz; (243) desta consciência nasce a vontade de transformar também
as estruturas injustas, a fim de se restabelecer o respeito da dignidade do
homem, criado à imagem e semelhança de Deus; é através da realização concreta
desta responsabilidade que a Eucaristia se torna na vida o que significa na
celebração. Como já tive ocasião de afirmar, não é missão própria da Igreja
tomar nas suas mãos a batalha política para se realizar a sociedade mais justa
possível; todavia, ela não pode nem deve ficar à margem da luta pela justiça. A
Igreja « deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve
despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre requer
renúncias também, não poderá afirmar-se nem prosperar ».(244)
Na
perspectiva da responsabilidade social de todos os cristãos, os padres sinodais
lembraram que o sacrifício de Cristo é mistério de libertação que nos interpela
e provoca continuamente; dirijo, pois, um apelo a todos os fiéis para que se
tornem realmente obreiros de paz e justiça: « Com efeito, quem participa na
Eucaristia deve empenhar-se na edificação da paz neste nosso mundo marcado por
muitas violências e guerras, e, hoje de modo particular, pelo terrorismo, a
corrupção económica e a exploração sexual »;( 245) problemas, estes, que geram
por sua vez outros fenómenos degradantes que causam viva preocupação. Sabemos
que estas situações não podem ser encaradas de modo superficial. Precisamente
em virtude do mistério que celebramos, é preciso denunciar as circunstâncias
que estão em contraste com a dignidade do homem, pelo qual Cristo derramou o
seu sangue, afirmando assim o alto valor de cada pessoa.
O
alimento da verdade e a indigência do homem
90.
Não podemos ficar inactivos perante certos processos de globalização, que não
raro fazem crescer desmesuradamente a distância entre ricos e pobres a nível
mundial. Devemos denunciar quem delapida as riquezas da terra, provocando
desigualdades que bradam ao céu (Tg 5, 4). Por exemplo, é impossível calar
diante das « imagens impressionantes dos grandes campos de deslocados ou
refugiados — em várias partes do mundo — amontoados em condições precárias para
escapar a sorte pior, mas carecidos de tudo. Porventura estes seres humanos não
são nossos irmãos e irmãs? Os seus filhos não vieram ao mundo com os mesmos
legítimos anseios de felicidade que os outros? ».(246) O Senhor Jesus, pão de
vida eterna, incita a tornarmo-nos atentos às situações de indigência em que
ainda vive grande parte da humanidade: são situações cuja causa se fica a
dever, frequentemente, a uma clara e preocupante responsabilidade dos homens.
De facto, « com base em dados estatísticos disponíveis, pode-se afirmar que
bastaria menos de metade das somas imensas globalmente destinadas a armamentos
para tirar, de forma estável, da indigência o exército ilimitado dos pobres.
Isto interpela a consciência humana. Às populações que vivem sob o limiar da
pobreza, mais por causa de situações que dependem das relações internacionais
políticas, comerciais e culturais do que por circunstâncias incontroláveis, o
nosso esforço comum verdadeiramente pode e deve oferecer-lhes nova esperança
».(247)
O
alimento da verdade leva-nos a denunciar as situações indignas do homem, nas
quais se morre à míngua de alimento por causa da injustiça e da exploração, e
dá-nos nova força e coragem para trabalhar sem descanso na edificação da
civilização do amor. Desde o princípio, os cristãos tiveram a preocupação de
partilhar os seus bens (Act 4, 32) e de ajudar os pobres (Rm 15, 26). O
peditório que se realiza nas assembleias litúrgicas constitui viva reminiscência
disso mesmo, mas é também uma necessidade muito actual. As instituições
eclesiais de beneficência, de modo particular a Caritas nos seus vários níveis,
realizam o valioso serviço de auxiliar as pessoas em necessidade, sobretudo os
mais pobres. Tirando inspiração da Eucaristia, que é o sacramento da caridade,
aquelas tornam-se a sua expressão concreta; por isso, merecem todo o aplauso e
estímulo pelo seu empenho solidário no mundo.
A
doutrina social da Igreja
91.
O mistério da Eucaristia habilita-nos e impele-nos a um compromisso corajoso
nas estruturas deste mundo para lhes conferir aquela novidade de relações que
tem a sua fonte inexaurível no dom de Deus. O pedido que repetimos em cada
Missa: « O pão nosso de cada dia nos dai hoje », obriga-nos a fazer tudo o que
for possível, em colaboração com as instituições internacionais, estatais,
privadas, para que cesse ou pelo menos diminua, no mundo, o escândalo da fome e
da subnutrição que padecem muitos milhões de pessoas, sobretudo nos países em
vias de desenvolvimento. Particularmente o leigo cristão, formado na escola da
Eucaristia, é chamado a assumir directamente a sua responsabilidade
político-social; a fim de poder desempenhar adequadamente as suas funções, é
preciso prepará-lo através duma educação concreta para a caridade e a justiça.
Para isso, como foi pedido pelo Sínodo, é necessário que, nas dioceses e
comunidades cristãs, se dê a conhecer e incremente a doutrina social da
Igreja.(248) Neste precioso património, nascido da mais antiga tradição eclesial,
encontramos os elementos que orientam, com profunda sabedoria, o comportamento
dos cristãos nas questões sociais em ebulição. Amadurecida durante toda a
história da Igreja, esta doutrina caracteriza-se pelo seu realismo e
equilíbrio, ajudando assim a evitar promessas enganadoras ou vãs utopias.
Santificação
do mundo e defesa da criação
92.
