Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora e Liturgia

CNBB - Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora e Liturgia

14. A Igreja, “Mãe de coração aberto”, “casa aberta do Pai” , conclama a todos para reunir-se na fraternidade, acolher a Palavra, celebrar os sacramentos e sair em missão, no testemunho, na solidariedade e no claro anúncio da pessoa e da mensagem de Jesus Cristo.

26. Considerável número de pessoas se afasta. Constata-se situações que interpelam a ação evangelizadora (em relação à liturgia): celebrações litúrgicas que tendem mais à exaltação da subjetividade do que a comunhão com o Mistério. Sente-se a necessidade de encontrar uma nova figura de comunidade eclesial, acolhedora e missionária.

43. A Conferência de Aparecida, ao elevar a iniciação à vida cristã à categoria de urgência, recorda que ela, não se esgota na preparação aos sacramentos do Batismo, Confirmação e Eucaristia, mas se refere, principalmente, à adesão a Jesus Cristo. Trata-se de uma catequese de inspiração catecumenal. Nossas comunidades precisam ser mistagógicas, lugar por excelência da catequese, preparadas para favorecer que o encontro com Jesus Cristo se faça e se refaça permanentemente.


46. lugar que a liturgia, celebrada na comunidade dos fiéis, ocupa na ação missionária da Igreja e no seguimento de Jesus Cristo. Sendo intimamente unida ao conteúdo do anúncio (lex orandi, lex credendi), ela “é o ápice para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde emana toda a sua força”. Por isso, “nenhuma atividade pastoral pode se realizar sem referencia à liturgia”. Enfim, ela, fonte de verdadeira alegria (At 2,46), tem um papel fundamental na missão evangelizadora da Igreja, na consolidação da comunidade cristã, e na formação dos discípulos missionários.

51. A Palavra de Deus dirige-se a todos, indistintamente: crianças, jovens, adultos, idosos, e em todas as situações e contextos em que se encontrem. Ouvida e celebrada na comunhão com os irmãos, a Palavra de Deus gera solidariedade, justiça, reconciliação, paz e defesa de toda a criação. O discípulo missionário haverá de reconhecer e testemunhar que a Palavra é de Deus e como tal deve ser acolhida e praticada. Não é o discípulo missionário quem indica à Palavra o que ela deve dizer. Antes, ele mesmo é um ouvinte assíduo da Palavra (Is 50,5; Tg 1,25). O discípulo missionário a acolhe na gratuidade e na alteridade, deixando-se apaixonadamente interpelar.

55. O discípulo missionário de Jesus Cristo, necessariamente, vive sua fé em comunidade (1Pd 2,9-10), em “íntima união ou comunhão das pessoas entre si e delas com Deus Trindade”. Sem vida em comunidade, não há como efetivamente viver a proposta cristã. Comunidade implica convívio, vínculos profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores. A comunidade eclesial acolhe, forma e transforma, envia em missão, restaura, celebra, adverte e sustenta. Ao mesmo tempo em que hoje se constata uma forte tendência ao individualismo, percebe-se igualmente a busca por vida comunitária. Esta busca nos recorda como é importante a vida em fraternidade. Mostra também que o Espírito Santo acompanha a humanidade suscitando, em meio às transformações da história, a sede por união e solidariedade.

83. É necessário desenvolver, em nossas comunidades, um processo de iniciação à vida cristã, que conduza ao “encontro pessoal com Jesus Cristo”, no cultivo da amizade com Ele pela oração, no apreço pela celebração litúrgica, na experiência comunitária e no compromisso apostólico, mediante um permanente serviço ao próximo.


