DEPARTAMENTO DAS CELEBRAÇÕES
LITÚRGICAS
DO SUMO PONTÍFICE
O sacerdote na celebração
eucarística
O Santo Padre Bento XVI
proclamou, como todos sabem, o Ano Sacerdotal (junho de 2009 - junho de 2010),
com ocasião do 150° aniversário do dies natalis do Santo Cura d’Ars.
A intenção é “contribuir para
promover o compromisso de renovação de todos os sacerdotes para um mais forte e
incisivo testemunho evangélico no mundo de hoje” [1]. São João Maia Vianney,
além de representar um modelo de sacerdote, sempre anunciou com clareza e
ênfase a incomparável dignidade do sacerdócio e a centralidade do ministério
ordenado no seio da Igreja. Partindo de seus ensinamentos, o Santo Padre voltou
a propor as seguintes palavras do Santo: “Ó, quão grande é o sacerdote!... Se
ele compreendesse, morreria... Deus o obedece: ele pronuncia duas palavras e
Nosso Senhor desce do céu a sua voz e se deposita em uma pequena hóstia...”. E
também: “Retirado o sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Quem voltou a
colocar no sacrário? O sacerdote. Quem acolheu vossa alma ao entrar na vida?
Quem a nutre para dar-lhe a força de realizar sua peregrinação? O sacerdote.
Quem a preparará para apresentar-se diante de Deus, lavando-a pela última vez
no sangue de Jesus Cristo? O sacerdote. E se esta alma morre [pelo pecado],
quem a ressuscitará, quem lhe devolverá a calma e a paz? Uma vez mais o
sacerdote... Depois de Deus, o sacerdote é tudo!... Ele mesmo não poderia
entender bem a não ser no céu” [2].
Como se vê, São João Maria
identifica a grandeza do sacerdote com referência privilegiada ao poder que ele
exerce nos sacramentos em nome e na Pessoa de Cristo. Bento XVI colocou em
evidência este fato, recordando também outras palavras do Cura d’Ars, que se
referem em particular ao ministério de celebrar a Santa Eucaristia. O Papa
escreve que o Santo “estava convencido de que da Missa dependia todo fervor da vida
de um sacerdote: a causa do relaxamento do sacerdote é que não dedica atenção à
Missa! Deus meu, como há que compadecer de um sacerdote que celebra como se
fizesse uma coisa ordinária!” [3].
O Ano Sacerdotal propões a nossa
reflexão a figura do sacerdote e, em particular, sua dignidade de ministro
ordenado que celebra os sacramentos, em benefício de toda Igreja, na Pessoa de
Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote [4].
Neste Ano Sacerdotal, que se
celebra entre 2009 e 2010, há também outras celebrações que vale recordar,
porque estão intimamente relacionadas com a índole eucarística da dignidade
sacerdotal. Em 1969, o Papa Paulo VI promulgava, com a Constituição Apostólica
Missale Romanum, o novo Missal, preparado após o Concílio Vaticano II. No
presente ano, 2009, portanto, celebram-se 40 anos desta promulgação. Em 2010,
celebrar-se-ão outros dois aniversários, também vinculados diretamente com a
celebração da Eucaristia. O primeiro coincide com o 40° aniversário (1970-2010)
da promulgação da definitiva editio typica (prima) da Institutio Generalis
Missalis Romani. O segundo coincide com o 440° aniversário da promulgação do
Missal atualmente chamado Vetus Ordo o Usus antiquior, promulgado por São Pio V
com a Constituição apostólica Quo primum,de 14 de julho de 1570. Esta
Constituição é recordada, junto ao Missal de São Pio V, desde as primeiras
palavras da mencionada Constituição apostólica Missale Romanum de Paulo VI [5].
Os dois Missais, unidos também
pela celebração de seus respectivos aniversários, são duas formas da única lex
orandida Igreja de Rito latino. A este respeito, expressou-se o Santo Padre
Bento XVI, ensinando que, com relação ao Missal de Paulo VI, “o Missal Romano
promulgado por São Pio V e novamente editado pelo beato João XXIII deve ser
considerado como expressão extraordinária da mesma lex orandi [lei da oração] e
deve ser tido em devida honra por seu uso venerável e antigo. Estas duas
expressões dalex orandi da Igreja não conduzirão de modo algum a uma divisão na
lex credendi [lei da fé] da Igreja; são de fato dois usos do único Rito Romano.
Por isso, é lícito celebrar o sacrifício da Missa segundo a edição típica do
Missal Romano promulgada pelo Beato João XXIII em 1962 e nunca revogado, como
forma extraordinária da Liturgia da Igreja” [6].
A possibilidade de uma serena e
harmônica coexistência das duas formas do único Rito Romano foi, enfim,
indiretamente afirmada também pela coexistência de ambos Ordines Missae (Beato
João XXIII e Paulo VI) dentro do recente Compendium Eucharisticum, publicado
pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos [7].
A coincidência destas diversas
efemérides ditou também o tema que a seção Espírito da Liturgia se propõe a
aprofundar este ano: o do “Sacerdote na Celebração eucarística”. Através destes
breves artigos de periodicidade quinzenal, redigidos por teólogos, liturgistas
e canonistas competentes, tentaremos apresentar de modo claro e acessível o papel
e a tarefa do sacerdote nas diversas partes da Missa, tendo presentes ambos
Missais, dos quais se celebram os aniversários. Desejo que estes artigos possam
ajudar os sacerdotes a aproveitar a oportunidade de reflexão e de conversão
oferecida pelo Ano Sacerdotal, e que possam estimulá-los a um cuidado cada vez
mais atento do ars celebrandi. Esperemos também que as contribuições que se
irão publicando pouco a pouco possam ajudar também o restante dos leitores –
religiosos, religiosas, seminaristas, fiéis leigos – a reconsiderar com maior
atenção e a venerar com profundo respeito religioso a grandeza do Mistério
eucarístico e a dignidade do ministério sacerdotal, além de redescobrir sua
centralidade na vida e na missão da Igreja.
Notas [originais em italiano]
[1] Bento XVI, Lettera di
Indizione dell’Anno Sacerdotale, 16.06.2009.
[2] Ibid.
[3] Ibid.
[4] I presbiteri «esercitano al
massimo grado il loro sacromunusnel culto eucaristico o sinassi, nella quale,
agendo in persona di Cristo [in persona Christi] e proclamando il suo mistero,
uniscono i voti dei fedeli al sacrificio del loro Capo, e nel sacrificio della
Messa rappresentano ed applicano l’unico sacrificio della nuova alleanza, cioè
di Cristo che si offrì al Padre una volta per sempre come Vittima immacolata,
fino alla venuta del Signore»: Concilio Vaticano II, Lumen gentium, n. 28: AAS
57 (1965), p. 34. Cf. anche Presbyterorum Ordinis, nn. 2; 12; 13.
[5] Cf. Paulo VI, Missale
Romanum, 03.04.1969: AAS 61 (1969), p. 217.
[6] Bento XVI, Summorum Pontificum,
07.07.2007, art. 1.
[7] Cf. Congregatio de Cultu
Divino et Disciplina Sacramentorum, Compendium Eucharisticum, LEV, Città del
Vaticano 2009. La preparazione di questo testo era stata affidata direttamente
dal Santo Padre, che ne aveva dato notizia nella Esortazione apostolica
post-sinodale Sacramentum Caritatis, 22.02.2007, n. 93.