Enfim, para desenvolver uma espiritualidade eucarística profunda, capaz de
incidir significativamente também no tecido social, é necessário que o povo
cristão, ao dar graças por meio da Eucaristia, tenha consciência de o fazer em
nome da criação inteira, aspirando assim à santificação do mundo e trabalhando
intensamente para tal fim.(249) A própria Eucaristia projecta uma luz intensa
sobre a história humana e todo o universo. Nesta perspectiva sacramental,
aprendemos dia após dia que cada acontecimento eclesial possui o carácter de
sinal, pelo qual Deus Se comunica a Si mesmo e nos interpela. Desta maneira, a
forma eucarística da existência pode verdadeiramente favorecer uma autêntica
mudança de mentalidade no modo como lemos a história e o mundo. Para tudo isto
nos educa a própria liturgia quando o sacerdote, durante a apresentação dos
dons, dirige a Deus uma oração de bênção e súplica a respeito do pão e do
vinho, « fruto da terra », « da videira » e do « trabalho do homem ». Com estas
palavras, o rito, além de envolver na oferta a Deus toda a actividade e
canseira humana, impele-nos a considerar a terra como criação de Deus, que
produz quanto precisamos para o nosso sustento. Não se trata duma realidade
neutral, nem de mera matéria a ser utilizada indiferentemente segundo o
instinto humano; mas coloca-se dentro do desígnio amoroso de Deus, segundo o
qual todos nós somos chamados a ser filhos e filhas de Deus no seu único Filho,
Jesus Cristo (Ef 1, 4-12). As condições ecológicas em que a criação subjaz em
muitas partes do mundo suscitam justas preocupações, que encontram motivo de
conforto na perspectiva da esperança cristã, pois esta compromete-nos a
trabalhar responsavelmente na defesa da criação; (250) de facto, na relação
entre a Eucaristia e o universo, descobrimos a unidade do desígnio de Deus e
somos levados a individuar a relação profunda da criação com a « nova criação »
que foi inaugurada na ressurreição de Cristo, novo Adão. Dela participamos já
agora em virtude do Baptismo (Col 2, 12s), abrindo-se assim à nossa vida
cristã, alimentada pela Eucaristia, a perspectiva do mundo novo, do novo céu e
da nova terra, onde a nova Jerusalém desce do céu, de junto de Deus, « bela
como noiva adornada para o seu esposo » (Ap 21, 2).
Utilidade
dum Compêndio Eucarístico
93.
No termo destas reflexões em que de boa vontade me detive sobre as indicações
surgidas no Sínodo, desejo acolher também o pedido que os padres apresentaram
para ajudar o povo cristão a crer, celebrar e viver cada vez melhor o mistério
eucarístico. Cuidado pelos Dicastérios competentes, há-de ser publicado um
Compêndio, que recolha textos do Catecismo da Igreja Católica, orações,
explicações das Orações Eucarísticas do Missal e tudo o mais que possa
demonstrar-se útil para a correcta compreensão, celebração e adoração do
sacramento do altar.(251) Espero que este instrumento possa contribuir para que
o memorial da páscoa do Senhor se torne cada dia sempre mais fonte e ápice da
vida e da missão da Igreja; isto animará cada fiel a fazer da sua própria vida
um verdadeiro culto espiritual.
CONCLUSÃO
94.
Amados irmãos e irmãs, a Eucaristia está na origem de toda a forma de
santidade, sendo cada um de nós chamado à plenitude de vida no Espírito Santo.
Quantos santos tornaram autêntica a própria vida, graças à sua piedade
eucarística! De Santo Inácio de Antioquia a Santo Agostinho, de Santo Antão
Abade a São Bento, de São Francisco de Assis a São Tomás de Aquino, de Santa
Clara de Assis a Santa Catarina de Sena, de São Pascoal Bailão a São Pedro Julião
Eymard, de Santo Afonso Maria de Ligório ao Beato Carlos de Foucauld, de São
João Maria Vianey a Santa Teresa de Lisieux, de São Pio de Pietrelcina à Beata
Teresa de Calcutá, do Beato Pedro Jorge Frassati ao Beato Ivan Merz, para
mencionar apenas alguns de tantos nomes, a santidade sempre encontrou o seu
centro no sacramento da Eucaristia.
Por
isso, é necessário que, na Igreja, este mistério santíssimo seja
verdadeiramente acreditado, devotamente celebrado e intensamente vivido. A
doação que Jesus faz de Si mesmo no sacramento memorial da sua paixão, atesta
que o êxito da nossa vida está na participação da vida trinitária, que nos é
oferecida n'Ele de forma definitiva e eficaz. A celebração e a adoração da
Eucaristia permitem abeirar-nos do amor de Deus e a ele aderir pessoalmente até
à união com o bem-amado Senhor. A oferta da nossa vida, a comunhão com a
comunidade inteira dos crentes e a solidariedade com todo o homem são aspectos
imprescindíveis da logiké latreía, ou seja, do culto espiritual, santo e agradável
a Deus (Rm 12, 1), no qual toda a nossa realidade humana concreta é
transformada para glória de Deus. Convido, pois, todos os pastores a prestarem
a máxima atenção à promoção duma espiritualidade cristã autenticamente
eucarística. Os presbíteros, os diáconos e todos aqueles que exercem um
ministério eucarístico possam sempre tirar destes mesmos serviços, realizados
com solicitude e constante preparação, força e estímulo para o seu caminho
pessoal e comunitário de santificação. Exorto todos os leigos, e as famílias em
particular, a encontrarem continuamente no sacramento do amor de Cristo a
energia de que precisam para transformar a própria vida num sinal autêntico da
presença do Senhor ressuscitado. Peço a todos os consagrados e consagradas para
manifestarem, com a própria existência eucarística, o esplendor e a beleza de
pertencer totalmente ao Senhor.