86. Essa mesma inspiração implica, também, uma estreita relação entre a catequese e a liturgia. Ela assume o caráter de eco do mistério experimentado e vivenciado na liturgia e se abre para a missão: “a formação catequética ilumina e fortifica a fé, nutre a vida segundo o espírito de Cristo, leva a uma participação consciente e ativa no mistério litúrgico e desperta para a atividade apostólica”. Por sua vez, a celebração litúrgica, ao mesmo tempo que é atualização do mistério da salvação, requer, necessariamente, uma iniciação aos mistérios da fé. Neste contexto, sobressai a formação litúrgica, em todos os níveis da vida eclesial, num processo mistagógico, integrando na ação ritual o sentido teológico e litúrgico nela expresso. Nessa perspectiva, compreende-se que a melhor catequese litúrgica é a liturgia bem celebrada.
87. A pastoral da liturgia deve conjugar os esforços e as iniciativas necessárias para animar a vida litúrgica de uma comunidade, paróquia, diocese, levando em conta sua realidade histórica, cultural, eclesial, de modo que os cristãos possam tomar parte das celebrações de forma ativa, consciente e plena, e colher dela os frutos espirituais. Isto supõe:
a) formar permanentemente a assembleia litúrgica, dedicando especial atenção aos ministros ordenados e às equipes de celebração;
b) preparar as celebrações, respeitando-se as partes que compõem o rito;
c) realizar com dignidade e competência as ações celebrativas;
d) avaliar a preparação e a realização em busca do crescimento na qualidade das celebrações.

91. A formação dos discípulos missionários precisa articular fé e vida e integrar cinco aspectos fundamentais: o encontro com Jesus Cristo; a conversão; o discipulado; a comunhão; a missão. O processo formativo se constitui no alimento da vida cristã e precisa estar voltado para a missão, que se concretiza no anúncio explícito de Jesus Cristo, vida plena, para todos, em especial para os pobres. A formação não se reduz a cursos. Ela integra a vivência comunitária, a participação em celebrações e encontros, a interação com os meios de comunicação, a inserção nas diferentes atividades pastorais e espaços de capacitação, movimentos e associações.

94. A Igreja, casa da Palavra, valoriza a liturgia como âmbito privilegiado onde Deus fala à comunidade. Nela Deus fala e o povo escuta e responde. Cada ação litúrgica está, por sua natureza, impregnada da Escritura Sagrada.
95. Especial atenção merece a homilia que atualiza a mensagem da Bíblia de tal modo que os fiéis sejam levados a descobrir a presença e a eficácia da Palavra de Deus, no momento atual de sua vida. Ela pode ser “uma experiência intensa e feliz do Espírito, um consolador encontro com a Palavra, uma fonte constante de renovação e crescimento”.

101. Investir na animação bíblica da vida e da pastoral, em agentes e em equipes, leva à instituição e à formação continuada dos ministros e ministras da Palavra. Implica a “necessidade de cuidar, com uma adequada formação, do exercício do múnus de leitor na celebração litúrgica e de modo particular o ministério do leitorado, [...] com capacitação não apenas bíblica e litúrgica, mas também técnica”.
106. A pastoral vocacional se torna prioritária neste novo momento da história da evangelização, colaborando para suscitar e acompanhar vocações para o serviço da comunidade e para a atuação profético-transformadora na sociedade. Destaca-se em seu trabalho o cuidado com as vocações ao ministério ordenado e à vida consagrada e com a constante adequação da formação diaconal e presbiteral, inicial e permanente. Trata-se de suscitar e desenvolver uma verdadeira cultura vocacional nas comunidades, especialmente entre os adolescentes e jovens.
Em Aparecida, os Bispos exprimiram a consciência  de que “o número insuficiente de sacerdotes e sua não equitativa distribuição impossibilitam que muitíssimas comunidades possam participar regularmente na celebração da Eucaristia. Recordando que a Eucaristia faz a Igreja, preocupa-nos a situação de milhares dessas comunidades privadas da Eucaristia dominical por longos períodos de tempo”.


Planejar a pastoral não é um processo meramente técnico. É uma ação carregada de sentido espiritual. Por isto, todo processo precisa ser rezado, celebrado e transformado em louvor a Deus.