Reflexão Teológica e Eclesial sobre o Reino de Deus em Lucas 13,18-21, com Base no Magistério da Igreja


Introdução

No Evangelho de Lucas, Jesus compara o Reino de Deus com a semente de mostarda e o fermento na massa, imagens que, embora simples, ilustram poderosamente a essência do Reino: algo que começa pequeno e discreto, mas possui a força de transformar e acolher grandemente. Esta reflexão sobre Lucas 13,18-21, guiada pelo Magistério da Igreja, oferece uma compreensão mais profunda sobre a natureza do Reino de Deus, sua expansão e a responsabilidade de cada cristão em colaborar para seu crescimento.

A tradição da Igreja nos dá as bases para compreender essa passagem não apenas como uma metáfora, mas como um chamado à ação pastoral e ao compromisso de construir o Reino. Documentos como a Lumen Gentium (LG), Evangelii Gaudium (EG) e Redemptoris Missio (RM) são ricos em referências ao papel do fiel na vida do Reino, proporcionando orientações sobre a responsabilidade individual e comunitária na propagação deste Reino de Deus.

Capítulo 1: O Reino de Deus como Realidade que Cresce no Oculto

Na comparação com a semente de mostarda e o fermento, Jesus mostra que o Reino começa de forma quase imperceptível, mas contém em si o poder para crescer e transformar tudo ao seu redor. Em Lumen Gentium, o Concílio Vaticano II afirma que “o Reino de Deus já está misteriosamente presente na terra” (LG 3), mas cabe à Igreja a tarefa de ser um sinal visível desse Reino, revelando-o com a mesma humildade da semente que cresce aos poucos e da força do fermento que age em silêncio.

Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, também destaca essa dimensão oculta e paciente do Reino ao dizer que “o Reino já está presente, cresce em silêncio, no meio de nós” (EG 278). Esse crescimento exige, por parte do cristão, uma fé robusta e uma esperança confiante de que, embora não se veja imediatamente o resultado, o Reino está se expandindo, como a semente que rompe o solo e cresce para se tornar uma grande árvore.

Capítulo 2: O Papel da Comunidade Cristã no Crescimento do Reino

O Reino de Deus não é uma realidade que se vive individualmente; ele chama todos os fiéis a uma vida comunitária. A árvore que cresce a partir da semente de mostarda acolhe as aves do céu, simbolizando a inclusão e acolhida, valores centrais do Evangelho. A Igreja, portanto, é chamada a ser este lugar de acolhida e fraternidade.

O Papa João Paulo II, na Redemptoris Missio, descreve a missão evangelizadora da Igreja como o chamado a “plantar e fazer crescer a semente do Reino” (RM 9). Ele enfatiza que a Igreja, em seu papel missionário, deve “lançar-se ao mundo como sinal de salvação” (RM 9), acolhendo e promovendo a comunhão, de modo que cada pessoa, em sua diversidade, possa encontrar abrigo e esperança.

Dessa maneira, a parábola da semente de mostarda nos recorda que, embora o Reino comece pequeno, ele cresce a partir da nossa comunhão e partilha, acolhendo cada pessoa como membro da família de Deus. E como indica o Papa Francisco, a Igreja deve ser “uma mãe de coração aberto” (EG 46), pronta para acolher todos que buscam refúgio nos ramos do Reino.

Capítulo 3: O Fermento da Evangelização na Vida Cristã

Jesus compara o Reino também ao fermento que uma mulher mistura na massa até que tudo esteja fermentado. Essa comparação destaca o poder do Reino de transformar tudo o que toca, mesmo quando não visível a olho nu. Como fermento que permeia a massa, o Reino de Deus transforma a cultura, a sociedade e cada pessoa individualmente.

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a Igreja é chamada a ser “o sacramento universal da salvação” (CIC 776), permeando o mundo com os valores do Reino, transformando e santificando a realidade secular. Essa transformação, tal como o fermento, ocorre no dia a dia, nas pequenas ações de cada cristão.

O Papa Paulo VI, na Evangelii Nuntiandi, reafirma que “a transformação interior da humanidade é uma realidade silenciosa e misteriosa” (EN 18). É no empenho constante de cada fiel, em suas ações e testemunho de vida, que o Reino se torna visível e ativa sua capacidade transformadora, tocando o mundo ao redor e promovendo a justiça, o amor e a paz.

Conclusão

As parábolas da semente de mostarda e do fermento revelam que o Reino de Deus é uma realidade dinâmica, em crescimento constante, e que depende da colaboração ativa de cada cristão. A Igreja, como comunidade e sinal visível do Reino, é chamada a acolher, como a grande árvore, e a transformar, como o fermento na massa. Essa vocação requer confiança no poder de Deus, que age nas pequenas ações e nas escolhas cotidianas de cada fiel.

Conforme o Papa Francisco expressa, o Reino é “um projeto de vida e missão” (EG 180), que exige dos cristãos uma vida de compromisso e testemunho. Somos todos chamados a ser sementes e fermento no mundo, vivendo o amor de Cristo e espalhando a Boa Nova.


Compêndio de Citações do Magistério sobre o Tema

  1. Lumen Gentium (LG): “O Reino de Deus já está misteriosamente presente na terra; mas ao chegar o Senhor, atingirá a perfeição” (LG 3).

  2. Evangelii Gaudium (EG): “O Reino de Deus já está presente, cresce em silêncio, no meio de nós” (EG 278); e ainda, “a Igreja deve ser uma mãe de coração aberto” (EG 46).

  3. Redemptoris Missio (RM): “A missão da Igreja é plantar e fazer crescer a semente do Reino” (RM 9).

  4. Catecismo da Igreja Católica (CIC): “A Igreja é o sacramento universal da salvação” (CIC 776).

  5. Evangelii Nuntiandi (EN): “A transformação interior da humanidade é uma realidade silenciosa e misteriosa” (EN 18).

Essas citações ilustram o papel do cristão e da Igreja na expansão do Reino de Deus, enfatizando uma fé ativa, paciente e comprometida com a missão transformadora no mundo