95.
No início do século IV, quando o culto cristão era ainda proibido pelas
autoridades imperiais, alguns cristãos do norte de África, que se sentiam
obrigados a celebrar o dia do Senhor, desafiaram tal proibição. Foram
martirizados enquanto declaravam que não lhes era possível viver sem a
Eucaristia, alimento do Senhor: « Sine dominico non possumus – sem o domingo,
não podemos viver ».(252) Estes mártires de Abitinas, juntamente com muitos
outros santos e beatos que fizeram da Eucaristia o centro da sua vida,
intercedam por nós e nos ensinem a fidelidade ao encontro com Cristo
ressuscitado! Também nós não podemos viver sem participar no sacramento da nossa
salvação e desejamos ser iuxta dominicam viventes, isto é, traduzir na vida o
que celebramos no dia do Senhor. Com efeito, este é o dia da nossa libertação
definitiva. Então porquê maravilhar-se quando desejamos que cada dia seja
vivido segundo a novidade introduzida por Cristo com o mistério da Eucaristia?
96.
Que Maria Santíssima, Virgem Imaculada, arca da nova e eterna aliança, nos
acompanhe neste caminho ao encontro do Senhor que vem! N'Ela encontramos
realizada, na forma mais perfeita, a essência da Igreja. Esta vê em Maria, «
Mulher eucarística » — como A designou o servo de Deus João Paulo II (253) —, o
seu ícone melhor conseguido e contempla-A como modelo insubstituível de vida
eucarística. Por isso, preparando-se para acolher sobre o altar «verum corpus
natum de Maria Virgine – o verdadeiro corpo nascido da Virgem Maria», o
sacerdote, em nome da assembleia litúrgica, proclama com as palavras do cânone:
« Veneramos a memória da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe do nosso Deus e
Senhor, Jesus Cristo ».(254) O seu nome santo é invocado e venerado também nos
cânones das tradições orientais cristãs. Por sua vez, os fiéis « recomendam a
Maria, Mãe da Igreja, a sua existência e trabalho. Esforçando-se por ter os
mesmos sentimentos que Maria, ajudam toda a comunidade a viver em oferta viva,
agradável ao Pai ».(255) Ela é a Tota Pulchra, a Toda Formosa, porque n'Ela
resplandece o fulgor da glória de Deus. A beleza da liturgia celeste, que deve
reflectir-se também nas nossas assembleias, encontra n'Ela um espelho fiel.
D'Ela devemos aprender a tornar-nos pessoas eucarísticas e eclesiais para
podermos também nós apresentar-nos, segundo a palavra de São Paulo, «
imaculados » perante o Senhor, tal como Ele nos quis desde o princípio (Col 1,
22; Ef 1, 4).(256)
97.
Por intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, o Espírito Santo acenda em nós
o mesmo ardor que experimentaram os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35) e renove
na nossa vida o enlevo eucarístico pelo esplendor e a beleza que refulgem no
rito litúrgico, sinal eficaz da própria beleza infinita do mistério santo de
Deus. Os referidos discípulos levantaram-se e voltaram a toda a pressa para
Jerusalém a fim de partilhar a alegria com os irmãos e irmãs na fé. Com efeito,
a verdadeira alegria é reconhecer que o Senhor permanece no nosso meio,
companheiro fiel do nosso caminho; a Eucaristia faz-nos descobrir que Cristo,
morto e ressuscitado, Se manifesta como nosso contemporâneo no mistério da
Igreja, seu corpo. Deste mistério de amor fomos feitos testemunhas. Os votos
que reciprocamente formulamos sejam os de irmos cheios de alegria e maravilha
ao encontro da santíssima Eucaristia, para experimentar e anunciar aos outros a
verdade das palavras com que Jesus Se despediu dos seus discípulos: « Eu estou
sempre convosco, até ao fim dos tempos » (Mt 28, 20).
Dado
em Roma, junto de São Pedro, no dia 22 de Fevereiro — festa da Cátedra de São
Pedro — de 2007, segundo ano de Pontificado.
BENEDICTUS
PP. XVI
Notas
1.
Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiæ, III, q. 73, a. 3.
2.
Santo Agostinho, In Iohannis Evangelium Tractatus, 26, 5: PL 35, 1609.
3.
Bento XVI, Discurso aos participantes na Assembleia Plenária da Congregação
para a Doutrina da Fé (10 de Fevereiro de 2006): AAS 98 (2006), 255.
4.
Cf. Bento XVI, Discurso aos membros do Conselho Ordinário da Secretaria Geral
do Sínodo dos Bispos (1 de Junho de 2006): L'Osservatore Romano (ed. port. de
8/VI/2006), 237.
5.
Cf. Propositio 2.
6.
Aludo aqui à necessidade duma hermenêutica da continuidade mesmo no que diz
respeito a uma correcta leitura do desenvolvimento litúrgico depois do Concílio
Vaticano II: cf. Bento XVI, Discurso à Cúria Romana (22 de Dezembro de 2005):
AAS 98 (2006), 44-45.
7.
Tem a data de 7 de Outubro de 2004; veja-se o texto em AAS 97 (2005), 337-352.
8.
Cf. Ano da Eucaristia: sugestões e propostas (15 de Outubro de 2004):
L'Osservatore Romano (15 de Outubro de 2004), Suplemento.
9.
Tem a data de 17 de Abril de 2003; veja-se o texto em AAS 95 (2003), 433-475.
Há que recordar também a Instrução da Congr. para o Culto Divino e a Disciplina
dos Sacramentos, Redemptionis sacramentum (25 de Março de 2004): AAS 96 (2004),
549-601, expressamente desejada por João Paulo II.
