Trechos referentes à liturgia:
80.
Toda comunidade cristã se inspira nos quatro elementos distintivos da Igreja
primitiva:
a)
o ensinamento dos apóstolos: a palavra dos apóstolos é a nova interpretação da
vida e da lei a partir da experiência da ressurreição. Os cristãos tiveram a
coragem de romper com o ensinamento dos escribas, os doutores da época, e
passaram a seguir o testemunho dos apóstolos. Eles consideravam a palavra dos
apóstolos como Palavra de Deus (cf. 1Ts 2,13);
b)
a comunhão fraterna: indica a atitude de partilha de bens. Os primeiros
cristãos colocavam tudo em comum a ponto de não haver necessitados entre eles
(cf. At 2,44-45; 4,32; 34-35). O ideal era chegar a uma partilha não só dos
bens materiais, mas também dos bens espirituais, dos sentimentos e da
experiência de vida, almejando uma convivência que superasse as barreiras
provenientes das tradições religiosas, classes sociais, sexo e etnias (cf. Gl
3,28; Cl 3,11; 1Cor 12,13);
c)
a fração do pão (Eucaristia): herança das refeições judaicas, principalmente a
ceia pascal, nas quais o pai partilhava o pão com os filhos e com aqueles que
não tinham nada. Para os primeiros cristãos, a expressão lembrava as muitas
vezes em que Jesus
tinha partilhado o pão com os discípulos (cf. Jo 6,11). Lembrava o gesto que
abriu os olhos dos discípulos para a presença viva de Jesus no meio da
comunidade (cf. Lc 24,30-35). A fração do pão era feita nas casas (cf. At 2,46;
20,7); e
d)
as orações: por meio delas os cristãos permaneciam unidos a Deus e entre si
(cf. At 5,12b), e se fortaleciam na hora das perseguições (cf. At 4,23-31). Os
apóstolos atestavam que não poderiam anunciar bem o Evangelho se não se
dedicassem à oração assídua (cf. At 6,4).
94.
Devido à ressurreição de Cristo, os cristãos são testemunhas da esperança. A
ressurreição é o anúncio central da comunidade que deve viver e testemunhar a
mensagem pascal. Essa experiência é vivida nas liturgias cristãs, que são
pascais. A Igreja, esposa de Cristo, vive da certeza de que um dia habitará na
tenda divina, na casa da Trindade, numa Aliança nova e eterna com Deus (cf. Ap
21, 2-5).
125.
O Concílio reflete sobre a Igreja Particular partindo da Eucaristia e insiste
no valor da Igreja reunida em assembleia eucarística. Ela é fonte e cume de
toda a vida cristã, onde se realiza a unidade do Povo de Deus.41
182.
Na Eucaristia, se estabelecem as novas relações que o Evangelho propõe a partir
da filiação divina que o cristão recebe do Pai em Cristo. A fraternidade é
a expressão da comunhão com Deus e as pessoas. É a fonte inesgotável da vocação
cristã e do impulso missionário. A partir da Eucaristia, cada comunidade cristã
concretiza, em sinais solidários, o seu compromisso com a prática da caridade.
183.
Na Palavra e na Eucaristia, o cristão, nova criatura pelo Batismo, vive numa
nova dimensão, a relação com Deus e com o próximo: a dimensão do amor como
ágape. O próprio Senhor disse que “ninguém tem maior amor do que aquele que dá
a vida por seus amigos” (Jo 15,13). A amizade torna-se, então, expressão do
ágape, centro da caridade cristã. Essa amizade se traduz em compaixão pelos que
sofrem. Os membros da comunidade vivem o compromisso social, especialmente
promovendo a justiça e os direitos humanos, numa evangélica opção pelos pobres
e na prática da ética do cuidado com todos os necessitados da sociedade.
252.
O fundamento da comunidade está na Palavra de Deus e na Eucaristia. A Leitura
Orante da Bíblia e os Círculos Bíblicos são importantes para que a Palavra
determine a caminhada do pequeno grupo. Nessa comunidade podem surgir vocações
para os serviços e ministérios: o cuidado aos doentes, a visita aos migrantes,
a catequese, a celebração da Palavra, o acompanhamento aos enlutados, a
preocupação com os pobres, a preparação ao Sacramento do Batismo e outros.
Igualmente, poderão ser desenvolvidos espaços para celebrar a vida, como a
comemoração dos aniversários e as confraternizações. O apoio nas dificuldades e
a alegria das conquistas pessoais e comunitárias. Esses são alguns exemplos da
riqueza que pode ser desenvolvida nesses pequenos grupos.
274.
Após o Concílio Vaticano II, nas celebrações litúrgicas buscou-se maior
participação da assembleia. Entretanto, algumas experiências têm mostrado que
às vezes se fala demais e se reza pouco. Corre-se o risco de algumas
celebrações serem realizadas sem a espiritualidade devida. Tanto os ministros
ordenados quanto as equipes de liturgia precisam vivenciar o que celebram. De
outra forma, algumas celebrações não remetem ao mistério e reduzem a liturgia
ao encontro das pessoas entre si. Comentários infindáveis, cânticos
desalinhados com a Palavra, homilias longas e a ausência de momentos de
silêncio são alguns dos aspectos que merecem revisão.
275.
Na celebração eucarística, a comunidade renova sua vida em Cristo. A Eucaristia
é escola de vida cristã. A adoração ao Santíssimo Sacramento, o prolongamento
da celebração eucarística,143 educa a comunidade para permanecer unida em
Cristo. É necessário evitar a separação entre culto e misericórdia, liturgia e
ética, celebração e serviço aos irmãos. O Cristo reconhecido na Eucaristia
remete ao encontro e serviço aos pobres.
276.
As comunidades eclesiais que se reúnem em torno da Palavra precisam valorizar o
domingo, o Dia do Senhor, como o dia em que a família cristã se encontra com o
Cristo. O domingo, para o cristão, é o dia da alegria, do repouso e da
solidariedade.144 A celebração eucarística ou a celebração da Palavra é o
momento mais importante da semana daqueles que participam das comunidades.