10.
Recordo apenas os principais: Conc. Ecum. de Trento, Doctrina et canones de ss.
Missæ sacrificio: DS 1738-1759; Leão XIII, Carta enc. Miræ caritatis (28 de
Maio de 1902): ASS (1903), 115-136; Pio XII, Carta enc. Mediator Dei (20 de
Novembro de 1947): AAS 39 (1947), 521-595; Paulo VI, Carta enc. Mysterium fidei
(3 de Setembro de 1965): AAS 57 (1965), 753-774; João Paulo II, Carta enc.
Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril de 2003): AAS 95 (2003), 433-475; Congr.
para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instr. Eucharisticum
mysterium (25 de Maio de 1967): AAS 59 (1967), 539-573; Instr. Liturgiam
authenticam (28 de Março de 2001): AAS 93 (2001), 685-726.
11.
Cf. Propositio 1.
12.
N. 14: AAS 98 (2006), 229.
13.
Catecismo da Igreja Católica, 1327.
14.
Propositio 16.
15.
Bento XVI, Homilia na tomada de posse da Cátedra de Roma (7 de Maio de 2005):
AAS 97 (2005), 752.
16.
Cf. Propositio 4.
17.
De Trinitate, VIII, 8, 12: CCL 50, 287.
18.
Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 12: AAS 98 (2006), 228.
19.
Cf. Propositio 3.
20.
Cf. Breviário Romano: Hino do Ofício de Leituras, na solenidade do Corpo de
Deus.
21.
Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 13: AAS 98
(2006), 228.
22.
Cf. Bento XVI, Homilia na Esplanada de Marienfeld (21 de Agosto de 2005): AAS
97 (2005), 891-892.
23.
Cf. Propositio 3.
24.
Cf. Missal Romano: Oração Eucarística IV.
25.
Catequese 23, 7: PG 33, 1114s.
26.
Cf. Sobre o sacerdócio, 6, 4: PG 48, 681.
27.
Ibid., 3, 4: o.c., 48, 642.
28.
Propositio 22.
29.
Cf. Propositio 42: « Este encontro eucarístico realiza-se no Espírito Santo,
que nos transforma e santifica. Ele desperta no discípulo a vontade decidida de
anunciar aos outros, com desassombro, tudo o que ouviu e viveu, para
conduzi-los, também a eles, ao mesmo encontro com Cristo. Deste modo o
discípulo, enviado pela Igreja, abre-se a uma missão sem fronteiras ».
30.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 3. Veja-se,
por exemplo, São João Crisóstomo, Catequeses 3, 13-19: SC 50, 174-177.
31.
João Paulo II, Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril de 2003), 1: AAS
95 (2003), 433.
32.
Ibid., 21: o.c., 447.
33.
Cf. João Paulo II, Carta enc. Redemptor hominis (4 de Março de 1979), 20: AAS
71 (1979), 309-316; Carta enc. Dominicæ Cenæ (24 de Fevereiro de 1980), 4: AAS
72 (1980), 119-121.
34.
Cf. Propositio 5.
35.
Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiæ, III, q. 80, a. 4.
36.
N. 38: AAS 95 (2003), 458.
37.
Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 23.
38.
Congr. para a Doutrina da Fé, Carta sobre alguns aspectos da Igreja entendida
como comunhão Communionis notio (28 de Maio de 1992), 11: AAS 85 (1993),
844-845.
39.
Propositio 5: « O termo ‘‘católico'' exprime a universalidade resultante da
unidade que a Eucaristia, celebrada em cada Igreja, fomenta e constrói. Assim,
as Igrejas particulares na Igreja universal têm, na Eucaristia, a missão de
tornar visível a sua própria unidade e a sua diversidade. Este laço de amor
fraterno deixa transparecer a comunhão trinitária. Os concílios e os sínodos
exprimem na história este aspecto fraterno da Igreja ».
40.
Cf. Ibid., 5.
41.
Decr. sobre o ministério e a vida dos presbíteros Presbyterorum ordinis, 5.
42.
Cf. Propositio 14.
43.
Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1.
44.
De oratione dominica, 23: PL 4, 553.
45.
Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 48; veja-se
também o n. 9.
46.
Cf. Propositio 13.
47.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 7.
48.
Cf. Ibid., 11; Decr. sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 9.13.
49.
Cf. João Paulo II, Carta ap. Dominicæ Cenæ (24 de Fevereiro de 1980), 7: AAS 72
(1980), 124-127; Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o ministério e a vida dos
presbíteros Presbyterorum ordinis, 5.
50.
Cf. Código dos Cânones das Igrejas Orientais, cân. 710.
51.
Cf. Rito da Iniciação Cristã dos Adultos, Introd. ger., nn. 34-36.
52.
Cf. Rito do Baptismo das Crianças, Introd., nn. 18-19.
53.
Cf. Propositio 15.
54.
Cf. Propositio 7; João Paulo II, Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de
Abril de 2003), 36: AAS 95 (2003), 457-458.
55.
Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Reconciliatio et pænitentia (2 de
Dezembro de 1984), 18: AAS 77 (1985), 224-228.
56.
Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1385.
57.
Pense-se na « Confissão » (Confiteor) ou nas palavras proferidas pelo sacerdote
e a assembleia pouco antes de comungarem: « Senhor, eu não sou digno de que
entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo ».
Significativamente a liturgia prevê, para o sacerdote, algumas orações muito
belas, recebidas da tradição, que lhe recordam a necessidade de ser perdoado,
como, por exemplo, a oração feita em silêncio antes de convidar os fiéis para a
comunhão sacramental: « ...livrai-me de todos os meus pecados e de todo o mal,
por este vosso santíssimo corpo e sangue; conservai-me sempre fiel aos vossos
mandamentos e não permitais que eu me separe de Vós ».
58.
Cf. São João Damasceno, Sobre a recta fé, 4, 9: PG 94, 1124C; São Gregório de
Nazianzo, Discurso 39, 17: PG 36, 356A; Conc. Ecum. de Trento, Doctrina de
sacramento pænitentiæ, cap. 2: DS 1672.
59.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 11; João
Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Reconciliatio et pænitentia (2 de Dezembro de
1984), 30: AAS 77 (1985), 256-257.
60.
Cf. Propositio 7.
61.
Cf. João Paulo II, Motu proprio Misericordia Dei (7 de Abril de 2002): AAS 94
(2002), 452-459.
62.
Lembro, juntamente com os padres sinodais, que as celebrações penitenciais não
sacramentais, mencionadas no ritual do sacramento da Reconciliação, podem ser
úteis para fomentar o espírito de conversão e de comunhão nas comunidades
cristãs, preparando assim os corações para a celebração do sacramento: cf.
Propositio 7.
63.
Cf. Código de Direito Canónico, cân. 508.
64.
Paulo VI, Const. ap. Indulgentiarum doctrina (1 de Janeiro de 1967), Normæ, 1:
AAS 59 (1967), 21.
65.
Ibid., 9: o.c., 18-19.
66.
Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1499-1531.
67.
Ibid., 1524.
68.
Cf. Propositio 44.
69.
Cf. II Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Doc. sobre o sacerdócio
ministerial Ultimis temporibus (30 de Novembro de 1971): AAS 63 (1971),
898-942.
70.
Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis (25 de Março de
1992), 42-69: AAS 84 (1992), 729-778.
71.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 10; Congr.
para a Doutrina da Fé, Carta acerca de algumas questões relativas ao ministro
da Eucaristia Sacerdotium ministeriale (6 de Agosto de 1983): AAS 75 (1983),
1001-1009.
72.
Catecismo da Igreja Católica, 1548.
73.
Ibid., 1552.
74. Cf. In
Iohannis Evangelium Tractatus 123, 5: PL 35, 1967.
75.
Cf. Propositio 11.
76.
Cf. Decr. sobre o ministério e a vida dos presbíteros Presbyterorum ordinis,
16.
77.
Cf. João XXIII, Carta enc. Sacerdotii nostri primordia (1 de Agosto de 1959):
AAS 51 (1959), 545-579; Paulo VI, Carta enc. Sacerdotalis cœlibatus (24 de
Junho de 1967): AAS 59 (1967), 657-697; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal
Pastores dabo vobis (25 de Março de 1992), 29: AAS 84 (1992), 703-705; Bento
XVI, Discurso à Cúria Romana durante a apresentação dos votos natalícios (22 de
Dezembro de 2006): L'Osservatore Romano (ed. port. de 30/XII/2006), 658.
78.
Cf. Propositio 11.
79.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre a formação sacerdotal Optatam totius, 6;
Código de Direito Canónico, cân. 241-§ 1 e cân. 1029; Código dos Cânones das
Igrejas Orientais, cân. 342-§ 1 e cân. 758; João Paulo II, Exort. ap.
pós-sinodal Pastores dabo vobis (25 de Março de 1992), 11.34.50: AAS 84 (1992),
673-675.712714.746-748; Congr. para o Clero, Directório para o ministério e a
vida dos presbíteros (31 de Março de 1994), n. 58; Congr. para a Educação
Católica, Instr. sobre os critérios de discernimento vocacional acerca das
pessoas com tendências homossexuais e da sua admissão ao Seminário e às Ordens
Sacras (4 de Novembro de 2005): AAS 97 (2005), 1007-1013.
80.
Cf. Propositio 12; João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis
(25 de Março de 1992), 41: AAS 84 (1992), 726-729.
81.
Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 29.
82.
Cf. Propositio 38.
83.
Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Familiaris consortio (22 de Novembro
de 1981), 57: AAS 74 (1982), 149-150.
84.
Carta ap. Mulieris dignitatem (15 de Agosto de 1988), 26: AAS 80 (1988),
1715-1716.
85.
Catecismo da Igreja Católica, 1617.
86.
Cf. Propositio 8.
87.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 11.
88.
Cf. Propositio 8.
89.
Cf. João Paulo II, Carta ap. Mulieris dignitatem (15 de Agosto de 1988): AAS 80
(1988), 1653-1729; Congr. para a Doutrina da Fé, Carta aos bispos da Igreja
Católica sobre a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo (31 de
Maio de 2004): AAS 96 (2004), 671-687.
90.
Cf. Propositio 9.
91.
Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1640.
92.
Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Familiaris consortio (22 de Novembro
de 1981), 84: AAS 74 (1982), 184-186; Congr. para a Doutrina da Fé, Carta aos
bispos da Igreja Católica acerca da recepção da comunhão eucarística pelos
fiéis divorciados re-casados Annus internationalis familiæ (14 de Setembro de
1994): AAS 86 (1994), 974-979.
93.
Cf. Pont. Cons. para os Textos Legislativos, Instr. sobre as normas a observar
pelos tribunais eclesiásticos nas causas matrimoniais Dignitatis connubii (25
de Janeiro de 2005), Cidade do Vaticano, 2005.
94.
Cf. Propositio 40.
95.
Bento XVI, Discurso ao Tribunal da Rota Romana por ocasião da inauguração do
ano judicial (28 de Janeiro de 2006): AAS 98 (2006), 138.
96. Propositio
40.
97. Cf. Ibid.,
40.
98. Cf. Ibid.,
40.
99. Cf. Conc. Ecum. Vat. II,
Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 48.
100.
Cf. Propositio 3.
101.
Apraz-me recordar aqui as palavras cheias de esperança e conforto que
encontramos na Oração Eucarística II: « Lembrai-Vos dos nossos irmãos que
adormeceram na esperança da ressurreição e de todos aqueles que, na vossa
misericórdia, partiram deste mundo. Acolhei-os na luz da vossa presença ».
102.
Cf. Bento XVI, Homilia no 40º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano
II e solenidade da Imaculada Conceição (8 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006),
15-16.
103.
Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 58.
104.
Propositio 4.
105.
Relatio post disceptationem, 4: L'Osservatore Romano (ed. port. de 19/XI/2005),
660.
106.
Cf. Sermones 1, 7; 11, 10; 22, 7; 29, 76: Sermones dominicales ad fidem codicum
nunc denuo editi (Grottaferrata 1977), pp. 135.209s.292s.337; Bento XVI,
Mensagem aos Movimentos Eclesiais e às Novas Comunidades (22 de Maio de 2006):
AAS 98 (2006), 463.
107.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo
Gaudium et spes, 22.
108.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a divina revelação Dei Verbum, 2.4.
109.
Propositio 33.
110.
Sermo 227, 1: PL 38, 1099.
111.
Santo Agostinho, In Iohannis Evangelium Tractatus, 21, 8: PL 35, 1568.
112. Ibid., 28,
1: o.c., 35, 1622.
113. Cf.
Propositio 30. Mesmo
a Santa Missa que a Igreja celebra durante a semana, na qual os fiéis são
convidados a participar, encontra a sua forma própria no dia do Senhor, o dia
da ressurreição de Cristo: cf. Propositio 43.
114.
Cf. Propositio 2.
115.
Cf. Propositio 25.
116.
Cf. Propositio 19. E a Propositio 25 especifica: « Uma autêntica acção
litúrgica exprime a sacralidade do mistério eucarístico. Esta deveria
transparecer nas palavras e acções do sacerdote celebrante, quando intercede
junto de Deus Pai quer com os fiéis quer pelos fiéis ».
117.
Instrução Geral do Missal Romano, 22; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a
sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium, 41; Congr. para o Culto Divino e a
Disciplina dos Sacramentos, Instr. Redemptionis sacramentum (25 de Março de
2004), 19-25: AAS 96 (2004), 555-557.
118.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o múnus pastoral dos bispos na Igreja
Christus Dominus, 14; Const. sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium,
41.
119.
Instrução Geral do Missal Romano, 22.
120. Cf. Ibid.,
22.
121. Cf.
Propositio 25.
122. Cf. Conc. Ecum. Vat. II,
Const. sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium, 112-130.
123.
Cf. Propositio 27.
124.
Cf. Ibid., 27.
125.
Em tudo o que diz respeito a estes aspectos, é preciso ater-se fielmente a
quanto está indicado na Instrução Geral do Missal Romano, 319-351.
126.
Cf. Instrução Geral do Missal Romano, 39-41; Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre
a sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium, 112-118.
127.
Sermo 34, 1: PL 38, 210.
128.
Cf. Propositio 25: « Como todas as expressões artísticas, também o canto deve
estar intimamente harmonizado com a liturgia, colaborar eficazmente para o seu
fim, ou seja, deve exprimir a fé, a oração, o enlevo, o amor por Jesus presente
na Eucaristia ».
129.
Cf. Propositio 29.
130.
Cf. Propositio 36.
131.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum
Concilium, 116; Instrução Geral do Missal Romano, 41.
132.
Instrução Geral do Missal Romano, 28; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a
sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium, 56; Sagr. Congr. dos Ritos, Instr.
Eucharisticum mysterium (25 de Maio de 1967), 3: AAS (1967), 540-543.
133.
Cf. Propositio 18.
134.
Ibid., 18.
135.
Instrução Geral do Missal Romano, 29.
136.
Cf. João Paulo II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 13: AAS
91 (1999), 15-16.
137.
São Jerónimo, Commentariorum in Isaiam, Prol.: PL 24, 17; cf. Conc. Ecum. Vat.
II, Const. dogm. sobre a divina revelação Dei Verbum, 25.
138.
Cf. Propositio 31.
139.
Instrução Geral do Missal Romano, 29; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a
sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium, 7.33.52.
140.
Propositio 19.
141.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum
Concilium, 52.
142.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a divina revelação Dei Verbum, 21.
143.
Com esta finalidade, o Sínodo exortou a elaborar subsídios pastorais, baseados
no Leccionário trienal, que ajudem a ligar de maneira intrínseca a proclamação
das leituras previstas com a doutrina da fé: cf. Propositio 19.
144.
Cf. Propositio 20.
145.
Instrução Geral do Missal Romano, 78.
146.
Cf. Ibid., 78-79.
147.
Cf. Propositio 22.
148.
Instrução Geral do Missal Romano, 79d.
149.
Ibid., 79c.
150.
Tendo em consideração antigos e veneráveis costumes e votos expressos pelos
padres sinodais, pedi aos Dicastérios competentes que estudassem a
possibilidade de se colocar a saudação da paz noutro momento, por exemplo antes
da apresentação das oferendas ao altar. Aliás, tal escolha não deixaria de
suscitar uma significativa evocação da advertência feita pelo Senhor a
propósito da necessidade de reconciliação antes de qualquer oferta a Deus (Mt
5, 23s): cf. Propositio 23.
151.
Cf. Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instr.
Redemptionis sacramentum (25 de Março de 2004), 80-96: AAS 96 (2004), 574-577.
152.
Cf. Propositio 34.
153.
Cf. Propositio 35.
154.
Cf. Propositio 24.
155.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum
Concilium, 14-20.30s.48s; Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos, Instr. Redemptionis sacramentum (25 de Março de 2004), 36-42: AAS
96 (2004), 561-564.
156.
N. 48.
157.
Ibid., 48.
158.
Cf. Congr. para o Clero e outros Dicastérios da Cúria Romana, Instr. acerca de
algumas questões sobre a colaboração dos fiéis leigos no sagrado ministério dos
sacerdotes Ecclesiæ de mysterio (15 de Agosto de 1997): AAS 89 (1997), 852-877.
159.
Cf. Propositio 33.
160.
Instrução Geral do Missal Romano, 92.
161.
Cf. Ibid., 94.
162.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o apostolado dos leigos Apostolicam
actuositatem, 24; Instrução Geral do Missal Romano, nn. 95-111; Congr. para o
Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instr. Redemptionis sacramentum
(25 de Março 2004), 43-47: AAS 96 (2004), 564-566; Propositio 33: « Estes
ministérios devem ser introduzidos segundo um mandato específico e segundo as
reais exigências da comunidade que celebra. As pessoas encarregadas destes
serviços litúrgicos laicais devem ser escolhidas cuidadosamente, bem preparadas
e acompanhadas por uma formação permanente. A sua nomeação deve ser temporária.
Tais pessoas devem ser conhecidas pela comunidade e desta receberem também um
grato reconhecimento ».
163.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum
Concilium, 37-42.
164.
Cf. nn. 386-399.
165.
Veja-se o texto em AAS 87 (1995), 288-314.
166.
Cf. Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 55-71:
AAS 88 (1996), 34-47; Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in America (22 de Janeiro
de 1999), 16.40.64.70-72: AAS 91 (1999), 752-753.775-776.799.805-809; Exort.
ap. pós-sinodal Ecclesia in Asia (6 de Novembro de 1999), 21s: AAS 92 (2000),
482-487; Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Oceania (22 de Novembro de 2001),
16: AAS 94 (2002), 382-384; Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Europa (28 de
Junho de 2003), 58-60: AAS 95 (2003), 685-686.
167.
Cf. Propositio 26.
168.
Cf. Propositio 35; Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a sagrada liturgia
Sacrosanctum Concilium, 11.
169.
Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1388; Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a
sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium, 55.
170.
Cf. Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril de 2003), 34: AAS 95 (2003),
456.
171.
Assim, por exemplo, São Tomás de Aquino, Summa Theologiæ, III, q. 80, a. 1,2;
Santa Teresa de Jesus, Caminho de perfeição, cap. 35. A doutrina foi confirmada
autorizadamente pelo Concílio de Trento, Sessão XIII, cân. 8.
172.
Cf. João Paulo II, Carta enc. Ut unum sint (25 de Maio de 1995), 8: AAS 87
(1995), 925-926.
173.
Cf. Propositio 41; Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o ecumenismo Unitatis
redintegratio, 8.15; João Paulo II, Carta enc. Ut unum sint (25 de Maio de
1995), 46: AAS 87 (1995), 948; Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril
de 2003), 45-46: AAS 95 (2003), 463-464; Código de Direito Canónico, cân.
844-§§ 3 e 4; Código dos Cânones das Igrejas Orientais, cân. 671-§§ 3 e 4;
Pont. Cons. para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Directório para a
aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo (25 de Março de 1993),
125.129-131: AAS 85 (1993), 1087.1088-1089.
174. Cf. nn.
1398-1401.
175. Cf. n. 293.
176. Cf. Pont. Cons. das
Comunicações Sociais, Instr. past. sobre as comunicações sociais no XX
aniversário da ‘‘Communio et progressio'' Ætatis novæ (22 de Fevereiro de
1992): AAS 84 (1992), 447-468.
177.
Cf. Propositio 29.
178.
Cf. Propositio 44.
179.
Cf. Propositio 48.
180.
Tal conhecimento pode ser adquirido também no Seminário, durante os anos de
formação dos candidatos ao sacerdócio, através de oportunas iniciativas: cf.
Propositio 45.
181.
Cf. Propositio 37.
182.
Cf. Const. sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium36.54.
183.
Cf. Propositio 36.
184.
Cf. Ibid., 36.
185.
Cf. Propositio 32.
186.
Cf. Propositio 14.
187.
Propositio 19.
188.
Cf. Propositio 14.
189.
Cf. Bento XVI, Homilia nas primeiras Vésperas de Pentecostes (3 de Junho de
2006): AAS 98 (2006), 509.
190.
Propositio 34.
191.
Enarrationes in Psalmos 98, 9: CCL 39, 1835; cf. Bento XVI, Discurso à Cúria
Romana (22 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006), 44-45.
192.
Cf. Propositio 6.
193.
Bento XVI, Discurso à Cúria Romana (22 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006), 45.
194.
Cf. Propositio 6; Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos,
Directório sobre piedade popular e liturgia (17 de Dezembro de 2001), nn.
164-165; Sagr. Congr. dos Ritos, Instr. Eucharisticum mysterium (25 de Maio de
1967): AAS 57 (1067), 539-573.
195. Cf. Relatio
post disceptationem, 11: L'Osservatore Romano (ed. port. de 19/XI/2005), 661.
196.
Cf. Propositio 28.
197.
Cf. n. 314.
198.
Confissões 7, 10, 16: PL 32, 742.
199.
Bento XVI, Homilia na Esplanada de Marienfeld (21 de Agosto de 2005): AAS 97
(2005), 892; cf. Homilia nas primeiras Vésperas de Pentecostes (3 de Junho de
2006): AAS 98 (2006), 505.
200.
Cf. Relatio post disceptationem, 6.47: L'Osservatore Romano (ed. port. de
19/XI/2005), 660.663; Propositio 43.
201.
De civitate Dei 10, 6: PL 41, 284.
202.
Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1368.
203.
Cf. Santo Ireneu, Contra as heresias 4, 20, 7: PG 7, 1037.
204.
Epístola aos Magnésios 9, 1: PG 5, 670.
205.
Cf. I Apologia 67, 1-6; 66: PG 6, 430s; 427.
206.
Cf. Propositio 30.
207.
Cf. AAS 90 (1998), 713-766.
208.
Propositio 30.
209.
Homilia na solenidade de São José (19 de Março de 2006): AAS 98 (2006), 324.
210.
A este respeito observa, oportunamente, o Compêndio da Doutrina Social da
Igreja, 258: « Para o homem, ligado à necessidade do trabalho, o repouso abre a
perspectiva de uma liberdade mais plena, a do Sábado eterno (Heb 4, 9-10). O
repouso consente aos homens recordar e reviver as obras de Deus, da criação à
redenção, e reconhecerem-se a si próprios como obra do mesmo Deus (Ef 2, 10),
dar-Lhe graças pela própria vida e subsistência, a Ele, que é seu autor ».
211.
Cf. Propositio 10.
212.
Cf. Ibid., 10.
213.
Cf. Bento XVI, Discurso aos bispos da Conferência Episcopal do Canadá-Quebec em
Visita ad limina Apostolorum (11 de Maio de 2006): L'Osservatore Romano (ed.
port. de 20/V/2006), 227.
214.
N. 10: AAS 71 (1979), 414-415.
215.
Bento XVI, Audiência Geral de 29 de Março de 2006: L'Osservatore Romano (ed.
port. de 01/IV/2006), 152.
216.
Propositio 39.
217.
Cf. Relatio post disceptationem, 30: L'Osservatore Romano (ed. port. de
19/XI/2005), 662.
218.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 39-42.
219.
Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de Dezembro
de 1988), 14.16: AAS 81 (1989), 409-413.416-418.
220.
Cf. Propositio 39.
221.
Cf. Ibid., 39.
222.
Pontifical Romano – Ordenação do Bispo, dos Presbíteros e Diáconos: Rito da
Ordenação do Presbítero, n. 150.
223.
Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis (25 de Março de
1992), 19-33.70-81: AAS 84 (1992), 686-712. 778-800.
224.
Propositio 38.
225.
Propositio 39; cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Vita consecrata (25 de
Março de 1996), 95: AAS 88 (1996), 470-471.
226.
Código de Direito Canónico, cân. 663-§ 1.
227.
Cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Vita consecrata (25 de Março de
1996), 34: AAS 88 (1996), 407-408.
228.
Carta enc. Veritatis splendor (6 de Agosto de 1993), 107: AAS 85 (1993),
1216-1217.
229.
Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 14: AAS 98
(2006), 229.
230.
Cf. João Paulo II, Carta enc. Evangelium vitæ (25 de Março de 1995): AAS 87
(1995), 401-522; Bento XVI, Discurso à Pontifícia Academia para a Vida (27 de
Fevereiro de 2006): AAS 98 (2006), 264-265.
231.
Cf. Congr. para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre algumas questões
relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política (24 de
Novembro de 2002): AAS 95 (2004), 359-370.
232.
Cf. Propositio 46.
233.
Homilia (24 de Abril de 2005): AAS 97 (2005), 711.
234.
Propositio 42.
235.
Cf. O martírio de Policarpo 15, 1: PG 5, 1039.1042.
236.
Santo Inácio de Antioquia, Epístola aos Romanos 4, 1: PG 5, 690.
237.
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 42.
238.
Cf. Propositio 42; Congr. para a Doutrina da Fé, Decl. sobre a unicidade e
universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja Dominus Iesus (6 de Agosto
de 2000), 13-15: AAS 92 (2000), 754-755.
239.
Cf. Propositio 42.
240.
Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 18: AAS 98
(2006), 232.
241.
Ibid., 14: o.c., 228-229.
242.
Durante a assembleia sinodal ouvimos, comovidos, testemunhos muito
significativos sobre a eficácia deste sacramento na obra de pacificação. A tal
respeito, afirma-se na Propositio 49: « Graças às celebrações eucarísticas,
povos em conflito puderam reunir-se ao redor da palavra de Deus, ouvir o seu
anúncio profético da reconciliação através do perdão gratuito, receber a graça
da conversão que permite a comunhão no mesmo pão e no mesmo cálice ».
243.
Cf. Propositio 48.
244.
Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 28: AAS 98
(2006), 239.
245.
Propositio 48.
246.
Bento XVI, Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé (9 de
Janeiro de 2006): AAS 98 (2006), 127.
247. Ibid.:
o.c., 127.
248. Cf.
Propositio 48. A
este respeito, revela-se muito útil o Compêndio da Doutrina Social da Igreja.
249.
Cf. Propositio 43.
250.
Cf. Propositio 47.
251.
Cf. Propositio 17.
252.
Acta ss. Saturnini, Dativi et aliorum plurimorum martyrum in Africa 7, 9, 10:
PL 8, 707.709-710.
253.
Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril de 2003), 53: AAS 95 (2003),
469.
254.
Oração Eucarística I (Cânone Romano).
255.
Propositio 50.
256.
Cf. Bento XVI, Homilia no 40º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano
II e solenidade da Imaculada Conceição (8 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006),
15.
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